quinta-feira, maio 20, 2010

AUGUSTO NUNES

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

  O complexo de vira-lata foi aposentado pela síndrome do com-o-Brasil-ninguém-pode



“Se o acordo for ignorado, vamos reagir”, avisou Celso Amorim. “Se vierem as sanções, os Estados Unidos vão se dar mal”, rosnou Marco Aurélio Garcia. “Vou esperar para ver o que vem”, completou Lula com cara de quem acordou invocado. Os recados do chanceler de bolso, do conselheiro para assuntos cucarachas e do presidente da potência emergente deixaram claro que a trinca recém-chegada de Teerã não estava para brincadeira. As demais nações que endossassem o acordo com os aiatolás atômicos. Se falassem em sanções contra o Irã, o desacato internacional ao Brasil e à Turquia não ficaria sem resposta.
É possível que tenham ocorrido falhas na tradução. É possível que os gringos tenham imaginado que o repertório de retaliações do Brasil não vai muito além do boicote à Copa do Mundo e do cancelamento do Carnaval. O fato é que ninguém deu importância às frases ameaçadoras. Com o apoio das nações que efetivamente influenciam os destinos do mundo, o governo americano  substituiu o acordo malandro por outra rodada de castigos aos iranianos provocadores. Restou a Lula botar a culpa nos ianques, proclamar-se vitorioso e bater em retirada.
O problema do país tropical, confirmou o mais recente dos incontáveis fiascos internacionais da Era da Mediocridade, não é o complexo de vira-lata. Essa disfunção, diagnosticada por Nelson Rodrigues,  só deu as caras entre 1950, quando a derrota na final contra o Uruguai transformou o brasileiro no último dos torcedores, e 1958, quando a Seleção triunfou na Copa da Suécia. O verdadeiro problema nacional é o contrário do complexo de vira-lata: é a síndrome de com-o-Brasil-ninguém-pode.
Aprende-se ainda no útero que a nossa bandeira é a mais bonita do mundo, embora ninguém se atreva a sair por aí tentando combinar camisa azul, calça verde e paletó amarelo. Aprende-se no berço que o nosso hino é o mais bonito do mundo, muitos sustenidos e bemóis à frente da Marselhesa. Aprende-se no jardim da infância que Deus é brasileiro, e portanto o país do futuro pode esperar que o futuro chegue dormindo em berço esplêndido.
Já chegou, acredita Lula, portador da síndrome em sua forma mais aguda. Ele decidiu que o país com quem ninguém pode é presidido por um governante que pode tudo. Acha-se capaz de solucionar conflitos cujas origens se perdem no tempo com fórmulas tão singelas quanto as usadas nos anos 70 pelo dirigente sindical escalado para entender-se com os patrões. Não enxerga diferenças entre povos divorciados por ódios milenares e um casal em crise. Dá palpites em conflagrações exemplarmente complexas com a desenvoltura de doutor no assunto. Essa mistura de ingenuidade, soberba e ignorância acabou produzindo uma forma muito singular de mitomania.
No cérebro de Lula, vale repetir, a área reservada à acumulação de conhecimentos é um terreno baldio. Por não ter assistido a uma só aula de geografia, ainda sofre para descobrir no mapa-múndi onde fica o Oriente Médio. Mas promete encerrar com duas conversas confrontos sobre os quais nada sabe. Por nunca ter lido um livro de história, ignora que o Irã é a antiga Pérsia, confunde o xá com chá, não faz a menor ideia de quem foi Khomeini. Desconhece o passado que produziu os ahmadinejads do presente. Mas chama de amigo um vigarista juramentado que promoveu a parceiro preferencial.
Entre os flagelos que atormentam o Brasil figuram mais de 10 milhões de analfabetos, um sistema de saneamento básico que só cobre metade das moradias, cicatrizes apavorantes no sistema de saúde e de educação, favelas miseráveis penduradas em morros sem lei, fronteiras fora do alcance do Estado, zonas de exclusão que encolheram o mapa oficial em milhões de quilômetros quadrados, a violência epidêmica, a corrupção endêmica, o primitivismo político, uma demasia de carências a eliminar. O presidente faz de conta que isso é conversa de inimigo da pátria e capricha na pose de conselheiro do mundo.
Candidato a secretário-geral da ONU, Lula já é um dos favoritos na disputa do título de idiota útil da década.

BRASIL S/A

De espertos e tolos

ANTONIO MACHADO
Correio Braziliense - 20/05/2010
 
Queda livre da Bovespa e do real é só especulação, sem nexo com a saúde da economia nacional

Quem se fiar no que a bolsa de valores e o mercado cambial andam dizendo sobre a economia brasileira não deixa margem para dúvidas: ou se acha muito esperto ou é tão ingênuo que está mais para tolo que para inocente. Os problemas que acometem a economia não são os refletidos pelo mercado de capitais e pelo preço do dólar.

A queda livre da Bovespa, com o índice de preço das ações abaixo de 60 mil pontos, flertando com 55 mil, e isso depois de roçar 72 mil no início de abril — uma retração de 17% —, e do real, cotado a R$ 1,85, vindo de R$ 1,75, são movimentos, por assim dizer, “avulsos”, desconectados da situação efetiva da economia. Um país cujo maior problema imediato é esfriar a taxa de expansão do consumo para evitar uma pressão inflacionária em formação, mas não já enraizada, não se identifica com ataque de nervos na bolsa.

Se o preço das ações captado pelo índice da Bovespa está caro ou barato, isso é problema de expectativas quanto aos resultados das empresas, mas nada tem a ver com o receio de frustração devido ao aumento de juros pelo Banco Central. A economia vai desacelerar-se — não sofrer uma freada brusca. Nem se pode dizer que o país sofra a contaminação dos problemas europeus. É achar que somos parvos.

Um país com reserva de divisas de US$ 250 bilhões, mais do que o estoque da dívida externa, nenhum sinal de fuga de capitais e mais um caminhão de dólares retidos no exterior pelos exportadores, que há tempos estão autorizados a interná-los quando quiserem, também não está refletido pela desvalorização do real de 5% em um só mês.. Se o real deveria estar mais para R$ 1,90, conforme o exportador, que para R$ 1,75, o patamar que ajuda o BC a conter os impulsos da inflação, essa é outra discussão. Ela se fará adiante, não agora.

O que há a considerar é que essa volatilidade cambial nada tem a ver com uma fraqueza estrutural das contas externas. O superávit comercial vem definhando, mas está mais sujeito ao aquecimento do mercado interno, que demanda importações, que à economia global em marcha lenta. Adicione-se que o processo de correção já começou.
PIB não vai capotar 
Se o BC já empinou a Selic, podendo levá-la a 12% em prazo curto, conforme as previsões, a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) deverá perder força. De aumento de 7% ou mais este ano, e cerca de 10% no primeiro trimestre, segundo um índice antecedente do BC, o crescimento do PIB será levado pela taxa de juros, maior controle fiscal e, se preciso, por ações pontuais sobre o crédito para uma velocidade ao redor de 4,5% em 2011. Mais ou menos, é o que virá.

Sobre isso os candidatos à sucessão de Lula não divergem. O que questionam é a ênfase do instrumento: se mais com o BC, e à margem do debate se a taxa de juros deve ou não manter a centralidade que ocupa no governo Lula, ou com maior rigor sobre o gasto fiscal.
Euro distante do real 
Mas o ponto a reter é que nada disso indica que o país esteja com problemas de gravidade sideral ou que sofra o contágio da crise da Europa. Está claro, como diz o analista Sidnei Nehme, da corretora NGO, que há uma crise séria do euro. Mas há distinções. O real é afluente do dólar, não do euro, os bancos brasileiros estão livres dos problemas europeus e o país é credor líquido em moeda externa.

