quarta-feira, dezembro 21, 2011

Crime além-mar - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 21/12/11

Roberto Gurgel, procuradorgeral da República, vai remeter à Justiça de Lisboa cópia integral da ação de homicídio proposta pela promotoria de Saquarema, RJ, contra o ex-deputado português Domingos Duarte Lima. Duarte, que, por força de tratado de extradição, responderá a processo em seu país, é acusado pela Justiça brasileira de matar, em dezembro de 2009, no balneário fluminense, a também portuguesa Rosalina da Silva, então com 74 anos, herdeira de herança milionária no Brasil.

Segue...

Em Portugal, o caso é manchete frequente no noticiário. Duarte está preso em seu país desde 17 de novembro, mas por outro motivo: é acusado de “fraude fiscal, falsificação de documentos, burla, tráfico de influências” e teria “surrupiado mais de 40 milhões de euros no escândalo do rombo do Banco Português de Negócios”.

AeroBaixinho

Romário, o ex-craque que agora é deputado federal, comprou um jatinho de oito lugares, novo em folha.

Luz

A direção de Furnas assina amanhã, em Brasília, contrato de financiamento parcial do BID para projetos de modernização de usinas em Minas e São Paulo, no valor de até US$ 128,7 milhões. É a primeira estatal federal de energia a obter esta modalidade de financiamento.

Banho turco

A Turkish Airlines deve começar a operar um voo direto Istambul- Rio em março de 2012.

Mart’nália e Djavan
Mart’nália, nossa cantora, está trancada no estúdio de Djavan, que produz seu novo CD, para finalizar o trabalho, que será lançado em março. Hoje e amanhã, põe voz nas duas últimas faixas. Dia 22, vai mixar o disco com Djavan.

AQUI JAZ ESTE pobre cotoco (veja ao lado), que até outro dia era o frondoso ipê-rosa da foto acima, Deus o tenha. A árvore, xodó da coluna, exibia formosura em frente ao clube Monte Líbano, na Lagoa. Foi ceifada pela Comlurb porque um laudo constatou que estava doente. Florida, parecia saudável, mas sofria de “declínio vegetativo, (...) infestada por agente patogênico”. Em seu lugar, a Comlurb promete plantar uma muda saudável. Vamos torcer, vamos cobrar

Novos livros
A Biblioteca Nacional finalizou uma seleção de 2.703 bibliotecas em 1.714 municípios que vão receber, em 2012, R$ 37 milhões para recompor seus acervos. O dinheiro sairá já no início do ano. As bibliotecas receberão de R$ 4 mil a R$ 96 mil e, pela primeira vez, poderão comprar os livros que escolherem e onde quiserem.

‘True blood’

Chega às livrarias em fevereiro “Surpresa do Além”, da americana Charlaine Harris, autora dos livros que inspiraram o seriado “True blood”. É o segundo romance da série “Harper Connelly Mysteries”. O primeiro, “Visão do além”, lançado em 2011 no Brasil pela Lua de Papel, já vendeu mais de 40 mil exemplares e sua adaptação para a TV é prevista para 2012.

Inédito de Ruy Castro

Ruy Castro conclui um novo romance, ainda sem título. Sai em 2012 pela Objetiva.

Joga fora no lixo
O filho de uma famosa cantora pediu à prefeitura do Rio licença para construir uma galeria de arte numa vila em Ipanema. Licença concedida, o rapaz, em vez da galeria, começou a montar... um restaurante. A Secretaria de Urbanismo multou e embargou. Mas, quando os fiscais foram embora, a obra recomeçou a todo vapor.

Aí...

Segundo o secretário Sérgio Dias, isto se repetiu várias vezes: os fiscais multavam e, quando saíam, a obra recomeçava. Até que, ontem, Dias chamou a polícia, e os operários foram presos. O rapaz “se escondeu”.

Furtos na Rocinha

Não é só o comércio da Rocinha que tem sido assaltado. Há registros de furtos nas casas. Semana passada, levaram uma TV de 29 polegadas de uma moradora na parte alta da favela. Não foi o primeiro caso.

O outro lado

Jorge Roberto Silveira, prefeito de Niterói, diz que não foi vaiado num restaurante japonês da Região Oceânica de sua cidade, como saiu aqui ontem: — Na única vez em que fui vaiado, tinha 15 anos, e foi merecido, pois perdi um pênalti na final do campeonato escolar.

Bloco pirata

O Cordão da Bola Preta ganhou ação na Justiça contra uma empresa que... pirateava a marca do bloco, acredite. A 1a- Vara Empresarial do Rio mandou apreender os produtos piratas que a tal empresa fabricava e a condenou a indenizar o verdadeiro Bola Preta.

No mais
Com a liminar que tira do CNJ o poder de punir malfeitos de juízes, o ministro Marco Aurélio Mello pode estar escrevendo seu nome na história do Judiciário como aquele que, mesmo involuntariamente, ajudou a manter a impunidade de alguns colegas. É pena.

Ministro do Supremo beneficiou a si próprio ao paralisar inspeção

FOLHA DE SP - 21/12/11

RICARDO LEWANDOWSKI, QUE CONCEDEU LIMINAR CONTRA CORREGEDORIA,
RECEBEU PAGAMENTOS SOB INVESTIGAÇÃO

Ministro atuava no Tribunal de Justiça de São Paulo antes de ir para o STF e não vê problema em conduta

Mônica Bergamo

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), está entre os magistrados que receberam pagamentos investigados pela corregedoria do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) no Tribunal de Justiça de São Paulo, onde ele foi desembargador antes de ir para o STF.

Lewandowski concedeu anteontem uma liminar suspendendo a investigação, que tinha como alvo 22 tribunais estaduais. O ministro atendeu a um pedido de associações como a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), que alega que o sigilo fiscal dos juízes foi quebrado ilegalmente pela corregedoria, que não teria atribuição para tanto.

Por meio de sua assessoria, Lewandowski disse que não se considerou impedido de julgar o caso, apesar de ter recebido pagamentos que despertaram as suspeitas da corregedoria, porque não é o relator do processo e não examinou o seu mérito.

A liminar que ele concedeu suspende as inspeções programadas pelo CNJ e permite que o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, volte a examinar a questão em fevereiro, quando o STF voltará do recesso de fim de ano.

A corregedoria do CNJ iniciou em novembro uma devassa no Tribunal de Justiça de São Paulo para investigar pagamentos que alguns magistrados teriam recebido indevidamente junto com seus salários e examinar a evolução patrimonial de alguns deles, que seria incompatível com sua renda.

Um dos pagamentos que estão sendo examinados é associado a uma pendência salarial da década de 90, quando o auxílio moradia que era pago apenas a deputados e senadores foi estendido a magistrados de todo o país.

Em São Paulo, 17 desembargadores receberam pagamentos individuais de quase R$ 1 milhão de uma só vez, e na frente de outros juízes que também tinham direito a diferenças salariais.

Lewandowski afirmou, ainda por meio de sua assessoria, que se lembra de ter recebido seu dinheiro em parcelas, como todos os outros.

O ministro disse que o próprio STF reconheceu que os desembargadores tinham direito à verba, que é declarada no Imposto de Renda. Ele afirmou que não entende a polêmica pois não há nada de irregular no recebimento.

A corregedoria afirmou ontem, por meio de nota, que não quebrou o sigilo dos juízes e informou que em suas inspeções "deve ter acesso aos dados relativos à declarações de bens e à folha de pagamento, como órgão de controle, assim como tem acesso o próprio tribunal".

No caso de São Paulo, a decisão do Supremo de esvaziar os poderes do CNJ suspendeu investigações sobre o patrimônio de cerca de 70 pessoas, incluindo juízes e servidores do Tribunal de Justiça.

Liminar concedida anteontem pelo ministro Marco Aurélio Mello impede que o conselho investigue juízes antes que os tribunais onde eles atuam analisem sua conduta -o que, na prática, suspendeu todas as apurações abertas por iniciativa do CNJ.

No caso de São Paulo, a equipe do conselho havia começado a cruzar dados da folha de pagamento do tribunal com as declarações de renda dos juízes. O trabalho foi paralisado ontem.

Ministro do STF deu liminar que o beneficia

Lewandowski, que vetou ação do CNJ, é um dos que receberam valor investigado

O ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski está entre os magistrados do Tribunal de Justiça de São Paulo que receberam pagamentos que estavam sob investigação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Antes de ir para o STF, ele foi desembargador na corte paulista.

Anteontem, último dia antes do recesso, o ministro atendeu a pedido de associações de juízes e deu liminar sustando a inspeção.

Por meio de sua assessoria, Lewandowski disse que, apesar de ter recebido os recursos, não se sentiu impedido de julgar porque não é o relator do processo e não examinou o mérito – apenas suspendeu a investigação até fevereiro.

Expulsões na USP - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 21/12/11


Pela primeira vez, em dez anos, a Universidade de São Paulo (USP) aplicou a punição administrativa no grau máximo, expulsando alunos que, sob pretexto de realizar manifestações de protesto e deflagrar greves, invadiram dependências da instituição, quebraram computadores e destruíram milhares de prontuários. O vandalismo ocorreu em 2010, quando salas da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) foram ocupadas por um grupo que reivindicava melhoria das condições de moradia e aumento do número de vagas no Conjunto Residencial da USP, na Cidade Universitária.

Depois da baderna, a Reitoria abriu um processo administrativo contra 13 alunos, dos quais 6 foram expulsos, 5 foram absolvidos por falta de provas e 2 foram julgados culpados, mas nada sofrerão pois não mais estudam na USP. Dos 6 alunos expulsos, 2 cursavam a Escola de Comunicação e Artes (ECA) e 4 a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Com 88,9 mil alunos, a USP tem 42 unidades - das quais a ECA e a FFLCH são aquelas que mais se envolvem em movimentos de protesto.

