sexta-feira, junho 07, 2013

Combate à inflação relega risco cambial a segundo plano - JOSÉ PAULO KUPFER

O Estado de S.Paulo - 07/06

Não é necessário, desta vez, convocar especialistas em "coponês" - o idioma com o qual o Banco Central redige suas comunicações públicas - para traduzir a mensagem contida na ata daquela reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que, na semana passada, surpreendeu a praça com uma alta de 0,5 ponto na taxa básica de juros (taxa Selic). Ficou suficientemente claro que o BC decidiu, a partir de agora, concentrar as ações de política monetária na reversão das tendências inflacionárias.

Como mencionado por analistas, a "cautela" no acompanhamento da dinâmica inflacionária, palavra-chave das atas anteriores, deu lugar ao entendimento de que se tornou apropriada a "intensificação do ritmo de ajuste das condições monetárias". Não restaram dúvidas de que os juros básicos subirão mais e mais rápido do que anteriormente projetado.

Aumentos de 0,5 ponto, em julho, e de 0,25 ponto, em agosto, estacionando em 8,75% ao ano, de fato, passaram a indicar, depois da ata, um piso para o ciclo de alta da Selic em 2013. Apostas na extensão do ciclo, levando a Selic a 9% ou mesmo 9,5% no ano, ainda não majoritárias, já não são nada raras.

A ata também não esconde o temor do BC com os fantasmas da reindexação, alimentada pela permanência da inflação em níveis altos e por tempo prolongado. E vê que as pressões inflacionárias vigentes - localizadas no ritmo de avanço da demanda doméstica acima do passo observado pelo PIB, no mercado de trabalho aquecido e em ações de política econômica, sobretudo no lado fiscal, que tendem a estimular a demanda -, se persistirem, podem produzir "danos à tomada de decisões sobre consumo e investimento".

Não bastasse a sinalização de altas na taxa Selic, uma menção direta à "maior volatilidade e de tendência de apreciação do dólar dos Estados Unidos", indica opção do BC por uma política cambial que opere no sentido de valorizar o real, transferindo aos preços impulsos deflacionários. Os riscos potenciais dessa opção - aumentos nos déficits em contas correntes - foram relegados agora a um segundo plano.

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