O pesadelo da zona do euro parece que vai longe. A Alemanha acaba de proibir a venda a descoberto de ativos (em que o vendedor vende para entrega futura um título que não possui) e a Itália suspendeu o conceito de marcação a preço de mercado dos papéis que compõem a carteira dos fundos registrados no país. Tais ações são movimentos de defesa contra a especulação sobre o euro, mas com interferência reduzida sobre as condições e cenários da economia brasileira.
Onda de especulação 
“Não somos uma ilha, mas as reações internas dos mercados não são compatíveis com a situação do país”, diz Nehme. O dado crucial é o que contam os fluxos externos: há mais entrada de dólar que saída. Nehme diz que há um “efeito onda, articulado pelos bancos”, com o sentido de sugerir uma contaminação artificial do real pelo euro.

Então, fica assim: a Europa em crise, o real se deprecia, o dólar dispara, a Bovespa despenca, e os assustadiços tomam cano. Quando a poeira assentar, tudo muda. Nem a banca acredita no pior, já que as suas posições cambiais apontam para a apreciação do real. O que pode ser feito? Primeiro, manter a calma. E segundo, sugere Nehme, o governo “blindar” um pouco mais o país contra a extravagância de especuladores no mercado de derivativos e na Bovespa.
O que deve preocupar 
Os problemas de fundo da economia nacional, a bolsa e o dólar nem de longe tangenciam. O fiscal é o mais sério, mas não de solvência e sim de qualidade do gasto. Para o aplicador em papéis do Tesouro, tanto faz se a dívida pública estiver controlada, os juros forem atraentes, e a inflação, dominada. Por tal critério, o Brasil está melhor que os EUA e a Europa. Não há riscos.

O risco que há é contra nós, brasileiros, caso o dinheiro público continue a fluir para gastos ociosos, como tem ocorrido nesta reta final do governo Lula. O crescimento movido à demanda é um beco sem saída, o que já levou o governo a falar em controle fiscal. E, sem poupança interna, a outra face do problema, o ciclo de investimento se esgota em 2011. ]

JAPA GOSTOSA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Pensaram que a crise já era?

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo - 20/05/2010
 

Já se sabia que a União Europeia estava atrasada no processo de recuperação da economia mundial. Entre os desenvolvidos, enquanto os Estados Unidos mostravam uma forte retomada expansão pouco acima de 3% neste ano e algo parecido no próximo e mesmo o Japão exibia taxas de crescimento de 2% para o mesmo período, a Europa se arrastava na casa do 1%. Alguns países importantes, como a Espanha, nem conseguiam escapar da recessão, deixada para trás pela maioria das nações no segundo semestre de 2009.

Mas não era um caso desesperador.

Economia travada, excessivamente regulamentada, com carga tributária muito elevada e gastos públicos idem, a União Europeia, mesmo em condições normais, cresce pouco.

Assim, crescendo qualquer coisa já estava razoável.

Parecia tudo normal, portanto. Depois de seguidas revisões para cima, o FMI cravou, em seu último relatório, que a economia mundial deveria crescer 4,3% neste e no próximo ano, ritmo muito bom, com os emergentes bastante acelerados.

Aí vem a crise das finanças públicas europeias, que colocou no cenário dois espectros. Um, a possível volta de uma crise bancária internacional.

Outro, paradeira e conflitos políticos em diversos países da região.

Como os bancos estariam de novo envolvidos? Simples, são os bancos, principalmente, que financiam os governos.

Estes, além de cobrarem impostos, emitem, para arrumar mais dinheiro, os chamados bônus soberanos, títulos que são comprados por bancos e investidores que procuram a segurança de juros pagos rigorosamente no prazo. Logo, quando os governos não pagam, o prejuízo se espalha pelo sistema financeiro global.

Lá pelas tantas, há semanas, o governo grego disse que não teria como pagar os quase 9 bilhões de euros que venceriam ontem. Acabou pagando, com dinheiro emprestado pela União Europeia e pelo FMI.

Não serviu para acalmar a situação, porém, porque o caso grego havia chamado a atenção para o problema mais amplo as dívidas públicas elevadas de muitos governos que, ainda por cima, continuavam trabalhando no vermelho, ou seja, gastando mais do que arrecadam.

A possibilidade de calote foi afastada pelo pacote específico de ajuda à Grécia e, depois, pela formação de um fundo de estabilização, com a impressionante soma de US$ 1 trilhão, posto à disposição de países em dificuldades na rolagem de seus títulos.

Essas duas providências foram recebidas com alívio e aplauso, mas a paz durou pouco. O problema de fundo não estava resolvido. A Zona do Euro, da moeda comum, inclui 16 países, com enormes diferenças de renda, competitividade e na situação das contas públicas. Há gastadores e poupadores, exportadores e importadores, mas todos com o mesmo Banco Central, a mesma moeda, a mesma política de juros.

Assim, reparem na situação: nos atuais pacotes de ajuda aos elos mais fracos, países poupadores e prudentes estão pagando a conta dos gastadores.

Isso provoca reação negativa nos fornecedores de recursos (Alemanha, por exemplo) e ressentimentos nos recebedores, pois a ajuda é condicionada a dolorosos programas de ajuste, naquele velho estilo: cortes de salários e de pensões, reduções de gastos, aumento de impostos.

Questões: até quando pode ir esse arranjo, pelo qual os gastadores acabam tendo um perdão? Como se fará para colocar na linha os gastadores? E como os países em dificuldades farão para ajustar suas contas, sem cair numa profunda recessão que sempre leva a crises políticas? Programas de ajuste sempre funcionam e criam as condições para a retomada do crescimento, desde que implementados seriamente e ao longo do tempo. Para isso, precisam de suporte político. Ontem, por exemplo, lideranças do governo e da oposição de Portugal colocaram-se de acordo em relação a esse ajuste, um passo decisivo. Mas a Grécia, onde o problema é maior, está longe dessa coesão.

Finalmente, existe a questão de longo prazo da sobrevivência da moeda comum em um ambiente tão diversificado. E não se trata de coisa pouca. O Produto Interno Bruto da União Europeia, incluindo os países que não usam o euro, passa dos US$ 16 trilhões, maior do que o americano.

A corrente de comércio, exportações mais importações, chega aos US$ 4 trilhões/ano. O que acontece lá afeta o mudo todo, pela via financeira e da economia real.

Eis o ponto em que estamos: mal saídos de uma crise, topamos com uma outra. Daí o susto e a instabilidade dos mercados. Pode-se dizer que as lideranças europeias se atrasaram nos primeiros momentos, mas finalmente agiram e ganharam tempo.

Passou a emergência, mas há muito por fazer.

Eta mundo complicado!
Mal saímos de uma, já topamos com outra.