Reagindo à rigorosa aplicação das normas que regem a maior Universidade do País, os dirigentes de centros acadêmicos acusaram o reitor Grandino Rodas de perseguição política e afirmaram que as expulsões foram autoritárias, por terem sido baseadas num regimento introduzido por um decreto da época da ditadura militar. A crítica não procede. O regimento da USP data de 1990 - em plena democracia. "Os que imaginam que o fundamento legal não vale poderão contestá-lo judicialmente e tentar a anulação das penas", diz o reitor. Ele também afirma que as expulsões foram decididas com base em provas inequívocas e lembra que teria incorrido em crime de responsabilidade se não tivesse aberto sindicância para apurar os prejuízos decorrentes da ocupação da Coseas.

Aliás, foi também na FFLCH que começou, em novembro passado, a última onda de protestos contra a Reitoria, depois que 3 alunos foram presos em flagrante fumando maconha no estacionamento. Alegando que a Cidade Universitária é "território livre" e criticando o convênio firmado pela USP com a Polícia Militar para garantir a segurança no câmpus, uma minoria de estudantes promoveu piquetes, realizou passeatas e deflagrou mais uma greve. Mesmo sabendo das consequências de suas faltas, vários alunos da unidade aderiram ao protesto. Ao divulgar na semana passada as notas da disciplina de Filosofia Contemporânea, o professor Carlos Alberto Ribeiro de Moura reprovou por falta os 60 alunos que, por terem aderido à greve, não compareceram ao número regulamentar de aulas.

"O cálculo de frequência em disciplinas deve levar em conta a totalidade do semestre letivo. Aulas não ministradas em função de piquetes são computadas como dadas e não frequentadas. As aulas foram interrompidas antes de se completar o mínimo exigido e os alunos foram avisados sobre isso", disse Moura. Os reprovados anunciaram que irão recorrer, mas membros dos órgãos colegiados da FFLCH reconhecem que a reprovação por falta está prevista no regimento.

Embora não exista um levantamento oficial, estima-se que, nos últimos 17 anos, as greves pararam a USP por cerca de 400 dias - o equivalente a dois anos letivos. Em várias paralisações, estudantes e funcionários exorbitaram, desacatando autoridades, invadindo prédios administrativos, promovendo quebra-quebra e se recusando a cumprir ordens judiciais. Nos últimos anos, contudo, alguns professores começaram a reagir contra a baderna praticada por minorias vinculadas a micropartidos de esquerda radical, classificando o "invasionismo" como uma modalidade de fascismo. No único comentário político que fez, o professor Ribeiro de Moura afirmou que os alunos da USP não podem pretender ser tratados como crianças, presumindo-se que têm consciência de que quem faz greve sabe avaliar a consequência de sua decisão. Assim, também no caso da decisão da Reitoria, os 6 alunos deviam saber o que ocorre a quem, além de desrespeitar a lei e desprezar o regimento, destrói o que pertence à coletividade.

Aula de cinema - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 21/12/11
Covardia não é palavra que me defina, mas fujo de brigas. Se pressinto que vou me incomodar, desapareço pela porta. De certa forma, isso explica por que, desde os primeiros comentários que li sobre o novo filme de Almodóvar, resolvi que não iria assistir, mesmo sendo sua fã assumida. Bizarro, grotesco, chocante, era o que eu ouvia a respeito de A Pele que Habito.

Tudo indicava que era um filme soturno. Uma amiga chegou a sair antes de terminar. Pensei: neste fim de ano, investirei em levezas, e não no que pode me atingir feito um chumbo. Não vou. Verei no DVD mais adiante, bem mais adiante.

Até que minha filha, no dia em que passou no vestibular para Cinema, me convidou para assistir à nova obra do espanhol com ela. Poderia estar comemorando com os amigos em algum bar, mas quis saudar a nova etapa do seu jeito – e me senti honrada em ser sua convidada exclusiva.

Pois bem. A Pele que Habito é bizarro, grotesco, chocante, soturno e muito mais. E é este muito mais que o torna imprescindível para acordarmos do marasmo, seja no fim do ano, no início ou no meio. A vida intelectual nos tem sido servida em bandeja de prata, parece proibido causar desconforto.

A arte continua sendo vital, mas não tem sido viral. Não nos desacomoda da cadeira, não perturba, não assombra, não nos faz perguntar qual terá sido o truque. Os truques estão vindos todos explicados no rodapé.

Já Almodóvar perturba, assombra, provoca e fascina, sem nos dar um minuto para respirar. E essa quantidade de reações é que torna A Pele que Habito uma lição de cinema para todos, não só para os bixos da faculdade. Está tudo ali, grandioso como a tela exige: o roteiro inventivo e insano, a direção magistral, a fotografia espetacular.

O superlativo assumido, ainda que a estética kitsch que o caracterizou em outras obras esteja cada vez mais refinada – mas nunca refinada a ponto de se tornar palatável. O indigesto que Almodóvar oferece é uma iguaria da qual nós, famintos por nonsense, famintos por entranhas, famintos por magia, precisamos para nos alimentar – também.

Podem parecer disparatadas essas minhas argumentações, mas ficou evidente, ao sair do cinema, o quanto é necessário abandonarmos nossa zona de conforto para enfrentarmos o absurdo, para desmascarar tudo que existe de secreto e indizível que nos revoluciona por dentro, e dentro se mantém encarcerado.

A arte serve para isso – dar voz ao incômodo. Há quem faça filmes de terror de maneira crua e explícita, sem utilizar todos os recursos que o bom cinema oferece. Não é o caso de Almodóvar, que sempre faz uma empolgada declaração de amor ao seu ofício, ao mesmo tempo que dá um tremendo crédito ao seu espectador: ele realmente acredita na ausência de covardes na plateia.

Aproveite o último dia da primavera de 2011. Amanhã começa o nosso verão. Lindo dia pra você.

Repaginada - SONIA RACY

O ESTADÃO - 21/12/11
A Prefeitura refez a PPP da Saúde para reforma e construção de hospitais em São Paulo. Orçada em R$ 1,2 bilhão, geroupreocupação na iniciativa privada pela falta de proteção, caso o poder público não cumprisse o prometido.

Na nova versão, as garantias foram reformadas e, em caso de ‘pane’, o consórcio vencedor poderá sacar dinheiro de fundo garantidor. Formatado de acordo com recomendações do BNDES.

Hoje sai o novo edital.

Mamãe Noel
Dilma convidou líderes da base aliada para jantar hoje no palácio da Alvorada.

Mandou montar até árvore de Natal com laçarote, bolas, pisca-pisca e estrela na ponta.

Eu fico
Ricardo Tripoli considera fato superado o episódio que quase levou seu novo cabo eleitoral Walter Feldman a deixaro PSDB. “Feldmancontinuará no partido.”

Surto de humor
Diante da ausência da ascensorista, Zé Aníbal assumiu ontem os botões do elevador no Cidade 3, convidando funcionários a entrar. “Mudei de emprego, não mudei de prédio... é só subindo. Quem vai, quem vai?”. Seus assessores caíram na gargalhada.

Deve ser o fim de ano....

Comemorando
O Mirabela, grupo australiano, decidiu: vai investir mais US$ 60 milhões no Brasil até o fim de 2012. Sua mina de níquel na Bahia registrou nada menos que 36% de aumento na produção deste ano.

Pelas lentes
Silvana Tinelli voltou a fotografar. Preparou presente exclusivo para clientes de sua agência, a nova/sb: ampliações de imagens capturadas por ela durante viagens pelos quatro cantos do mundo.

Entre as cidades clicadas pela fotógrafa, Paris, Veneza e Fernando de Noronha.

De novo, não!
Aestratégia,já definida, de dividir o elenco em 2012 para disputar Paulistão e Libertadores, deixou parte da diretoria corintiana irritada. “Foi o que fizemos este ano. E veja só no que deu!”, reclamou um conselheiro à coluna.

O Timão perdeu os dois campeonatos –com direito a vexame contra o Tolima.

Fase 2
Tudo certo com os múltiplos órgãos antitrust, Marco Bologna parte para tocar a segunda fase da fusão LAN/TAM. “Vamos 
focar na oferta pública de ações, que precisa da aprovação da CVM, da SEC americana e do órgão correspondente chileno”, explica o diretor-presidente do holding da TAM .

A operação deve sair no fim do primeiro trimestre de 2012.

Martelo Batido
Sharon Stone será a “chairwoman” da segunda edição da amfAR (Fundacão para a Pesquisa da Aids) no Brasil. E Mario Testino, o homenageado.

A noite de gala está marcada para 26 de abril, na casa de Dinho Diniz, em São Paulo.
Cantei, cantei 

Surpresa no especial de fim de ano da Turma da Mônica, na Globo. A última canção do musical será interpretada por... Mauricio de Sousa.

“Porrr quê”?

Só vai dar paulistano no réveillon carioca. Segundo pesquisa da Associação de Hotéis do Rio de Janeiro, 96,57% dos quartos de hotéis já estãovendidos –44% para brasileiros, sendo a maior parte deles de São Paulo.

Vamos lá?

Andrew Parsons, do Comitê Paraolímpico Brasileiro, quer que times grandes, como Corinthians, São Paulo e Flamengo, abracem a causa. Para aumentar o interesse dos torcedores pelo esporte praticado por portadores de deficiência no Brasil.

Na frente
• Manoel Tavares, Rubens Zogbi e Gutti Camargo inauguram dia 28, a Kiss&Fly e o Buddha Sushi. Vão funcionar no complexo do Casa Grande Hotel Resort & Spa até o fim da temporada deverão.
• Carla Pernambuco promove hoje, no Studio 768, a festa de encerramento do programa O Aprendiz.
• Mario Fleck, da Rio Bravo, foi eleito presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo.
• Zaida Siqueira abre mostra e lança livro. Hoje, no Museu da Energia de São Paulo.
• Nos is: recursos do convênio de Assistência Judiciária, hoje são geridos pela Defensoria Pública, devem ser destinados à Secretaria de Justiça se o PL 65/2011 for aprovado.

Repasses ao BNDES: cornucópia? - MÁRCIO G. P. GARCIA

VALOR ECONÔMICO - 21/12/11

Foi divulgado pelo IPEA o texto para discussão nº 1.665, intitulado "Mensurando o resultado fiscal das operações de empréstimos do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES): custo ou ganho líquido esperado para a União?". O instigante estudo contrapõe-se a diversas manifestações, dentre as quais uma coluna que aqui escrevi há pouco mais de um ano, contrárias às vultosas transferências de recursos do Tesouro ao BNDES que vêm sendo feitas desde 2009, hoje totalizando quase um quarto de trilhão de reais.

O estudo chega à surpreendente conclusão de que, computados os benefícios de geração de investimento adicional e renda, no curto e no longo prazos, os empréstimos do Tesouro em 2009 e 2010 ao BNDES, que somaram R$ 180 bilhões, geraram ganho fiscal líquido de R$ 100 bilhões, em valor presente.

Para chegar ao ganho de R$ 100 bilhões, os autores primeiro estimaram os custos do subsídio implícito no empréstimo, pois o Tesouro empresta ao BNDES à TJLP (hoje em 6%), enquanto capta dívida, grosso modo, à taxa Selic (hoje em 11%). Em seguida, estimam um ganho fiscal de curto prazo, oriundo do aumento do produto e da renda que teria ocorrido em decorrência dos empréstimos do BNDES viabilizados com os recursos da União. Somam ao ganho fiscal um componente de longo prazo, supostamente oriundo dos efeitos dos investimentos financiados pelo BNDES sobre o crescimento da economia. O custo fiscal é estimado em R$ 50 bilhões, enquanto os ganhos em R$ 150 bilhões, daí resultando o ganho líquido de R$ 100 bilhões.

A parte inicial do estudo é a estimação dos custos diretos do subsídio implícito no empréstimo de R$ 180 bilhões. Tal cálculo envolve muitos detalhes e suposições. Infelizmente, os autores não divulgam apêndices contendo os dados fundamentais para que se possa avaliar quão razoáveis são as hipóteses adotadas. Os resultados finais das estimativas indicam que o custo fiscal direto do empréstimo da União ao BNDES (o subsídio implícito no empréstimo) seria de 28% dos R$ 180 bilhões, ou R$ 50 bilhões.

Para avaliar se tais valores são ou não razoáveis, sem dispor dos dados usados no estudo, pode-se fazer uma conta simples, supondo-se que o custo da dívida pública se mantivesse igual à taxa Selic do momento em que o estudo foi feito (7/7/2010), 10,25%, bem como a TJLP também ficasse constante em 6%. Obviamente, tal cálculo é uma aproximação grosseira, mas serve bem para avaliar, em princípio, os resultados do artigo. A tabela mostra qual seria o subsídio (perda) do empréstimo da União ao BNDES. Dado que os empréstimos são de prazos entre 30 anos e 40 anos, a conclusão é a de que os cálculos parecem subestimar em larga medida o custo fiscal do empréstimo. Uma análise mais profunda requer que os autores tornem disponíveis os dados usados.

Mas a parte mais problemática do artigo está na estimação dos ganhos de receita fiscal supostamente advindos dos efeitos dos empréstimos do BNDES sobre o aumento do investimento. Os autores reconhecem que parte dos investimentos financiados pelo BNDES teria recebido crédito de outras fontes, caso o subsidiado não tivesse existido. Portanto, é preciso estimar quanto do investimento financiado pelo BNDES deixaria de ser realizado, caso os empréstimos subsidiados não tivessem sido viabilizados pelos recursos do Tesouro. Para isso, contudo, recorrem a um instrumental econométrico inadequado. As técnicas usadas para estimar os coeficientes utilizados pelos autores nas simulações não tratam devidamente os problemas de endogeneidade econométrica, que permeiam regressões em macroeconomia. Técnicas que levam tais problemas em conta, desenvolvidas em grande parte pelos ganhadores do Nobel de Economia deste ano, Sargent e Sims, estão disponíveis há algum tempo e deveriam ser usadas.

Afinal, como se explica que, apesar de grande aumento de desembolsos do BNDES, a participação do investimento no PIB não conseguiu sequer atingir modestos 20%, no período recente?

Mas não param aí as falhas do estudo. Uma vez estimados (ainda que erradamente) os efeitos dos empréstimos do BNDES sobre o quantum do investimento, os autores prosseguem com análises baseadas em modelos keynesianos antiquados que supõem implicitamente que a economia não esteja em pleno emprego (uma boa hipótese em 2009, mas não a partir de 2010). Alguns dos coeficientes também são muito otimistas, contribuindo para inflar os ganhos fiscais. Na forma atual, as estimativas realizadas não são válidas e não podem ser usadas como base para prescrições de política econômica.

O estudo também passa ao largo de importantes temas que nenhum banco deveria deixar de considerar, como a quantificação da inadimplência. Tampouco menciona que parte dos empréstimos do BNDES foi usada para compra de empresas, aqui e no exterior, sem qualquer ganho fiscal. Finalmente, o estudo considera como ganho fiscal os dividendos pagos pelo BNDES ao Tesouro. Tal prática constitui forma espúria de gerar superávit fiscal com base em aumento da dívida pública, distorcendo as estatísticas fiscais e prejudicando o bom ordenamento das contas públicas.

Uma reflexão final: se os R$ 180 bilhões de empréstimos da União ao BNDES gerassem um ganho fiscal de R$ 100 bilhões, além de fomentar o investimento, o emprego e a renda, a prescrição óbvia de política econômica deveria ser aumentar ao máximo os repasses ao BNDES. O fato de os autores não se atreverem a colocar no papel tal prescrição é um forte indício de que talvez não confiem tanto nos resultados. Nisso eles têm razão. Não deveriam.

Márcio G. P. Garcia - PhD por Stanford e professor do Departamento de Economia da PUC-Rio.

Incertezas - REGINA ALVAREZ

O GLOBO - 21/12/11


Os números do emprego formal divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, que mostram um novembro fraco, com a criação de apenas um terço dos postos de trabalho em relação ao mesmo período de 2010, são mais um sinal de desaceleração da economia. As demissões na indústria reforçam o inferno astral desse segmento tão importante e refletem o estado de espírito do empresariado, reticente em relação ao futuro.

A crise externa já nos afeta de várias formas e o cenário lá fora é de grande incerteza, o que leva as empresas a apertar os cintos. O empresário não vê motivos para investir e ofertar mais vagas, principalmente na indústria, onde a ociosidade está alta, falta mão de obra especializada e os custos subiram. “A percepção do risco aumentou, porque está mais difícil fazer previsões para o ano que vem. Um cenário muito difuso aumenta a percepção de risco, aumenta a desconfiança do empresário”, observa o economista André Perfeito, da Corretora Gradual.

Ele vê nos números do emprego um sinal de que, além da desaceleração esperada da economia, decorrente das medidas de contração do crédito e cortes no Orçamento promovidos pelo governo, o mercado de trabalho está sendo afetado pelas expectativas do empresariado em relação ao futuro, que não são nada animadoras.

Diante desse quadro de tantas incertezas, aumenta o peso e o papel do governo nesse esforço para estimular a atividade econômica e impedir que a crise externa nos carregue ladeira abaixo.

O governo aposta na redução da taxa de juros como forma de reativar a economia, mas a queda da Selic precisa chegar ao consumidor final, o que depende da percepção do mercado sobre os riscos futuros. Se as incertezas aumentarem, se o cenário externo permanecer confuso, a tendência é que o prêmio de risco também aumente e as taxas subam, ao invés de caírem. No plano interno, o quadro fiscal pode ser um complicador, destaca Perfeito. “O governo não fez ajuste fiscal este ano pela redução de gastos, mas com o aumento do PIB. Se o PIB cai, o mercado vai reagir e subir os juros, prevendo um resultado fiscal ruim futuro.”

Sintonia fina é a palavra de ordem para enfrentar a crise, na visão de Luiz Otávio Leal, do Banco ABC Brasil. Na opinião do economista, o governo precisa ser proativo, adotando medidas de incentivo para estimular os setores mais afetados pela crise, mas não pode errar a mão: “Se exagerar nas isenções fiscais vai ficar difícil administrar a área fiscal”.

Emprego I
O economista Rafael Bacciotti, da Tendências, confirma que os números divulgados pelo governo sobre emprego refletem a desaceleração da economia. “O mercado de trabalho demorou, mas agora já sente a desaceleração”, afirma. Bacciotti prevê que esse mercado continuará crescendo em 2012, mas em ritmo moderado. Estima que a taxa média de desemprego ficará em 6% em 2011 e em 5,8% no ano que vem. José Márcio Camargo, da PUC-Rio, prevê crescimento fraco em 2012, o que deve afetar o emprego.

Emprego II
O IBGE divulga hoje a pesquisa que mede a taxa de desemprego nas capitais. A consultoria Tendências estima que a desocupação, atualmente em 5,8%, cairá para 5,6%. Já o Itaú Unibanco aposta em 5,7%. No fim do ano, essa taxa costuma diminuir por conta das contratações do comércio para as vendas do Natal. No começo de 2012, com as demissões dos temporários, deve subir um pouco.

Crédito novo
Mais de 3 milhões de consumidores podem ter renegociado suas dívidas neste fim de ano na campanha de recuperação de crédito da Serasa Experian, que contou com a participação de 308 empresas. O número superou os 2,7 milhões de 2010. Além disso, 6,3 milhões tiveram acesso facilitado ao crédito. O objetivo da campanha foi sensibilizar empresas a aproveitar o período que antecede o Natal para promover a recuperação de crédito.