Daí o susto

JOSÉ SIMÃO

Seleção! Maneta, Perneta e Chupeta!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/05/10


Por que o Lula não levou a dona Marisa pro Irã? Tava louco pra vê-la de burca. PRA SEMPRE!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Placa na porta do Butantan: "Aceitamos sogras para reposição de estoque". E mais uma pra minha série Os Predestinados. Tem uma médica proctologista em BH: Debora TOCAFUNDO e Lima! Rarará!
E o Irãnio? Continua o bate-boca!
A China aceita o acordo e aceita as sanções da ONU. A China aceita qualquer coisa. É do Bladesco? É cheque do Bladesco? Rarará!
Eu gosto do ministro Celso Amorim. Com aquela barba e aquele cabelo de porco-espinho. Celso AMOURIÇO! Parece um ouriço.
Aliás, sabe o que ele falou pro Ahmadinejad, Erdogan e Medveded?
"Ou vocês se entendem ou eu espeto todo mundo!" Rarará! Esta é a maior ameaça do ministro Celso Amorim ao Conselho de Segurança da ONU: "EU ESPETO TODO MUNDO!".
E a Hillary tem cara de abelhuda!
Ela quer descontar os chifres que levou do Bill Pinton no resto do mundo! E continuo revoltado porque o Lula não levou a dona Marisa pro Irã. Tava louco pra ver a dona Marisa de burca. PRA SEMPRE! Rarará!
E a ONU só serve pra duas coisas: fazer discurso e usar aquele carro, com bandeirinha no para-lama, que pode estacionar em qualquer lugar de Nova York. A ONU é boa pra estacionar! É isso: a ONU só serve pra estacionar! E avisa o Dunga pra levar o Maneta, o Perneta e o Chupeta!
E tem que levar inteiro o glorioso time de Guanhães. A zaga a gente já publicou: Frente Velha, Nem Cu de Frango, Zóio, Bafo e Três Peidim. O resto? Precata, Lucio Mijão, Boca D'Água, Tiu e TUTUCA BOFE BOFE! E o técnico: Joãozinho Pica Fumo. No lugar do Dunga, Pica Fumo! E você está achando esses nomes estranhos? Sabe como se chama o Dunga? Carlos Caetano Bledorn Verri. E sabe como se chama o Doni?
Doniéber Alexander Marangon. E o Kaká? Ricardo Izecson! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Manaus tem uma igreja chamada Igreja do Pobre Diabo. Ueba. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Sapiência": a sabedoria do sapo! O lulês é mais fácil que o ingrêis.
Nóis sofre mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

TIRANDO O TIME

MERVAL PEREIRA

Visão nuclear 
Merval Pereira 

O Globo - 20/05/2010

A reincidência do vice-presidente José Alencar na defesa da bomba atômica como arma de dissuasão, garantidora da paz, coloca uma questão política importante na discussão internacional sobre o programa nuclear iraniano e a posição do Brasil de negociador de um acordo que formalmente almeja recolocar o Irã nos trilhos institucionais, mas que na prática apenas lhe permite ganhar tempo para que continue com seu programa longe da supervisão dos organismos internacionais e a salvo das sanções da ONU.

Não se deve considerar uma mera irrelevância o repetido comentário de Alencar, a não ser que se queira que o governo brasileiro como instituição não seja responsabilizado por suas palavras e atos.

É sabido que há setores dentro do governo que avaliam como um erro estratégico a política que desaguou na assinatura pelo Brasil do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1997, no primeiro governo de Fernando Henrique.

E nesse raciocínio político está a raiz do atual confronto do Brasil com os cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, especialmente os Estados Unidos.

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que até pouco tempo era o segundo homem do Itamaraty, e hoje é ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, responsável portanto por prever as ações que levarão o país ao desenvolvimento no longo prazo, considera que o Brasil usou o pretexto de uma aliança estratégica com a Argentina para aderir a todas as iniciativas americanas, especialmente na área militar.

Nessa visão geopolítica está resumida a diretriz da atual política externa brasileira.

O que na ocasião foi considerado pelo Itamaraty um gesto de preservação de nossa liderança regional, ao não permitir que a desconfiança dos argentinos sobre nossas intenções nucleares, que foram verdadeiras na época dos governos militares, gerasse um ambiente de tensão política, hoje, pelo mesmo Itamaraty, é visto como uma capitulação diante do poder hegemônico dos Estados Unidos.

Já na campanha presidencial de 2002, Lula provocou grande polêmica quando criticou a adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, e teve que voltar atrás.

O tratado vigora desde 1970, veta pesquisas para a produção de bombas atômicas, e foi assinado por 187 dos 190 países da ONU, mas ratificado por menos da metade.

O governo brasileiro de maneira geral, através dos ministros ligados à área, em especial o Itamaraty, e o próprio presidente Lula em diversas ocasiões, defendem a tese de que o TNP não é cumprido, pois não há movimentos realmente concretos pelo desarmamento nuclear.

Os recentes acordos do governo Barack Obama com a Rússia sobre ogivas nucleares não são levados na devida conta pelo governo brasileiro.

Embora a tese oficial da diplomacia brasileira seja de que é preciso desarmar todos, é um pensamento comum entre as autoridades brasileiras que, se alguns países podem ter a bomba atômica, como Paquistão e Israel, outros deveriam ser acolhidos no clube nuclear.

Ou que o verdadeiro problema do Oriente Médio é que Israel tem a bomba atômica, o que justificaria a decisão do Irã de também ir atrás do desenvolvimento de armas nucleares como fator de “dissuasão”, como o vice-presidente quer demonstrar.

Quando era o todo poderoso chefe do Gabinete Civil do governo Lula, José Dirceu defendia abertamente a ideia de que a bomba atômica era uma arma política que faria falta ao Brasil no confronto internacional, e destacava que dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o único que não tinha a bomba era o Brasil.

Essa maneira de pensar a geopolítica mundial, e mais o convencimento, com base na realidade do mundo atual, de que está havendo uma mudança de paradigmas, e que os países emergentes assumirão o comando político do novo mundo multipolar, na mesma proporção em que suas economias estão se destacando em relação às da Europa, Estados Unidos e Japão (o G3), pode ter levado o governo brasileiro a dar um passo maior que suas pernas.

A posição da China era a grande esperança do governo brasileiro. Mas, até o momento, não há indicação de que a China se colocará contra os demais países do Conselho de Segurança da ONU.

Ao contrário, o governo chinês assinou a nova proposta de sanções contra o Irã, embora tenha ressaltado que as aprovava porque elas eram direcionadas contra o programa nuclear iraniano, e não contra “o povo” iraniano.

É sintomático que o governo chinês tenha mais cautela do que o do Brasil ou da Turquia, quando se trata de uma confrontação definitiva com as potências ocidentais.

A China é realmente a grande potência econômica no mundo atual e joga um papel fundamental no equilíbrio mundial.

Talvez por isso não tenha tanta necessidade de mostrar sua força, nem interesse em se confrontar com os Estados Unidos.

O aiatolá Ali Khamenei, líder religioso supremo do Irã, deu o toque de contraposição aos Estados Unidos quando recebeu o presidente Lula, destacando a altivez com que o governo brasileiro tem enfrentado a posição americana na disputa do programa nuclear iraniano.

Colocar a intermediação do governo do Brasil nesses termos só foi possível com a aquiescência da diplomacia brasileira.

Oficialmente, em todo esse processo de negociação sobre o programa nuclear iraniano, o governo brasileiro tem ressaltado o apoio ao uso pacífico da energia nuclear.

Essa postura deveria comprometêlo, na intermediação com o Irã, a encaminhar as conversações no sentido de incluir seu programa sob observação e supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Mas aí Amorim diz que essa questão é parte da soberania de cada país, assim como o governo brasileiro considera indevidas as pressões para que o Brasil assine o protocolo adicional do TNP, que amplia a fiscalização da AIEA.

O que gera desconfiança sobre as reais intenções do governo brasileiro.

MÔNICA BERGAMO

Tabela 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 20/05/2010

O número de procedimentos realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) está crescendo em ritmo acelerado. De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, que será divulgado nos próximos dias, foram 3,1 bilhões de coletas de material, exames e cirurgias de menor complexidade realizadas no ano passado -um aumento de 63% em relação a 2003, quando foram realizados 1,9 bilhão de procedimentos.

EM CASA
O número de consultas também aumentou. Foram 546 milhões em 2009, contra 371 milhões em 2003 (aumento de 47%). O governo credita o crescimento ao Programa Saúde da Família, que vai à casa e consegue diagnosticar problemas em pacientes que são então encaminhados ao SUS.

MÉDIA
Entre as principais enfermidades descobertas pelo Saúde da Família estão hipertensão, diabetes e doenças infecciosas.