Foi bom, mas... - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 21/12/2011


A pauta que os congressistas deixaram de cumprir abaixa muito a média de aprovação do Congresso. Afinal, mudou a Legislatura, mas as mazelas antigas continuam



O Congresso, oficialmente, só encerra as suas atividades amanhã, mas na prática foi ontem, com o balanço apresentado pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e ainda, a aprovação de créditos Orçamentários no valor de R$ 518,6 milhões. Meio bilhão de reais aprovados em menos de duas horas para um crédito a ser utilizado nos nove dias que restam de 2011 para empenho dos recursos.

O valor dos créditos assusta e o pequeno período para empenho também. Nesse período de final de ano é praticamente impossível aplicar, por exemplo, os R$ 164,8 milhões que vão para o Comando do Exército começar a implantar o sistema estratégico de Defesa para os próximos 20 anos. Há ainda recursos para Educação, Infraero, Turismo, tudo votado a toque de caixa ontem em menos de duas horas.

Esses créditos aprovados vão sem sombra de dúvida terminar no baú dos restos a pagar a serem quitados em 2012 ou, quem sabe, mais à frente. Quem não se lembra da novela dos restos a pagar de 2007, 2008, 2009 que tiraram o sono do Planejamento e dos prefeitos integrantes da 14ª Marcha dos Prefeitos no primeiro semestre, quando eles rodaram o chapéu pela Esplanada pedindo que a presidente Dilma ampliasse o prazo de validade dos restos a pagar? Terminaram conquistando três meses a mais para empenho do que estava em estoque, mas ainda assim, muitos perderam.

Diante da seriedade com que o governo se referia ao cancelamento de restos a pagar, todos consideraram que daqui para frente tudo seria diferente nessa área. Restos a pagar seriam assim... uma excepcionalidade. Mas, dada a quantidade de créditos extraordinários aprovados nos últimos dias, saberemos que não será assim. A história da Marcha dos Prefeitos se repetirá em breve.

Orçamento à parte, todo o ano essa novela é igual. O Congresso não pode ser acusado de não trabalhar em 2011. Muitos projetos importantes foram discutidos e votados: inclusão digital, Programa Nacional do Ensino Técnico (Pronatec), Minha Casa/Minha Vida, ampliação do leque de pequenas e micro-empresas enquadradas no Supersimples, correção da tabela do Imposto de Renda, Código Florestal quase pronto. A política do salário mínimo foi aprovada no início do ano. Ou seja, no geral, não foi um ano ruim para o Poder Legislativo.

Por todos esses projetos — muitos dos quais o presidente da Câmara citou no pronunciamento do balanço de fim de ano — a Casa pode se considerar aprovada nesse primeiro ano de mandato de muitos deputados. Mas o que os congressistas deixaram de fazer abaixa muito a média de aprovação do Congresso. Afinal, mudou a Legislatura, mas as mazelas antigas continuam.

Logo na saída da entrevista coletiva que concedeu ontem, Marco Maia foi perguntado sobre a "caixinha" do PSC, objeto de uma reportagem do site Congresso em Foco. Trata-se de uma denúncia de partido cobra um percentual do salário de seus funcionários ocupantes de cargos de confiança, não necessariamente filiados. Ontem, Maia foi saindo de fininho e não quis falar a respeito. Disse apenas que precisava verificar.

Àquela altura, o presidente da Casa já havia falado por uma hora e meia. Respondeu algumas perguntas de telespectadores da TV Câmara. Falou inclusive do fator previdenciário, alvo de uma série de perguntas, como uma lei que lamentava não ter votado neste ano. Relatou, ainda, a necessidade de aproximar o Congresso da sociedade. Ao final, fui saber da produção quais eram as perguntas que Maia não teve tempo de responder. Um dos telespectadores queria saber, por exemplo, por que os políticos flagrados em desvio de recursos não devolvem o dinheiro?

Havia perguntas sobre a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. Aposentados queriam saber por que o Brasil tinha dinheiro para fazer a Copa do Mundo de 2014 e, na hora de reajustar as aposentadorias superiores a um salário mínimo, não havia caixa suficiente. Essas, o presidente da Câmara levou para casa e ficou de responder depois. Afinal, são perguntas sobre as quais as respostas não estão nas mãos dele. É mais ou menos como o ano Legislativo: só termina amanhã, mas, na prática, não tem mais nada funcionando a pleno vapor.

GOSTOSA


"Cool-Eekah" - ANTONIO PRATA


FOLHA DE SP - 21/12/11

Há que se introduzir a cuíca no blues; dos instrumentos usados nos trópicos, ela é, sem dúvida, o mais sofrido

É comum perguntarem a nós, escritores, de onde vêm as ideias. Nunca sei bem o que responder, pois raramente as tenho: escrevo bem mais em cima de observações, como um viajante que anota no bloquinho o cenário do lado de lá da janela, do que como criador, aquele que faz brotar as janelas e o cenário das páginas do seu bloquinho. Vez por outra, contudo, sou agraciado com um lampejo de inspiração e experimento esta alegria que é ver surgir, do banal, o extraordinário -como do milho, a pipoca. Semana passada, por exemplo, tive uma ideia. Modéstia à parte, uma grande ideia.

Estava em Chicago, num show de blues. O guitarrista puxava um solo comprido, encharcando com sua dor de cotovelo a meia dúzia de gatos pingados espalhados pelas mesas do bar ("Do bar esfumaçado", diria eu, se as leis contra o cigarro não tivessem feito com que essa nuance fundamental da vida noturna se esfumasse nas brumas do passado). A música era triste pra burro, como convém ao gênero. Falava de um cara que acorda certa manhã, se dá conta de que sua "baby was gone" -e dá-lhe lamento. Já estava quase no fim quando, entre uma nota e outra da guitarra, ouvi um som que não vinha da banda: era a ideia, que dava suas primeiras cabriolas por minha caixa craniana, louca para sair e reverberar no palco bem mais amplo do mundo. A ideia, simples e fundamental, era a seguinte: há que se introduzir a cuíca no blues. Tô falando sério.

De todos os instrumentos usados nos trópicos, a cuíca é, sem dúvida, o mais sofrido. Vai da dor aguda à grave desolação, num pranto rítmico potente, como se um filhote de elefante estivesse preso no pequeno cilindro de metal, gritando pela mãe e chacoalhando sua mínima tromba de bambu. Mesmo em seus momentos mais frenéticos, a cuíca não esconde a melancolia, e, pensando nela agora, depois de minha epifania, percebo que sempre esteve mais próxima das águas lamacentas do Mississipi do que das ondas verdejantes da Guanabara.

Imaginem o bluesman tocando seu "dum-dum-dum-da" e a cuíca preenchendo o breve espaço entre os acordes com um "uh-uh-uh-uhhhl"; a banda repetindo o "dum-dum-dum-da" e a cuíca mandando seu "rom-roooom-rom-roooom". Pense num Buddy Guy improvisando duas ou três notas e, digamos, Osvaldinho da Cuíca imitando-o e desafiando-o, num duelo lancinante. Ah, gaita, teus dias babentos estão contados!

Voltando de viagem, empolgado, conversei com alguns músicos e descobri algo sensacional (quase tão sensacional quanto a futura execução de minha ideia): a cuíca já deu seus passeios pela música americana. Em 1974, Dizzy Gillespie veio a São Paulo e gravou um disco, "Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó" -ótima dica, aliás, de presente de Natal. O resultado é belíssimo, e a cuíca faz um excelente par com o trompete, mas o jazz não é o seu lar. O jazz é uma música louca e cheia de esperança. Oferece, se não uma saída, ao menos uma vingança contra os amargores da vida, picando-a em pedacinhos e reconstruindo-a, cubisticamente, ao seu bel-prazer. O blues, não. Ele não oferece salvação. É um mar de lágrimas, ao qual a cuíca precisa juntar, imediatamente, seus lindos soluços. Fica aí a ideia.

Afundando na "grande estagnação" - MARTIN WOLF


Valor Econômico - 21/12/11


O futuro não é o que costumava ser. Nem o presente. Esse é o tema de "The Great Stagnation" (A grande estagnação), de Tyler Cowen, da George Mason University.* O tema está em seu subtítulo: "How America ate all the low-hanging fruit of modern history, got sick and will (eventually) feel better". O livro é um modelo de texto popular: lúcido, conciso e provocador. Mas será o argumento verdadeiro? Se o for, o que poderia isso implicar?

"Os EUA estão em tumulto", afirma Cowen, "e nossa economia está nos deixando na mão". Ele cita o lento crescimento da mediana salarial a partir dos anos 1970, as ilusões da década de 2000 e a ausência de "criação líquida de novos empregos nesta última década". Além disso, "estamos diante de uma crise fiscal de longo prazo, impulsionada pelo custo cada vez maior de direitos sociais, nossa... dependência de endividamento e nossa vontade de ir empurrando as coisas, em vez de encarar a necessidade de pagar as contas".

Até aqui, o argumento é familiar. Mais nova é a explicação de Cowen para a situação dos EUA: "A economia americana beneficiou-se... de insumos ao alcance da mão pelo menos desde o século XVII, seja terra ociosa... trabalho de imigrantes ou novas e poderosas tecnologias. No entanto, durante os últimos 40 anos, quando os frutos maduros começaram a desaparecer, começamos a fingir que ainda estavam disponíveis. Foi isso o que deu errado".

O papel de insumos baratos e da importação de mão de obra no crescimento americano passado é claro. Mas Cowen acrescenta um ponto importante. Em 1900, apenas 6,4% dos americanos diplomavam-se em universidades; no fim dos anos 1960, 80%. Analogamente, até 2009, 40% dos jovens entre 18 e 24 anos já estavam matriculados em faculdades. Tornou-se muito mais difícil melhorar a qualidade da força de trabalho.

Boa parte da causa mais importante do crescimento econômico sustentado são as novas ideias. Infelizmente, as taxas de invenção e inovação também têm diminuído. O ponto alto foi o fim do século XIX e início do século XX, que produziu produtos químicos modernos e, portanto, fertilizantes artificiais; eletricidade e, portanto, o motor elétrico, luz, geladeiras, aspiradores de pó, aparelhos de ar-condicionado, rádios, vitrolas e a televisores; o motor de combustão interna e portanto o automóvel; aviões, produtos farmacêuticos e, não menos importante, a produção em massa. Tudo isso transformou vidas.