ROUPA CARA
Com o preço do algodão no mundo subindo "cerca de 35% em dois meses", as roupas também devem ficar mais caras no Brasil. A previsão é de Edison de Annunzio, sócio da Equus.

MERCADO CHINÊS
As novas projeções da demanda por algodão por parte da China têm mantido os preços dos contratos futuros em alta. Responsáveis pelo maior consumo da commodity no mundo, os chineses devem ampliá-lo em 28% no segundo semestre, segundo análises do Departamento Americano de Agricultura. A produção brasileira deve crescer só 5%.

DINDIM NA ORQUESTRA
A Osesp (Orquestra Sinfônica de SP) renovou por cinco anos o contrato de gestão que regula o repasse de verbas do governo de SP para a instituição. Serão R$ 245,8 milhões em cinco anos -contra R$ 215 milhões do período anterior. A porcentagem de recursos privados captados pela orquestra deverá passar de 12% para 20% do total repassado pelo Estado.

METAS MUSICAIS
O número de concertos da Osesp por ano, segundo o contrato, deve aumentar de 95 para 113 (20 deles gratuitos ou a preços populares). Os concertos de câmara passam de 17 para 90 (36 gratuitos ou a preços populares). A Osesp também deverá iniciar um projeto educacional para 70 mil crianças.

TIJOLO
Com estreia inicialmente prevista para julho, o reality show "Extreme Makeover Social" (Record), apresentado por Cristiana Arcangeli e que vai construir creches em áreas carentes, foi remarcado para setembro. O motivo foi a demora para o início das obras.

CONTAS A PAGAR
A prefeita de Natal, Micarla de Souza (PV) vai pedir ao senador José Agripino Maia (DEM) para interceder junto ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, pela cidade. O município estaria ameaçado de perder o posto de subsede da Copa de 2014 para Belém. Agripino, amigo do dirigente, "sempre deu suporte" a ele "no Senado".

CHEGANDO NA COHAB
O vereador Netinho de Paula (PC do B) conversa com o publicitário Nelson Biondi, marqueteiro de José Serra (PSDB) em 2002, para fazer sua campanha para o Senado. Outro nome cotado é o de Duda Mendonça.

300 ANOS DE PROCESSOS
Pelé tem pedido que o filho Edinho, auxiliar técnico do Santos F.C., converse com Neymar sobre sua ausência na lista de Dunga para a Copa de 2010. "Ele tem 300 anos de vida pela frente. Com o futebol que tem, daqui a pouco estará lá na seleção", diz o Rei. Mandou também um recado bem-humorado para o atacante, famoso por imitar o autógrafo de Pelé. "O desgraçado tá falsificando minha assinatura. Falei pro Edinho dizer pra ele ficar esperto, que eu vou processá-lo."

SEPARAÇÃO
A atriz Regiane Alves e o músico Thiago Antunes terminaram o casamento. Eles estavam juntos havia cinco anos.

RECOMEÇO
A C&A contratou o estilista Renato Kherlakian, ex-dono da Zoomp, para criar uma marca de jeans que será lançada em setembro. Serão cem modelos, entre calças, shorts e bermu´ das, para homens e mulheres. "É um jeans ‘premium’. Tive de mudar os fornecedores da C&A, pois não atingiam o meu padrão de qualidade", diz. As calças serão vendidas por até R$ 150 e terão números inter´ mediários, como 37 e 39.

CURTO-CIRCUITO
O BABY BUM OUTLET, bazar de moda infantil, acontece de hoje a domingo, das 10h às 20h, no Instituto Tomie Ohtake. Entre as grifes participantes estão Isabela Capeto e Anacaloca.
A CANTORA Alcione faz show do DVD "Alcione Acesa" nos dias 25 e 26, no teatro Bradesco, às 21h. Classificação: livre.
O EVENTO Viva a Mata, da ONG SOS Mata Atlântica, tem abertura hoje, às 19h30, no prédio da Bienal do Ibirapuera.
O GRUPO Choro da Casa se apresenta hoje, às 21h, no teatro Coletivo, na rua da Consolação. Classificação: livre.
A MODELO Cassia Ávila faz festa de lançamento de seu site hoje, a partir das 21h, no Terraço Itália, no centro.
O PRÊMIO África Brasil, do Centro Cultural Africano, acontece hoje, às 20h30, no Club Homs, na avenida Paulista.
A BOATE Heaven promove festa para o rapper americano Chris Brown, hoje, às 23h30. Classificação etária: 18 anos.
A GRIFE Lucy in the Sky inaugura hoje, às 10h, novo espaço no shopping Iguatemi, no piso Faria Lima.

GOSTOSA

ELIANE CANTANHÊDE

Vitória moral
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/05/10


BRASÍLIA - O projeto Ficha Limpa, aprovado por unanimidade no Senado, é mais ou menos como o acordo mediado pelo Brasil para evitar sanções contra o Irã: um avanço, mas ainda insuficiente para gerar resultados consistentes.
O projeto é de iniciativa popular, teve 1,6 milhão de assinaturas e só começou a tramitar em setembro passado, comprovando que, quando quer, o Congresso pode. E que a opinião pública -ou publicada, como prefiram- não move montanhas, mas pesa no Parlamento, sobretudo em ano eleitoral.
Em resumo, essa gente que já foi condenada por mais de um juiz (ou seja, por um colegiado) perde o direito de registrar candidatura e se torna inelegível por oito anos após o cumprimento da pena.
A decisão tem efeito moral, mas, na prática, ainda há muitas e importantes dúvidas rondando o Ficha Limpa. A primeira é quanto ao confronto entre a decisão de ontem do Congresso e uma outra, de 2008, do Supremo Tribunal Federal, que ratificou a soberania da presunção de inocência.
Ou seja: pelo STF, só é considerado culpado, e portanto sujeito a inelegibilidade, aquele (ou aquela) que for condenado(a) por decisão tramitada em julgado, sem possibilidade de recursos protelatórios.
Outras dúvidas são igualmente pertinentes. A regra vale para a eleição de outubro ou só para a seguinte? Quantos parlamentares atuais são atingidos? Ex-governadores hoje inelegíveis por três anos vão passar a ser por mais cinco?
A nova lei, assim, pode ser considerada uma vitória nossa contra o vale-tudo na política. Mas vamos pensar juntos: se atingisse dezenas de deputados e senadores, ela seria mesmo aprovada? O juiz e deputado Flávio Dino (PC do B-MA), que a defendeu, tem sérias dúvidas.
Ontem foi dia de comemoração, como foi quando da assinatura do acordo do Irã. Hoje talvez não seja tanto. Depende de como o Ficha Limpa e o acordo vão cair na real.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Vitória de Pirro? 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 20/05/2010

Os ladrões da joalheria Tiffany devem ter se decepcionado ao chegar em casa. Pelo que se apurou junto a fontes policiais, o valor do roubo não chega a R$ 1,5 milhão.

A assessoria do Shopping Cidade Jardim, que gastou R$ 6 milhões em segurança com 112 câmeras, diz desconhecer o valor. A Tiffany repete a versão "nada sei".
Roleta iraniana
Ao ser questionado pelo Estado, anteontem na Europa, sobre o risco diplomático que Lula correu ao se meter na questão iraniana, Marco Aurélio Garcia ponderou. Afirmou que o presidente sabia que o passo significava uma aposta grande. E que ele poderia comprometer as intenções do Brasil em conquistar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU.

"Nós estamos com eleições no Brasil e, obviamente, isso seria explorado pela oposição como uma aventura ou como um fracasso. Ou, ainda, dizendo que somos aliados do Irã. Mas achamos que, mesmo assim, valeria a pena", disse. Valeu?
My name is Bond
Entra no ar hoje o filme institucional que une, definitivamente, as marcas Itaú e Unibanco. Criado pela Africa.