"Hoje, em contraste", argumenta Cowen, "além da aparentemente mágica internet, a vida material, em termos gerais, não é tão distinta do que era em 1953". Eu acrescentaria o computador e o telefone celular. Mas é difícil não concordar com que o fluxo de inovações fundamentais desacelerou. Hoje é mais difícil e mais caro inovar.

Para justificar seu pessimismo, Cowen cita a estagnação da renda familiar média a partir de meados dos anos 1970. Mas mudanças na distribuição de renda - um fenômeno nítido - moldam esse cenário. No entanto, dados sobre a renda per capita e sobre a "produtividade multifatorial", a parte do crescimento econômico não explicada por crescentes insumos de capital e de mão de obra - apoiam a tese de Cowen. No primeiro trimestre de 2007, o Produto Interno Bruto (PIB) real per capita foi 13% inferior do que teria sido se a tendência de 1947 a 1973 tivesse persistido. No terceiro trimestre de 2011, o PIB foi 22% menor. Num estudo aprofundado, Robert Gordon, da Northwestern University, conclui, analogamente, que o crescimento multifatorial de produtividade no setor empresarial não agrícola atingiu um pico na primeira metade do século XX e caiu entre 1972 e 1996**. O PIB, então, viveu um surto em maio à onda da "Nova Economia". Mas esse impulso se dissipou. É possível imaginar outro surto inovador com impacto na economia como um todo com origem em biotecnologia ou nanotecnologia. Mas, neste momento, isso não está ocorrendo.

É possível divergir da tese de Cowen em seus detalhes. Ele exagera o papel negativo de governo grande e subestima sua influência positiva. Mas o quadro mais amplo que ele desenha parece correto. Assim, o que a estagnação americana implica para o restante do mundo?

Cowen tira duas conclusões. A primeira é que "a política americana é muito difícil, num país sem muitos frutos maduros ao alcance das mãos". A segunda é que a explicação da crise financeira está em "pensarmos que éramos mais ricos do que efetivamente somos". Com efeito, ele acredita que os americanos demandaram, tanto coletiva como individualmente, o que não tinham condições de pagar. Pode muito bem ser verdade que o desejo de tomar tantos empréstimos e de resistir tanto a impostos mais altos e a contenção de gastos reflita o decepcionante aumento das rendas reais.

Agora consideremos o restante do mundo. Aqui podemos ver boas e más notícias. Uma boa notícia é que a grande maioria dos seres humanos vivem em economias distantes da fronteira econômica. O PIB real per capita chinês é cerca de um quinto dos níveis nos EUA e o da Índia é inferior a um décimo. Assim, melhorias em educação e adoção de conhecimentos já existentes proporcionam grandes oportunidades. A segunda boa notícia é que o potencial de incorporação de um número muito maior de pessoas em descoberta científica, invenção e inovação é também enorme. Pode ser cada vez mais difícil conquistar novos conhecimentos. Mas os recursos destinados a essa tarefa podem também ser muito maiores do que em qualquer momento anterior. A má notícia é que a era dos insumos baratos não está terminando não apenas para os EUA. O que antes era tratado como gratuito é caro.

Eu gosto desse livro: ele começa com teses provocativas e termina com um apelo a investimentos em ciência. Eu não concordo com tudo o que defende, longe disso. Mas é bom lembrar que existem histórias econômicas muito maiores do que o fracasso do mundo financeiro ou o apelo à austeridade. No longo prazo, nosso futuro depende de boas ideias. Pode não caber a nós determiná-las. Mas sempre estarão sujeitas à nossa influência.

* Dutton, Nova York, junho 2011.

** "Revisitando o crescimento da produtividade americana", março de 2010, www.nber.org.

(Tradução de Sergio Blum)

Obama, o fraco, respira - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 21/12/11
Presidente atolou-se na crise, mas espírito de porco dos republicanos pode ajudar democratas em 2012

A POPULARIDADE DE Barack Obama aumentou neste final de ano: 49% dos americanos aprovam seu governo, segundo pesquisa patrocinada pela TV CNN. É o espírito de Natal (ou de "Festas", como eles agora dizem por lá, o ecumenismo politicamente correto "oblige")?

Mais provável é que o espírito de porco do Partido Republicano tenha dado alguma alento à esperança de reeleição de Obama.

A economia americana despiora, parece. Mas em relação ao quê? Melhorou bastante em relação ao exagerado medo de recessão que estava no ar em meados do ano. No que mais melhorou? Vai melhorar mais?

Em novembro de 2011, o salário médio por hora no setor privado era 1,8% maior que em novembro de 2010. A inflação foi maior (qualquer que seja a medida utilizada de inflação ao consumidor). Ou seja, o salário médio real no setor privado caiu, em termos reais.

O desemprego caiu, em parte por desalento dos desempregados, em parte, provavelmente, devido à animação das festas de fim de ano. Há menos gente a pedir seguro-desemprego. Mas o número de pedidos semanais ainda é típico de crises.

Nos últimos três anos, os americanos e Obama comeram o pão da recessão e da crise que George Bush amassou. O crescimento médio da do PIB não terá sido maior que 0,4% ao ano desde a posse de Obama (2009) até o final de 2011.

Há um blá-blá sobre melhoras no mercado imobiliário. De novo, pergunta-se: melhor em relação ao quê? Há mais de 4 milhões de de hipotecas (financiamentos imobiliários) com atrasos de três meses ou que deram em processo de despejo. Há 3,2 milhões de casas vagas à venda, o equivalente a oito meses de venda (no ano horrível de 2008, o estoque dava para 11 meses).

As taxas de juros "básicas" (o custo de financiamento da dívida do governo) estão em níveis de recessão. Um título da dívida de dez anos rende pouco mais de 1,8% ao ano. Foi a média de novembro, a mais baixa em meio século. Isso significa que americanos (e parte do resto do mundo) preferem estacionar dinheiro no cofre do Tesouro dos EUA a investir em algo útil.

Os mercados financeiros voláteis (e vão continuar assim em 2012) não animam o consumidor americano, que coloca o dinheiro da aposentadoria e da escola dos filhos nas Bolsas. Sim, os americanos estão algo menos desanimados. Mas quanto?

Pode ser que as coisas continuem a melhorar, um pouco, desde que a Europa colabore. Mas não só.
O Partido Republicano continua com seu programa de "quanto pior, melhor" (para a oposição), para nem mencionar aquelas facções do partido que realmente acreditam que desmontar o Estado de hora para outra é necessário e/ou viável.

Nestes dias, os republicanos estão para derrubar a prorrogação do imposto reduzido da Previdência deles (que vai tirar em média US$ 1.000 por ano do bolso de 160 milhões de americanos) e do seguro-desemprego ampliado. Podem prejudicar até os idosos (65 anos), que têm direito a seguro-saúde, o Medicare.

Os republicanos podem, pois, prejudicar o eleitorado diretamente e ainda a recuperação econômica. Talvez seja por isso que Obama, mesmo presidindo um país estagnado e tendo feito pacto com a elite financeira que quebrou o país, talvez tenha esperança eleitoral.

Conciliação - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 21/12/11

O PMDB e o PT estão fazendo um esforço para despolitizar as divergências na diretoria da CEF. Dirigentes dos dois partidos se reuniram nos dois últimos dias. O PMDB deu o recado: “Quando a Maria Fernanda era presidente, nunca teve problema.” A expectativa é que a Vice-Presidência de Loterias da CEF seja mantida no Conselho Curador do FGTS. O PT assumiu para si a tarefa de conversar com o presidente da CEF, Jorge Hereda.

É dura a vida do DEM

A direção do DEM acaba de descobrir que a sua sigla não significa nada para os eleitores e que o partido terá de fazer uma ofensiva para ficar conhecido como DEMOCRATA. A constatação foi feita por pesquisa qualitativa aplicada em cinco capitais. O partido é reconhecido como de oposição, e seu recente programa na TV agradou às classes C e D, sobretudo quando defendeu a redução dos impostos. Chamou atenção também o desinteresse dos eleitores pela política partidária. Num desses grupos, um cidadão disse: “O PSDB, o partido do Fernando Henrique, é o partido do Michel Temer (vice-presidente no governo Dilma).”

A decisão do ministro Marco Aurélio de Mello (STF) representa um retrocesso na busca por um sistema judiciário mais eficiente, mais transparente e mais ético” 

— Ana Amélia, senadora (PP-RS), sobre a retirada de poderes do Conselho Nacional de Justiça

VIRANDO O JOGO. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), depois de passar um sufoco, terminou o ano com o saldo de ter aprovado todas as leis de interesse do governo. Com esforço e boa vontade das partes, ele reconstruiu as relações com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Vaccarezza foi candidato a ocupar o cargo exercido por ambos.

Rombotur
A Controladoria-Geral da União concluiu a investigação sobre os convênios com irregularidades firmados pelo Ministério do Turismo. A CGU anuncia hoje o tamanho do rombo que ajudou a derrubar o ex-ministro Pedro Novais.

Divã
Sobre as dificuldades na bancada do PMDB no Senado, um dirigente do partido explica: “Temos uma bancada de ex-governadores. Eles chegam ao Senado com grande expectativa. Frustrados os planos, eles viram dissidentes.”

O sufoco do senhor embaixador
Os deputados e senadores, sobretudo dos partidos de esquerda, passaram o dia de ontem recebendo ligações de funcionários da Embaixada da Coreia do Norte no Brasil. O embaixador Ri Hwa Gun abriu um Livro de Condolências a propósito da morte do ditador Kim Jongil. E, para seu desespero, muitos dos parlamentares procurados, visivelmente constrangidos, não quiseram ir até a representação para registrar seus pêsames.