O slogan não poderia ser melhor: "Meu nome é Itaú Unibanco, mas pode me chamar de Itaú". A peça foi gravada em evento interno da empresa, que reuniu gerentes de todas as áreas do Brasil inteiro.
Coisa de pele
Atenção, cardíacos: cuidado ao cruzar a avenida Paulista hoje, ao meio-dia. O "bodypiercer" Rafa Gnomo será suspenso por ganchos presos à pele a 50 metros de altura. Ficará em posição vertical por três horas... twittando. Tudo para divulgar a série Tabu América Latina, da NatGeo.
Amarras
As indicações de que Armínio Fraga estaria vendendo o controle da Gávea Investimentos tiveram repercussão política: a de que o ex-presidente do BC poderia voltar a exercer cargo em eventual governo de José Serra.

Detalhe: operações desse tipo costumam exigir da "estrela" do time que ela continue no grupo por ao menos três anos.
O prego e a parede
Pedro Luís do Monobloco aceitou: dará palestra na FlipZona. E leva sua mulher, Roberta Sá. Só não se sabe se darão canja...

Ecos do passado

O escritório de Eros Grau, do STF, e seus advogados associados foram condenados pela Justiça. Teriam firmado sem licitação mais de 50 contratos com o Metrô de São Paulo até 2003.

Advogados sócios e mais dois funcionários da cia. de transporte terão que devolver mais de R$ 300 mil. O processo está na 11ª Vara da Fazenda Pública. Os réus avisam: vão recorrer.

Bolo de noiva
Aécio desembarca das férias sábado, em BH. Em tempo para ir a uma festa de casamento.

Contra-ataque
Alfredo Sirkis informa: está entrando com nova consulta no TSE. Quer tirar Cesar Maia da coligação em torno de Gabeira, mas sem perder o valioso tempo de horário eleitoral do DEM.

Inter-green
Guilherme Leal, vice de Marina, embarcou ontem para Nova York. Não, ele não vai fazer o circuito Itaú-Bovespa-Homem do Ano. E, sim, participar de seminário do fundo Generation, cujo chairman é Al Gore.

Caindo na real
A princesa Mathilde iniciou um projeto assistencial no Brasil. A Federação das Indústrias da Bélgica construirá uma quadra de esportes na Aldeia SOS de Poá.

Na frente

Dilma Rousseff avisou a assessores. Quer dar um giro pelos museus de Nova York. E Michel Temer também aderiu ao expresso Meirelles: voou ontem para lá.

Um dia foi suficiente para esgotarem os ingressos dos concertos de Yo-Yo Ma, pela Sociedade de Cultura Artística. O violoncelista se apresenta em junho, na Sala São Paulo.

A Galeria Marilia Razuk abre, hoje, exposições de Renato Dib e José Lourenço.
Carlinhos Brown vai representar o Brasil em grande estilo no Festival Mawazine, no Marrocos. Segunda, ao lado de Elton John e B.B. King.

Lourival Sant"Anna comanda, à partir de hoje, curso sobre o Irã. Na Casa do Saber.
É amanhã o coquetel de abertura do Ponto do Livro, nova livraria na Vila Madalena.
Nana Vieira comemora. Suas fotos de São Luiz do Paraitinga, feitas antes da destruição, vão percorrer 50 cidades do Estado de SP durante cinco anos. Atendendo ao convite da Fiesp/Sesi.

Ainda bem que Serra e Kassab não frequentam a Câmara dos Vereadores. A coluna flagrou, ontem, um forte cheiro de cigarro no quinto andar da casa.

GOSTOSA

ROBERTO MACEDO

'Equipe' econômica em jogo de embaixadas
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo - 20/05/10

Essas embaixadas são as dos campos de futebol e outros locais onde praticadas, com os jogadores às vezes disputando entre si quem melhor as faz. Presumo que têm esse nome porque os "embaixadores" - que incluem uma famosa praticante, a Milene Domingues - tocam a bola embaixo dela. Aqui elas serão metáfora para a forma de atuar da "equipe" econômica do atual governo federal, cujos membros costumam agir individualmente, a mostrar sua habilidade. Pode ser também o caso de uma equipe desses "embaixadores". A metáfora será estendida a outros jogadores.

Certa vez, assisti a uma disputa de embaixadas. Ganhou alguém que, além do tempo em que manteve a bola sem cair no chão, fazia-a chegar a alturas maiores do que as alcançadas pelos demais.

No semelhante torneio governamental, as bolas são os gastos e a taxa de juros - a Selic -, com que lidam os membros da "equipe". As de gastos chegam das várias áreas do governo. Nos jogos mais solenes, vêm do cartola-mor e vieram também da cartola maior. Ao recebê-las, os ministros da área econômica demonstram grande disposição de atender a quem pede o jogo ou manda nele, sempre em busca de aplausos fáceis da plateia.

É sabido que o atual governo federal vem gastando adoidado. Uma das bolas que mais vão para o alto, e por mais tempo, é a de gastos com pessoal, que na segunda-feira levou a esta manchete deste jornal: Governo Lula deu reajustes de até 576%. Nessa área, pode-se conjecturar, com boa dose de segurança, que nunca antes neste país houve tantas contratações e salários tão elevados relativamente ao mercado de trabalho em geral. Isso em benefício de servidores que também já têm aposentadoria privilegiadíssima relativamente aos coitados que só chegam aos parcos benefícios do INSS, num jogo incentivado e até aplaudido mesmo por "líderes" sindicais dos trabalhadores ligados a esse instituto. Tais "líderes" fazem seu próprio espetáculo jogando bolinhas de gude ou de reajustes adicionais até menores que um ponto de porcentagem para aposentados desse grupo, que com seus colegas da ativa acabam pagando a conta dos funcionários beneficiados pelas embaixadas vencedoras nos critérios de tempo e altura.

Há também outro jogo de bola para o alto na forma de um orçamento paralelo em que o governo emite títulos da sua dívida e os entrega ao BNDES, em valores que já estão perto de R$ 200 bilhões, para levantar recursos e emprestá-los conforme a sua conveniência, sem maiores satisfações ao Congresso Nacional. Com a agravante de que é um jogo subsidiado pelo Tesouro Nacional, que patrocina a diferença entre os juros pagos pelos financiados e o que custa a dívida pública assim criada. Juntamente com o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa também entraram na disputa, chutando o crédito para cima e atraindo bancos privados como rivais.

Para espanto dos economistas preocupados com essas e outras embaixadas, o governo veio pomposamente com a notícia de que vai cortar R$ 10 bilhões de gastos, essa "enormidade" num orçamento que deve passar de R$ 600 bilhões este ano. Como de hábito, deve estar cortando despesas orçadas, usualmente superestimadas, depois de ter elevado por vários anos, e até para o próximo, despesas não passíveis de compressão em termos nominais.

Creio que, se está cortando alguma coisa, o governo o faça não para abandonar as embaixadas, mas, talvez, porque sua imoderação ao gastar é um dos motivos que levaram o Banco Central (BC), da mesma "equipe", a chutar a bola dos juros para cima, agravando o custo da dívida pública para o Tesouro. Também à moda das embaixadas, o BC promete repetir o movimento até que o dragão da inflação, agora despertado, pare de jogar preços para o alto.

A propósito, o BC, nas atas de seus jogos com a taxa Selic, não deixa de mandar recados diplomaticamente preocupantes a seus colegas de "equipe" que jogam com os gastos. Fala também do crédito, mas pouco pretende fazer nessa área, a não ser encarecê-lo. A última ata, por exemplo, diz que nos próximos trimestres a trajetória do comércio será estimulada por transferências governamentais e pela recuperação das condições de acesso ao crédito, entre outros fatores, incluindo incentivos setoriais temporários concedidos pelo governo. Mais adiante, depois de concluir que a economia se encontra em forte expansão e pressiona a inflação, também diz que "a continuidade e a própria intensificação desse quadro dependem de forma importante dos efeitos das medidas de estímulo fiscal e (...) das transferências governamentais (...) nos meses à frente..."

No final da ata, o BC promete agir de forma "incisiva" para acalmar a inflação assim estimulada também pelos colegas de "equipe". Começou "embaixando" a Selic de 8,75% para 9,5% ao ano e promete continuar o jogo. Com tantos gastos públicos e tanto crédito, deve ir longe.

Num lugarejo vizinho a uma cidade onde morei, os torcedores, por falta de talentos futebolísticos locais, aplaudiam jogadores que se excediam em chutões, como em tiros de meta ou mesmo para o alto. No caso, esse vizinho da "equipe" econômica é o Congresso Nacional. Vendo a atitude concessiva do Poder Executivo e a perspectiva de um torneio eleitoral, atua também como "embaixador" com sua agenda de votações que ameaçam elevar a bola dos gastos governamentais em mais algumas dezenas de bilhões de reais.

A imprensa registra bem todas essas embaixadas. Contudo, apesar de manchetes gritantes como a citada, o assunto não causa maior comoção, nem reação em contrário da sociedade, que não percebe que nesse jogo também está o futuro do País.

Se não interrompido, terminará, à moda grega, com dois grandes perdedores, os cidadãos em geral e quem estiver no governo quando o desastre chegar.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

EUGÊNIO BUCCI

O homem sem fome e o jornalismo inapetente
Eugênio Bucci 
O Estado de S.Paulo - 20/05/10

O mestre iogue Prahlad Jani, da Índia, tem 83 anos. Afirma que há mais de 70 não come nada. E passa bem. Há poucos dias, ele se deixou internar num hospital na cidade de Ahmedabad, onde uma equipe de 30 médicos, escolhida pelo Ministério da Defesa indiano, dedicou-se a monitorá-lo minuto a minuto. Os resultados divulgados são simplesmente inacreditáveis: ao menos durante o período em que esteve sob vigilância, o religioso efetivamente não ingeriu nem expeliu coisa alguma.

Como? É verdade? Bem, quem quiser saber mais sobre a história talvez apanhe um pouco. As notícias são escassas e vagas. Há referências a Prahlad Jani em sites variados, mas a internet é generosa e abundante em relatos que não merecem crédito. De calúnias contra os candidatos à Presidência da República (fantasias de mau gosto) a depoimentos minuciosos sobre excursões em discos voadores (mirações "do bem"), o inacreditável é o que não falta. O caso do iogue, porém, foi registrado no Brasil em publicações sérias. Dou apenas dois exemplos. Este diário, em sua edição de 11 de maio, deu poucas linhas a respeito, na página A20: Iogue hindu não come nem bebe. No sábado, a revista Época trouxe algo mais alentado: duas páginas com mais dados e algumas ironias ? como chamar o iogue de "autossustentável" e afirmar que, ao não comer nada, o mestre hindu realizou "o sonho de boa parte das mulheres".

Piadas à parte, das duas, uma: ou estamos diante de um embuste desprezível (e ainda não desmascarado) ou diante de um fenômeno que põe em xeque o que imaginamos saber sobre biologia. Difícil pensar num acontecimento mais interessante e de maior relevância. Mesmo assim, a maior parte da imprensa dá de ombros. A revista Época, que procurou apurar um pouco mais, foi ouvir o médico cardiologista Nabil Ghorayeb, do Hospital do Coração, em São Paulo, que descartou a hipótese sem a menor hesitação: "Isso não existe, você não pode ficar sem nutrientes. De algum lugar ele tem de tirar." É como se ele decretasse: se esse tal de Prahlad Jani existe de verdade, ele precisa ser "desinventado" o quanto antes, pois não anda muito de acordo com os nossos cânones. É claro que Ghorayeb tem sua razão: não há registro de uma célula que viva e se reproduza sem captar do exterior os tais "nutrientes", devolvendo ao exterior, depois, os, digamos assim, dejetos. Mas, se o cardiologista está certo, esse iogue é um impostor? A incerteza do leitor aumenta.

De seu lado, Prahlad Jani está aí, imperturbável. Ele não está lá longe, na cidade indiana de Ahmedabad: está bem próximo, na página do Estadão e também nas duas páginas da Época. Ele foi registrado como um fato jornalístico, ainda que meio discutível. Aparece no noticiário com algum índice de veracidade. Mais ainda: vem sendo estudado por um grupo de cientistas, dentro de parâmetros metodológicos aparentemente rigorosos. E se aí está, com o estatuto de fato jornalístico, por que não surgem reportagens mais conclusivas sobre ele? Por que a indiferença?

É bom anotar, estamos falando de uma indiferença reincidente. Há poucos anos, em 2003, uma pesquisa semelhante com o mesmo personagem apareceu na nossa imprensa e, também naquela ocasião, nada mais se falou. Agora, nesta semana, ele reaparece. Com a saúde perfeita, afirmam os médicos que o examinaram. Mentira? Verdade?

Às vezes bate na gente a sensação de que o mais fascinante da existência passa a milhares de quilômetros dos jornais que a gente lê. Às vezes o leitor experimenta o incômodo de se sentir mais curioso do que o jornalista que é pago para informá-lo. Esse iogue vem para nos fazer experimentar o mesmo incômodo. Ou os jornais demonstram a farsa, ou têm de ir mais fundo. Quando não optam nem por uma alternativa nem por outra, parece que não se incomodam com aquilo que nos aproxima da fronteira do desconhecido, o que deveria ser parte da inquietação jornalística.

Há mais de 20 anos eu li pela primeira vez a comparação que depois se tornaria um lugar-comum nos debates sobre a mídia: uma única edição do jornal The New York Times contém "mais informação do que o comum dos mortais poderia receber durante toda a sua vida na Inglaterra do século XVII". A frase aparece no livro Ansiedade de Informação, de Richard Saul Wurman. Nunca acreditei muito nela, por um motivo elementar: o que os jornais chamam de informação é uma parte ínfima, exígua, das múltiplas manifestações com que fazemos contato diariamente. Quais eram as informações relevantes para um inglês do século 17? O dia em que as folhas começavam a cair das árvores? O sonho que ele teve na véspera? A gente não sabe ? e esse tipo de coisa não sai no New York Times.

No mais, acreditamos que o desconhecido seja matéria para a ciência, não para o jornalismo. E quanto à ciência, ela mesma não passa de uma chama de vela tentando iluminar a escuridão, como Carl Sagan gostava de dizer. Em matéria de ciência, nós não sabemos quase nada. E em matéria de jornalismo, nós nos perguntamos menos ainda. Inclusive sobre ciência.

E então? Quem é esse homem que diz não precisar do "pão nosso de cada dia"? Por acaso ele sabe rezar o Pai-Nosso? Ou também não precisa? Num mundo sufocado pelas necessidades artificiais, em que vamos aos tropeções, em massas compactas de seres que se sentem solitários, famintos de afeto, de prazeres intoxicantes, de deuses que nos acudam, de um copo d"água, de uma esmola, de aparecer na coluna social fazendo caridade, de azeite "trufado", qual o significado de um iogue que não sente fome? Será que ele sente desejo? Talvez até exista vida depois da morte, mas pode existir vida além do desejo de viver? Que pergunta nos espreita nos olhos plácidos de Prahlad Jani?

E que jornalismo é o nosso, que não encara essa pergunta?