Revoada

Vários militantes do PCdoB que foram mantidos em seus cargos no Ministério do Esporte, após a entrada do ministro Aldo Rebelo, estão pedindo demissão de seus cargos. Eles estão saindo alegando incompatibilidade de estilos.

Sobrevivente
Depois de passar por situações de sufoco junto à presidente Dilma, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) termina o ano em alta. Ela entregou para a presidente tudo o que lhe foi pedido para aprovar no Congresso.

A PRESIDENTE Dilma não tem falado de reforma ministerial com ministros e políticos que tentam arrancar alguma informação.

CARIMBO.
 A pesquisa qualitativa encomendada pelo DEM revelou que, apesar do tempo, o partido continua com imagem negativa no Rio e na Bahia. O motivo: o ex-senador ACM, que faleceu em 2007.

O GOVERNADOR
 Jaques Wagner cria hoje o Prêmio de
Desempenho Policial. A ideia é reduzir violência e criminalidade. Os policiais que atingirem as metas vão receber prêmios de R$ 360 a R$ 4 mil.

O galo cantou - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 21/12/11
O Estado do Rio vem experimentando um processo de recuperação de espaços públicos antes dominados pelos traficantes de drogas que tem, para além de seu aspecto social, características políticas especiais. A função central das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) espalhadas pelas diversas comunidades recuperadas para a cidadania, acabar com o domínio dos bandidos sobre o território das favelas, precisa ser complementada por ações que deem consequência prática a este novo momento.
As chamadas UPPs sociais já estão cuidando de levar para os territórios recuperados os benefícios da presença do estado, mas, para além dessa ação, uma experiência pioneira acontece no Morro do Cantagalo, fincado entre Copacabana e Ipanema, no coração da Zona Sul do Rio.
Ontem, foi lançado no Rio o livro "Galo cantou", da Editora Record, com uma série de depoimentos e análises de pessoas envolvidas no projeto - entre elas, o vice-governador do Estado do Rio, Luiz Fernando Pezão -, com coordenação do economista Paulo Rabello de Castro, presidente do Instituto Atlântico.
Com o financiamento do Instituto Gerdau e o apoio de escritórios de advocacia e de engenharia, o Instituto Atlântico, entidade apartidária cuja missão é propor, e testar na prática, políticas públicas inovadoras, desenvolveu um projeto de cadastramento geral dos moradores para conceder a titulação plena dos possuidores de lotes e unidades residenciais.
Quase 1.500 domicílios e cerca de cinco mil moradores, a vasta maioria morando lá há mais de 20 anos, foram mobilizados durante meses, desde 2008.
Em maio passado, os primeiros 44 moradores da Comunidade do Cantagalo receberam a escritura de doação das mãos das autoridades estaduais, e, até o final de 2012, deve estar concluída a etapa principal de titulação no Cantagalo.
O território, que antes era dominado pelos traficantes, hoje tem donos, e a organização fundiária de uma comunidade é parte essencial de um amplo projeto de segurança para os próprios moradores e bairros circunvizinhos.
Tudo foi feito com base em conjunto de técnicas de intervenção comunitária e no princípio da auto-organização a que o Instituto Atlântico chamou de uma "tecnologia social".
Por meio da associação dos moradores, toda a população do Cantagalo participou das discussões do projeto desde o início, e todos os moradores deram autorização por escrito para o levantamento.
O aumento dos encargos tributários e de tarifas de serviços públicos como consequência da regularização e do título definitivo, por exemplo, foi muito debatido.
Essa participação da comunidade na definição de seus próprios interesses é exemplar de uma política pública que queira incluir os moradores das favelas do Rio como parte da solução dos problemas.
A comunidade do Morro do Cantagalo tem as mesmas características básicas das demais favelas da cidade.
Ha estudos que demonstram que a infraestrutura essencial nas favelas não é significativamente diferente da de outras partes urbanizadas da cidade.
Nas favelas do Rio, quase todos os imóveis são próprios, com exceção da Rocinha, onde 33% são alugados. No Cantagalo, 77% dos imóveis são próprios.
A principal contribuição do projeto é mostrar, da teoria à prática, que a concessão de títulos de propriedade nas comunidades é a forma mais efetiva de integrar a cidade do ponto de vista legal.
O Instituto Atlântico tem o objetivo, com o Projeto Cantagalo, de ressaltar que a regularização "acarreta uma injeção de novos valores de comportamento social na comunidade".
Desse ponto de vista, a propriedade imobiliária seria "a melhor resposta às angústias naturais de um favelado, cuja moradia sem direito constituído não tem defesa policial ou judicial contra a bandidagem ou a remoção pela própria Administração Pública".
O Instituto, em seus documentos sobre o Projeto Cantagalo, destaca que a outorga do título de propriedade plena sobre os bens que os moradores construíram ao longo de toda uma vida de trabalho representa não só uma injeção de capital na economia advinda da valorização dos imóveis, sem necessidade de elevação de gastos públicos, mas também uma elevação na receita da Administração Pública, com o aumento da arrecadação proveniente da legalização/valorização dos imóveis da comunidade e dos bairros no seu entorno.
As estimativas são de que a transposição dessa "tecnologia social" para todo o país teria um custo da ordem de R$1 trilhão, envolvendo 15 milhões de moradias tituláveis no país inteiro.
Mesmo que o estado e a sociedade civil estejam presentes nas favelas, que os serviços de infraestrutura sejam basicamente os mesmos de algumas regiões da cidade e a ausência do estado ocorra apenas em função da falta de policiamento ostensivo, a participação da comunidade nas decisões do Cantagalo é um aspecto político fundamental que o direito à propriedade só faz ressaltar.
A ação prioritária após a retomada definitiva e a pacificação das favelas seria a formalização dos negócios e a regularização da situação fundiária e de habite-se.
Esse exemplo pioneiro de cidadania já temos na experiência do Cantagalo, onde a iniciativa privada e o estado se encontraram para uma solução exemplar. (Esta coluna é baseada no meu texto para o livro "Galo cantou").

Já foi tarde - ELIO GASPARI

O GLOBO - 21/12/11
Poucas vezes na história viu-se de forma tão direta e fotográfica o legado de um governante. É o buraco negro registrado pelos satélites que passam sobre o apagão da Coreia do Norte deixada por Kim Jong-il, o "Sol do Futuro Comunista", o "Comandante Invencível". Um apagão elétrico, social, político e econômico.

É com esse apagão que a jornalista americana Barbara Demick começa seu livro "Nothing to Envy" ("Nada a Invejar - Vidas comuns na Coreia do Norte"). Ela foi correspondente do Los Angeles Times em Seul e, durante sete anos, entrevistou coreanos que fugiram da tirania de Kim Jong-il, que se foi embora no domingo. Quando o "Querido Líder" nasceu, uma estrela brilhou no céu e dois arco-íris enfeitaram o dia. Sucedeu ao pai, o "Grande Marechal", e passou o poder ao filho.

Como sucedeu em 1994, quando o coração matou Kim Il-sung, o "Divino Guardião do Planeta", torce-se pela desagregação do regime que aprisiona 23 milhões de pessoas, dando-lhes fome, miséria e brutalidade.

Barbara Demick escreveu sobre uma tirania depois de um século varrido pelo Holocausto e pelo Gulag, quando seria possível pensar que já se viu de tudo. O que há de terrível no retrato da Coreia do Norte é que ele surpreende o leitor. Quando se acha que a vida de um povo não pode piorar, ela piora, envergonhando a época em que se vive.

Em 1945, a península coreana foi dividida entre duas ditaduras. A do Norte, comunista e rica. A do Sul, capitalista e pobre. Nos anos 60, quando se falava em "Milagre Coreano", o tema era a supremacia socialista. Em 1970, todos os vilarejos do país tinham eletricidade. Passou-se uma geração, o Sul tem uma democracia e o Norte tem uma tirania enlouquecida, que mais se parece com a Spectre do romance de Ian Fleming do que com um Estado. Em apenas quatro anos, entre 1991 e 1995, a renda per capita da população caiu de US$ 2.460 para US$ 719. O regime vive do socorro cúmplice da China.

Falta eletricidade, mas as 34 mil estátuas do "Pai da Pátria Socialista" são iluminadas mesmo de dia.

A professora Mi-Ran conta que via alunos de 5 ou 6 anos morrerem de fome nas salas de aula. Sua turma de jardim de infância de 50 alunos caiu para 15.

Nas casas desse paraíso, uma parede da sala deve ser reservada para o retrato do líder, que é distribuído com um pano. Fiscais zelam para que nenhuma família deixe de limpá-lo.

A fome dos anos 90 matou entre 600 mil e 2 milhões de coreanos do Norte. Em algumas cidades, morreram dois em cada dez habitantes. Um médico conta que ensinou mães a ferver demoradamente a sopa de capim. A certa altura, as famílias preferiam que as crianças morressem de fome em casa, porque nos hospitais, onde não havia remédio, faltava também comida.

Nessa época, o governo informou que racionara alimentos porque o povo da Coreia do Sul estava passando fome e precisava ser ajudado.

Ninguém comemora aniversário na Coreia do Norte. Festeja-se apenas um dia: o do nascimento do líder.

Kim Jong-il, com seus sapatos-plataforma, já foi tarde. Se Deus é comunista, o filho do líder entrega o campo de concentração a um condomínio da China com a Coreia do Sul.

Serviço: "Nothing to Envy" está na rede por US$ 9,99.

Os pobres também sofrem - MARCELO COELHO


FOLHA DE SP - 21/12/11


Não há como ignorar a parcela de truque, de fórmula que está por trás desse documentário


Num prédio modesto em Copacabana, o morador solitário e cinquentão liga o aparelho de som. Começa uma música de Frank Sinatra, "My Way", que ele repete de cor.