FALANDO RUSSO

PAINEL DA FOLHA

Nada consta
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/05/10

Embora em privado sobrem senadores críticos e/ou céticos em relação ao projeto que exige "ficha limpa" dos candidatos, aprovado ontem por unanimidade, muitos resolveram abraçar a causa movidos não apenas pelo receio da opinião pública, mas também pela lógica de fazer do limão uma limonada.
Como, pelo texto, somente os condenados por decisão colegiada podem ser barrados das urnas, muitos senadores enrolados com a Justiça, mas sem esse tipo de condenação, pretendem se valer do fato para exibir na campanha eleitoral uma espécie de "aval de honestidade". A categoria já ganhou até apelido nos corredores da Casa: são os "ficha sujos ocultos".


Não dá. Foi Clara Ant, assessora especial de Lula hoje lotada na campanha de Dilma Rousseff, quem disse ao presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, que não seria tolerada a exibição, durante participação da candidata em evento da entidade ontem, do vídeo sobre o malsucedido périplo de um prefeito por gabinetes de Brasília em busca de verbas para sua cidade.
Ficar... Com o lançamento de sua candidatura ao governo de São Paulo marcado para amanhã, Paulo Skaf é alvo de intensas pressões, tanto para perseverar quanto para desistir. O primeiro grupo é liderado pelo presidente do PSB local, Márcio França, e inclui uma série de petistas que enxergam no presidente da Fiesp a chance de viabilizar um segundo turno entre o líder Geraldo Alckmin (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT).
...ou sair? Do outro lado, tucanos que mantêm relação antiga com Skaf procuram convencê-lo de que, desprovido de qualquer aliança, terminará a campanha como nanico, servindo apenas de escada para o candidato do PT. Quem conhece o presidente da Fiesp diz que sua dúvida é real.
Melhor assim. O PT decidiu antecipar em um dia a reunião do diretório nacional que, entre outros pontos, vai deliberar sobre alianças em Estados com conflitos pendentes. Os petistas agora tomarão suas decisões em 11 de maio. Tudo para que no dia 11 de junho, data da convenção peemedebista, as arestas cruciais já estejam devidamente aparadas.
Terceiro turno. Caso o PT nacional force a seção maranhense a se aliar ao PMDB, Flávio Dino (PC do B), que havia recebido o apoio dos petistas locais, promete recorrer ao TSE. Argumenta que a intervenção é inconstitucional.
Dominó 1. Na contramão do que havia sido prometido pelo governo ao atual presidente da Previ, Sérgio Rosa, e ao deputado Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT, a troca de comando no fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, marcada para junho, não poupará o diretor de Participações, Joilson Ferreira. Esse posto é considerado estratégico, por lidar com grandes empresas das quais a Previ é sócia.
Dominó 2. Ex-sindicalista que mantém grande influência no BB, Berzoini votou recentemente na Câmara pela derrubada do fator previdenciário. Lula viu no gesto, mais do que populismo em véspera de campanha, um recado ao Planalto. E não gostou.
Horário nobre. João Vicente Claudino (PTB), que a partir de agosto terá visibilidade garantida na propaganda de TV como candidato ao governo do Piauí, já está, por assim dizer, "no ar": a Houston, fabricante de bicicletas pertencente à família do senador e situada em Teresina, serve de cenário para a empresa fictícia de "Passione", nova novela da Rede Globo.
Bem tucano. Candidato ao governo de Goiás, o senador Marconi Perillo (PSDB) incluiu entre as promessas de campanha o "Cheque Muro", iniciativa supostamente destinada a aumentar a segurança da população do Estado.

com LETÍCIA SANDER e DANIELA LIMA
Tiroteio 
Os prefeitos são os maiores "muristas" da política. Ficam em cima do muro, até saber para onde sopra o vento. Aplaudem todo mundo. 

Do senador ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre a boa acolhida aos três candidatos à Presidência que estiveram na Marcha dos Prefeitos.
Contraponto 
Revoada A Comissão de Constituição e Justiça do Senado discutia o projeto de lei que trata da doação de três aeronaves modelo Tucano ao Paraguai como forma de ajudar no combate ao tráfico de drogas. No calor do debate, Flexa Ribeiro (PSDB-PA) resolveu pedir vista, para espanto do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR):
-Mas por que pedir vista?
Flexa respondeu brincando:
-É que eu estou com medo de que vocês do governo aproveitem esse negócio de "doar tucanos" ao Paraguai para deportar meus companheiros de bancada Arthur Virgílio, Tasso Jereissati e Sérgio Guerra...

DORA KRAMER

Fichas ocultas
Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 20/05/10

O líder do governo Romero Jucá não apareceu na sessão de ontem da 
Comissão de Constituição e Justiça do Senado que aprovou por unanimidade o projeto Ficha Limpa em caráter de urgência e no início da noite no plenário.

Pois antes da hora do jantar Jucá já tinha sido atropelado pela sociedade que levou até seus pares governistas a transitar do mais absoluto desdém à mais inflamada das paixões pelo projeto que veta candidaturas de gente com contas abertas na Justiça.

O que já ocorrera na Câmara, aconteceu de novo na sessão de ontem pela manhã na CCJ e com uma rapidez inédita no plenário do Senado. Ineditismo que chega mesmo a ser inusitado.

Muito se falou sobre essa causa que parecia perdida e ganhou a batalha de virada.

Nem a contraofensiva preparada pela liderança governista no Senado resistiu a 15 minutos e teve de abrir alas ao pedido de passagem da pressão popular em ano eleitoral.

Faltou, porém, examinar um outro aspecto da cena: o cotejo entre o entusiasmo retórico dos parlamentares, a animação cidadã do eleitorado e o comportamento de todos esses atores face à realidade cotidiana.

O deputado Chico Alencar levantou a lebre. No último dia de votação do Ficha Limpa na Câmara, enquanto observava os colegas que tanto gostam de proteger quebras de decoros, defender práticas questionáveis e distorções assemelhadas, eufóricos em seus discursos em defesa "das fichas limpas", escreveu uma mensagem.

"Estou preocupado com os excessos de autoelogios derivados do raro momento de encontro do Parlamento com a demanda popular. Não podemos vender ilusões e dizer que começou a acabar a corrupção e que agora o Brasil só terá eleições limpas, candidaturas cândidas. Menos!"

O deputado pede atenção para o controle dos partidos na formação da lista de candidatos, o cuidado do eleitor com a escolha do voto e zelo com o seguinte: o fato de alguém não ter processo não lhe garante a lisura de conduta.

"Muitos fichas-escondidas, sujíssimas, seguirão sendo candidatos, pois a grande maioria dos inescrupulosos atraídos pela vida pública jamais sofreu qualquer condenação judicial. Contra esses, o único remédio é o voto consciente."

Dá mais trabalho, não dá para transferir a responsabilidade aos partidos, mas é um caminho mais seguro, civilizado, politizado e educativo.

Chico Alencar não desqualifica o valor da pressão popular. Ao contrário. Só alerta que não é coisa que se faça como um episódio para depois sair de cena.

Pelo seguinte, na transmutação do Congresso nesse caso do projeto Ficha Limpa muita gente boa e bem intencionada, que em geral é deixada de lado, pôde retomar o espaço perdido.

Mas uma quantidade enorme de oportunistas pegou carona nessa história, esperando que não dê tempo de a regra valer para a eleição de 2010.

Em geral são os que fazem os discursos mais exorbitantes. O palavrório não paga pedágio. Daí que com todo mérito que merece o Congresso, essa súbita transição da apatia à euforia no caso do Ficha Limpa só se configurará uma trajetória em direção ao avanço quando os partidos e os políticos se dispuserem a mudar os comportamentos de fato.

Farão isso por geração espontânea, por obra e graça do Espírito Santo, ou sempre que houver uma eleição?

Em nenhuma dessas situações. Só há um jeito: é a estreita, permanente e contundente, vigilante, insistente e, sobretudo, saudavelmente cética, cobrança social.