No final, ele está chorando, não propriamente de tristeza, mas no que parece ser a pura força de sua convicção. Convicção de quem ele próprio é, força íntima de conseguir transformar seu abandono em independência. Celebra, como quem escolheu voluntariamente o "seu caminho", algo que, aos olhos da plateia, pode bem ser interpretado como uma total derrota na vida.

Quem assistiu a "Edifício Master", filme de 2002, não se esquece dessa cena nem desse personagem. Eduardo Coutinho resolveu ampliar esse momento em seu novo documentário, "As Canções".

Pessoas em sua maioria de classe baixa se sucedem diante da câmera, sentadas numa poltrona preta, à frente de um fundo preto, e cantam, sem acompanhamento, uma música que as tenha marcado durante a vida. Gostei de "As Canções", como sempre gosto dos documentários do autor, mas fico sem resposta diante das críticas que esse filme pode suscitar.

Será que Eduardo Coutinho está recaindo, apenas, numa fórmula que já deu certo? Difícil dizer que não.
A atenção ao contexto político, que dava tanta profundidade a seu "Cabra Marcado para Morrer" (1985), desapareceu, e cede lugar a certo jogo com o sentimentalismo.

Sentimentalismo disfarçado, porque a filmagem elimina qualquer retórica. Exceto uma ou outra aproximação do rosto do entrevistado, tudo se pretende frio e objetivo por parte do diretor.

A câmera mal se mexe. Os silêncios entre uma frase e outra são preservados. A estratégia de Coutinho está precisamente em não cortar a cena, nos momentos em que outro diretor se interessaria em acelerar a ação.

Ele espera para dar o bote, por assim dizer. Ou melhor, até que o próprio entrevistado desabe diante de nós.
"Quanto tempo esse sujeito aguenta aí, sem cair no choro?". A pergunta está implícita na cabeça do espectador, e, perdoem-me, é a mesma que se faria se estivéssemos assistindo a uma sessão de tortura.

Claro que Eduardo Coutinho está longe de insistir no sensacionalismo dos noticiários de televisão, que se esbaldam ao mostrar o choro de quem perdeu a casa num desabamento.

Só que sua estética leva a outro extremo. O despojamento vai beirando uma espécie de frieza e torna-se quase sádico.

A vozinha em "off" do diretor, sempre respeitosa, não revela nenhuma curiosidade maligna. Pede apenas que o entrevistado não fuja do assunto. "Então, naquele momento, a senhora achou que..."

A mulher abandonada (há muitas nesse filme) assente. "É, eu achei que..." Pronto! Todo o esforço que fazia (o de mostrar-se íntegra, vencedora, tendo superado a decepção amorosa) se despedaça, e a canção de Roberto Carlos, o bolero antigo ou a letra de Jorge Ben Jor liberam todo o seu poder radioativo.

Não há como ignorar a parcela de truque, de fórmula que está por trás desse documentário. Mesmo assim, não estou entre os que se irritam.

Como outros filmes de Eduardo Coutinho, "As Canções" tem um efeito pedagógico sobre meus próprios preconceitos. Por mais que, em tese, eu tenha a simpatia de todo universitário de esquerda com as tristezas dos mais pobres, o desprezo intelectual não é fácil de se abandonar, e minha conversa com quem não pertence à minha classe social é quase nula.

Nesses depoimentos de "gente humilde", para lembrar outra canção de Chico Buarque, vejo duas coisas que são novidade para mim. De um lado, o poder literário desta ou daquela frase que sai espontânea do entrevistado, com uma eloquência que nasce do sofrimento.

De outro lado, a inteligência comum a todo ser humano, instruído ou não, para lidar com a própria vida. Entre a loucura e o bom senso, do impulso assassino e apaixonado à resignação normal, toda pessoa vai tocando a vida, e se sai com razoável dignidade das armadilhas que aprontou para si mesma.

Uma antiga novela dizia que "os ricos também choram". Numa fase da economia em que a classe C ascende ao mundo do consumo e da educação, Eduardo Coutinho parece mostrar que "os pobres também sofrem" -mesmo que não seja por causa da pobreza, e mesmo quando não são tão pobres assim.

GOSTOSA


Questões de vestibular para 2011 - ANDRÉ MELONI NASSAR


O Estado de S.Paulo - 21/12/11


Teste seu nível de conhecimento sobre o agro brasileiro. Qual alternativa abaixo melhor caracteriza 2011?

O ano em que se provou que os agrotóxicos não garantem alimentos seguros;

O ano em que finalmente pegamos os gringos compradores de terras;

O ano em que a indústria nacional foi prejudicada pelas commodities;

O ano em que os ruralistas passaram a perna no Brasil com a reforma do Código Florestal;

Nenhuma das anteriores.

Ironias à parte e considerando que cada item acima pode e deve ser visto de diferentes perspectivas, são eles que resumem os fatos relevantes de 2011. Assim como um gigante como Neymar ficou pequeno diante do Barcelona, a resposta às minhas questões de vestibular depende da perspectiva utilizada para analisar cada afirmação.

A rejeição de parte da sociedade brasileira aos agroquímicos utilizados na agricultura ganhou proporções preocupantes. Os leads utilizados - o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e cada habitante brasileiro consome 5 litros de agrotóxico por ano - revelam uma clara intenção de desqualificar esse tipo de tecnologia, tornando-a desnecessária para a produção de alimentos. A insistência em associar segurança e qualidade nutricional aos alimentos que são produzidos sem agrotóxicos, não reconhecendo que alimentos que receberam agrotóxicos podem chegar ao consumidor de forma segura e com qualidade equivalente, mostra que é o modelo de produção e de cadeia agroindustrial que está em jogo.

Aqueles que são contra o uso de agrotóxicos se acham mais livres por não serem "dependentes" das grandes multinacionais. Com muito apelo no Brasil, esse movimento revela aquele sentimento de que somos únicos e que, por aqui, Davi sempre vence Golias. É um movimento com certa complexidade e que não se contenta com informações superficiais. A lição que se tira é de que as empresas não estão fazendo um bom trabalho de diálogo e de esclarecimento da sociedade.

A segunda resposta guarda relação com a primeira, porque também se baseia na velha discussão de não aceitarmos a dependência do estrangeiro. Nos últimos anos o agro brasileiro atraiu o interesse de diversos grupos estrangeiros. Florestas plantadas, cana-de-açúcar e produção de grãos são alguns setores que receberam grandes injeções de recursos de estrangeiros. O poder público brasileiro, por razões puramente políticas, decidiu restringir o acesso dos estrangeiro à compra e arrendamento de terra. Por meio do Incra, definiu recentemente um complexo e burocrático sistema composto por várias etapas que os investidores estrangeiros precisam passar caso queiram comprar os montantes de terra ainda permitidos.

Não tenho nenhuma preferência especial pelo capital estrangeiro. Acho, inclusive, que, se é verdade que os ativos de base agrícola (terra e água, sobretudo) vão subir de valor, é saudável para a sociedade que esse crescimento seja incorporado na economia brasileira, e não remetido na forma de lucros e dividendos para fora. No entanto, não vejo razão para imaginar que os estrangeiros serão produtores piores do que os brasileiros, tanto do ponto de vista econômico quanto social e ambiental. Provavelmente é o contrário: como os estrangeiros têm maior risco reputacional, eles tendem a seguir as legislações social e ambiental brasileiras de forma mais restrita. Além disso, o montante necessário de investimentos para financiar a expansão e a intensificação da produção agropecuária será muito grande e o capital disponível no Brasil, seja por seu custo, seja por seu risco, será uma restrição.

Por mais que renomados economistas, acadêmicos e analistas levantem argumentos mostrando que ser competitivo e grande exportador de commodities, caso do Brasil no momento atual, não é sinônimo de desindustrialização, esse argumento cai como uma luva para aqueles que acreditam que a indústria nacional precisa de mais "ajudinhas" do governo brasileiro para competir em pé de igualdade com os asiáticos. O País vive um momento em que os setores primário e de serviços crescem a passos mais fortes e consistentes do que o setor industrial, não só do ponto de vista econômico, mas também na incorporação de tecnologia e inovação. E, talvez pela nossa crença de que podemos e devemos produzir tudo, alguns setores da sociedade não concebem a ideia de que há indústrias que, estruturalmente, deixarão de existir.

Toda economia convive com restrições de fatores produtivos: capital e trabalho. É verdade que câmbio e outros itens do custo Brasil podem afetar a competitividade de relevantes segmentos industriais. Mas promover o crescimento artificial e indiscriminado não apenas vai aumentar os preços aos consumidores, como vai encarecer os fatores que seriam utilizados de forma muito mais eficiente nos setores de fato competitivos.

O Código Florestal ainda não foi sancionado, mas as bases para sua aprovação, se ela ocorrer no ano que vem, terão sido construídas em 2011. Caberá ao setor produtivo mostrar para a sociedade brasileira que a reforma foi necessária para permitir que a maioria dos produtores consiga se adequar à legislação ambiental. O novo Código faz importantes concessões aos produtores, no entanto cria mecanismos que são ainda mais importantes para tornar a legislação efetiva. Ele inaugura um novo sistema de imposição do cumprimento da lei, menos pesado em comando e controle, mais confiável em sistemas de monitoramento, autorregulação e incentivos para a adequação.

Os ambientalistas puros ainda não estão preparados para aceitar esse novo sistema. Havendo responsabilidade dos governos federal e estaduais em cumprir suas obrigações, será provado para a sociedade que ele é mais funcional e eficaz e, portanto, a reforma terá valido a pena para todos, e não só para os produtores.

Minha opção de resposta: nenhuma das anteriores.

Chernobyl +25 - JOAQUIM FRANCISCO DE CARVALHO


Valor Econômico - 21/12/2011


Na década de 1970, quando surgiram na extinta União Soviética o Reator Bolshoy Moshchnosty Kanalny (RBMK), a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) avaliava que os acidentes por perda de refrigeração com equipamentos desse tipo seriam praticamente impossíveis de acontecer (ver AlEA Bulletin vol. 25, nº 2, p. 51). Apesar da avaliação da AIEA, há 25 anos (abril de 1986) acontecia em Chernobyl, precisamente com um reator RBMK e por perda de refrigeração, o que, na época, foi considerado mais grave desastre nuclear da história.

Então, a AIEA previa que um acidente daquela magnitude só poderia acontecer a cada século. Coincidentemente, 25 anos depois, (março de 2011) acontecia em Fukushima outro acidente da mesma gravidade.

O acidente de Three Mile Island, ocorrido nos Estados Unidos sete anos antes do de Chernobyl (1979), também foi muito grave, mas a radiação permaneceu no interior da envoltória de aço que abriga o reator onde ficam os elementos combustíveis, nos quais se processam as reações de fissão do urânio, que produzem o calor, que vai para os geradores de vapor, que acionam os geradores de eletricidade. A gravidade da catástrofe de Chernobyl vem de que os reatores não ficavam em envoltórias de aço, mas sim em construções pouco mais reforçadas do que edifícios de indústrias químicas.

A central dispunha de quatro reatores de canal, do tipo RBMK, refrigerados a água leve e moderados a grafita. Os elementos combustíveis eram feixes de tubos (ou varetas) de zircaloi (liga de zircônio), preenchidos com pastilhas de óxido de urânio levemente enriquecido.

Cada elemento era alojado num tubo de pressão (ou canal), também de zircaloi, numa disposição mais ou menos semelhante à dos reatores canadenses do tipo Candu. Os canais, por sua vez, eram embutidos em prismas (ou blocos) de grafita, de secção quadrada. A carga de combustível era de 192 toneladas de óxido de urânio. Tudo indica que houve falha no sistema primário de refrigeração, que injeta água pressurizada nos canais. Com isso, a temperatura das varetas subiu rapidamente para cerca de 2.8000 C, rompendo-as.

Supõe-se que, em contato com as varetas, naquela temperatura, a água ainda existente nos canais decompôs-se termicamente, liberando hidrogênio. Ao mesmo tempo, o vapor, em contato com a grafita, também se decompôs e liberou mais hidrogênio. Houve então uma explosão deste gás, que rompeu a tampa do vaso do reator e lançou na atmosfera gases e nuvens de vapor, carregando produtos de fissão tais como cobalto-60, estrôncio-90, iodo-13l e césio-137, além de actinídeos, como o netúnio-237 e os isótopos de plutônio de pesos atômicos 239, 240 e 241.

Para agravar a situação, a grafita - cuja estrutura cristalina é instável quando submetida a altas temperaturas e a intensos fluxos de nêutrons - deve ter "queimado" em contato com o ar, engrossando as nuvens que veiculavam os produtos de fissão. Essas nuvens elevaram-se a mais de 1.500 metros de altura, sendo colhidas pelos ventos dominantes e conduzidas na direção da Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Holanda, França e países escandinavos.

Os defensores emocionais da energia nuclear afirmam que os acidentes de Chernobyl e Fukushima só aconteceram porque - no primeiro caso - houve uma falha humana e - no segundo caso - ocorreu um tsunami, esquecendo que todo acidente tem uma causa.

Os acidentes Three Mile Island, Forsmark, Tokaimura, Bohunice, Erwin, Mayak e outros, também tiveram causas. Só um leigo, ou alguém movido por pura emoção afirmaria que nunca existirão causas para outros acidentes, seja na França, na Coreia ou em Angra dos Reis. O fato é que as usinas nucleares, como qualquer outra obra de engenharia, são e sempre serão vulneráveis a erros humanos, a desastres naturais, a falhas de projeto e, porque não dizer, a ataques terroristas.

Entretanto os acidentes nucleares têm dimensões que os outros não têm. Eles se propagam pelo espaço (regiões inteiras ficam contaminadas e têm que ser evacuadas e interditadas) e pelo tempo (muitas décadas). Um desastre de avião, por exemplo, atinge os passageiros e, por mais traumático que seja, é um acidente que termina no local e no instante em que acontece. Um acidente em central nuclear apenas começa no instante e no local em que ocorre. Alguns anos depois centenas de pessoas sofrerão males induzidos por exposição a radiações ionizantes, como acontece até hoje com as populações que permaneceram nas cidades próximas a Chernobyl.

Há controvérsias sobre o número de vítimas fatais do acidente de Chernobyl, pois as agências nacionais e internacionais do setor nuclear não divulgam informações confiáveis sobre isso, como, aliás, observa a ex-ministra francesa do Meio Ambiente, Corinne Lepage, em seu livro "La vérité sur le nucléaire", publicado em junho de 2011, onde ela afirma que as autoridades nucleares de seu país minimizam a gravidade dos acidentes que ocorreram em Saint-Laurent-des-Eaux, Chooz, Blaiais e outros, que contaminaram lençóis freáticos e poderiam ter sido catastróficos - revelando, ainda, que os custos da energia gerada em centrais nucleares são altamente subvencionados pelo estado e que tudo o que é divulgado a respeito disso vem revestido de dissimulações e meias-verdades.

A AIEA calculava que, no acidente, teriam perdido a vida "cerca de 20 a 30 pessoas", mas atualmente já admite que esse número deve estar em torno de 4.600. Greenpeace e outras ONGs ambientalistas estimam a área contaminada em 155 mil km2, estendendo-se pela Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.

Com base em sua própria vivência, as diversas associações de vítimas do acidente afirmam que mais de 50 mil pessoas já perderam a vida e cerca de 109 mil bielorrussos e mais de 250 mil ucranianos apresentam, com maior ou menor gravidade, sequelas das radiações recebidas, em consequência da catástrofe.

Joaquim Francisco de Carvalho é pesquisador associado ao IEE/USP, foi diretor industrial da Nuclen (atual Eletronuclear) e presidiu a comissão consultiva criada pela presidência da República, para avaliar o acidente com o césio 137 ocorrido em setembro de 1987.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 21/12/11
Inflação geral derruba crescimento do segmento de higiene e beleza no Brasil

Habituado a crescimentos generosos, principalmente após a aceleração do consumo nas classes C e D, o setor de higiene, perfumaria e cosméticos terá números decepcionantes neste ano.

"Somos mal acostumados com crescimentos reais de dois dígitos. Era isso que planejávamos para 2011", diz João Carlos Basilio, presidente da Abihpec (associação da indústria de higiene, perfumaria e cosméticos).

O setor esperava aumento real acima de 10%, mas deve registrar apenas 4,5% neste ano, segundo Basilio.

"No nosso setor, a inflação não foi tão grande. Até contribuímos para que ela fosse mais baixa. Não tivemos alta de preço que pudesse justificar uma expectativa de crescimento tão pequena."

"O índice do setor foi 30% mais baixo que o IPCA completo e a Fipe", afirma.

O que ocorreu foi o reflexo da alta de preços em outros produtos, que comprometeu o consumo de cosméticos e itens de higiene pessoal.

"Nas classes C, D e E, a inflação acaba com a festa."

O faturamento em 2010 foi de R$ 27,2 bilhões.

NÚMEROS DO SETOR

10% era a estimativa anterior de crescimento real

4,5% é a atual estimativa de crescimento real

8% é a atual estimativa de crescimento nominal

R$ 27,2 BILHÕES FOI O FATURAMENTO EM 2010

QUARTO ECONÔMICO
A operadora Hotelera Posadas, detentora das marcas Caesar Park e Caesar Business, assina hoje contrato para a construção de um empreendimento de três estrelas em Vinhedo (SP).

O novo hotel, que será inaugurado no primeiro semestre de 2014, terá 110 apartamentos.

Será a segunda unidade da bandeira econômica da companhia no Brasil. Há duas semanas, foi anunciada a construção de um hotel em Belo Horizonte (MG).

Até 2016, a companhia abrirá 13 hotéis de três estrelas no Brasil. Outros países da América do Sul, como Argentina, Chile e Peru, também receberão unidades da bandeira One Hotels.

No total, serão 21 empreendimentos no continente. "É um modelo que deu certo no México", afirma o diretor-geral da operadora, Francisco Gutiérrez.

Shopping centers devem atingir meta e crescer 12% em 2011
Mesmo com a crise econômica, o setor de shopping centers deve atingir sua meta para 2011 e crescer 12% neste ano, de acordo com a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers). Até outubro passado, o aumento era de 11%.

"A indústria de shopping consegue se manter como exceção durante a crise, porque engloba muitos segmentos e um compensa o outro", diz o presidente da entidade, Luiz Fernando Veiga.

Nos últimos meses, as vendas de eletrodomésticos, móveis, roupas de cama e eletroeletrônicos têm alavancado os resultados do setor.

Em 2010, o faturamento cresceu 17% ante 2009.

Nos próximos dois anos, 62,3% dos 69 shopping centers que serão inaugurados no Brasil estarão localizados em cidades do interior.

"O custo do terreno nas capitais é dez vezes maior que no interior", afirma Veiga.

Economia... A Usiminas fechou contrato com a Orteng TMEIC para fazer um diagnóstico com o objetivo de otimizar o uso de energia, gases e água na usina de Ipatinga (MG).

...de energia A siderúrgica estima poder reduzir 10% de seu consumo. A ação é parte de planejamento que deve gerar redução anual de R$ 300 milhões a partir de 2015.

EM CRISE

A maioria dos investidores do mundo (52%) acredita que a crise da dívida soberana (que atinge principalmente os países europeus) vai se acentuar em 2012, segundo pesquisa do CFA Institute.

Cingapurianos, sul-africanos, chineses e franceses estão entre os mais pessimistas, com 67%, 60%, 58% e 56%, respectivamente.

No Brasil, 45% dos investidores acreditam que a crise irá piorar, enquanto 31% esperam uma melhora. Outros 22% acham que a situação permanecerá a mesma.

Foram ouvidos 2.726 investidores profissionais. A margem de erro é de +/- 1,85%.