Talião. A área jurídica do PSDB aconselha o partido a seguir a Lei Eleitoral no programa do dia 17 de junho, mas admite que não tem como assegurar aos políticos que, se mantiverem a compostura, serão recompensados pelo rigor da Justiça em relação ao adversário.

De onde prevalece, segundo o deputado Jutahy Júnior, o seguinte entendimento no partido: "Apresentar o candidato (José Serra), fazer de fato um programa com efeitos eleitorais. Se o tribunal permite ao PT reincidir, usando duas vezes o programa partidário como horário eleitoral, nós vamos fazer o quê? Nem o eleitor compreenderia se agíssemos de maneira diferente."

TRADUTOR?

ANCELMO GÓIS

ÁFRICA É ALEGRIA 
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 20/05/10


A venda de pacotes turísticos para brasileiros na Copa da África do Sul está salva.
A pretexto de que é preciso aprender com a experiência africana, os governos dos 12 Estados que vão sediar jogos da Copa de 2014 vão mandar muita gente para Johannesburgo.

ÁFRICA É MÚSICA... 
Em tempos de Copa na África do Sul, a Som Livre vai lançar no Brasil o CD Stardust galaxies, da banda Parlotones, superpopular na terra de Mandela.
A Parlotones será uma das principais atrações da cerimônia de abertura da Copa, ao lado da colombiana boazuda Shakira.

ÁFRICA É NOVELA... 
Aliás, na onda da Copa, a TV Globo vai pôr músicas da banda sul-africana na trilha de sua nova novela das oito, Passione.

REVOLTA DOS BACANAS 
Só 97 das 493 empresas abertas do País não informaram à CVM seu maior e seu menor salários na diretoria e no conselho. Como se sabe, as companhias conseguiram liminar que as desobriga de cumprir o artigo da Instrução 480 da CVM, que manda revelar estes salários.
Mas quatro em cada cinco não viram problemas em tornar esta informação pública.

ALÔ, AQUI É O ZÉ
Das três, uma. Ou a bateria estava descarregada, ou foi pão-durismo ou medo de grampo. Ontem, por volta de 12 horas, no aeroporto do DF, José Eduardo Dutra, presidente do PT e um dos coordenadores da campanha de Dilma, pôs o celular no bolso e usou um... orelhão.

“AIATOLÁ, AIATOCÁ”
Do economista boa-praça Sérgio Besserman, gaiato, sobre as negociações de Lula com o Irã de Ahmadinejad:
— Acho contraproducente nosso envolvimento com o assunto Irã. Para mim, deveria ser eles “aiatolá” e nós “aiatocá”.

CONVENÇÃO DE HAIA 
Sem falar com Sean Goldman desde 2 de março, os avós brasileiros do menino entraram ontem com pedido na Secretaria de Direitos Humanos, em Brasília, exigindo sua volta e que o governo dos EUA garanta o direito de visita, negado em abril pela Corte de Nova Jersey.

CALMA, GENTE
Veja como a imagem dos políticos está, como se diz em Frei Paulo, mais suja do que pau de galinheiro.
De Roberto Busato, ex-presidente da OAB, à recepcionista do STF, que queria saber se, no seu grupo, havia parlamentares: “Não, aqui só tem ficha limpa.”

UM ANO DEPOIS A 
Air France ofereceu aos parentes das vítimas da queda do avião que fazia o voo Rio-Paris passagens e estadia para participarem de ato ecumênico, na França, pelos 228 mortos na tragédia, que dia 31 faz um ano.

RESSACA DO CERVEJÃO 
Circula no território livre da internet, entre mulheres, a resposta ideal da esposa daquele comercial machista da Nova Schin, em que um sujeito diz pelo celular: “Tô na casa de um amigão, jogando um poquerzão e não vou agora não!”: “Relaxa, amor. Tô na casa da vizinha, tá rolando a maior festinha, vou chegar de manhãzinha e não vou dormir sozinha”.

DANÇA DAS CADEIRAS 
O embaixador Pedro Motta Pinto Coelho é o novo chefe da nossa representação junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa.

MÍRIAM LEITÃO

Escape externo 
Miriam Leitão 

O Globo - 20/05/2010

O Brasil precisará de pelo menos US$ 50 bilhões de poupança externa. Esse é o tamanho do déficit em transações correntes projetado para este ano.

Para 2011, a estimativa é de que será preciso US$ 60 bilhões. Com o excesso de liquidez no mundo, esse dinheiro vem para o país e a conta fecha. Mas o que acontecerá se a crise europeia provocar uma redução dessa liquidez?

O economista José Lamy, da Cenário Investimentos, acha que é preciso atenção nas nossas contas com o exterior. Ele explica que o momento atual é o mais favorável possível para o financiamento do déficit porque os juros nas principais economias estão muito baixos.

Além disso, há excesso de liquidez por causa dos pacotes de incentivo no combate à crise financeira internacional. Isso significa que há muito dinheiro em circulação e o seu custo nas principais economias está barato. O quadro favorece a entrada de dólares no Brasil.

O problema é que não vai demorar muito para que o Banco Central americano comece a subir os juros, invertendo a tendência.

— Estamos ao sabor dos rumores do mercado externo para financiar nosso déficit.

Há excessiva liquidez global, juros zerados por causa da crise internacional nas principais economias.

Isso gera um aumento na propensão ao risco e favorece os investimentos no Brasil. É um momento único, mas que não vai valer para o futuro — explicou.

Lamy acredita que há vários “monstros” adormecidos na economia internacional, mas que eles estão prontos para despertar: a regulação bancária no sistema financeiro americano; o superaquecimento da economia chinesa; e, por último, a crise europeia, que só se agrava. São três fatores que diminuiriam o fluxo de entrada de dólares no Brasil.

— O mundo nos próximos cinco anos não será de crescimento expressivo, ou seja, teremos um cenário bastante diferente do que foi visto entre 2003 e 2008. Os juros subindo vão segurar a economia mundial. Não teremos mais a mesma exuberância. A aversão ao risco vai subir. As condições ficarão mais adversas e haverá menos investimentos no países periféricos — explicou.

A China não para de divulgar indicadores que sugerem crescimento acelerado da economia. A inflação do setor de construção civil chegou a 12%. O temor de um superaquecimento, forçando o pé no freio por parte do governo, está explícito no índice da bolsa de Xangai, que está com o pior desempenho entre as bolsas mundiais: -21% no ano. Uma desaceleração chinesa levaria a uma queda nos preços das commodities, com impacto direto na balança comercial e no crescimento do Brasil.

Uma desaceleração na China, somada à crise na Europa e ao fortalecimento do dólar, levou a RC Consultores a revisar sua previsão para o preço das commodities este ano, que deve chegar em dezembro com 5% de queda em relação ao mesmo mês de 2009. A RC também reduziu a previsão de saldo na nossa balança comercial, de US$ 12 bilhões para US$ 8 bi.

A história recente do Brasil é salpicada de episódios de crises cambiais. A situação agora é bem diferente. Em outros momentos, o país tinha baixo volume de reservas e câmbio controlado.

Agora, tem câmbio flutuante e US$ 250 bilhões de reservas.

Portanto, não se pode usar a experiência passada como indicação do risco de uma crise.

Mas uma coisa não mudou: o Brasil tem baixa taxa de poupança e isso é um limitador ao crescimento.

Se não há dinheiro aqui dentro para financiar o crescimento, é preciso recorrer ao exterior.

— O déficit em conta corrente é resultado de um desequilíbrio no país entre investimento e poupança. E ele se agravou principalmente com a falta de poupança do setor público dos últimos anos. O Brasil quer crescer mais, mas não encontra correspondência na poupança nacional, por isso, precisa ir ao exterior — afirmou José Júlio Senna, da MCM consultores.

O economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco, que está prevendo um déficit de 3,7% do PIB para o ano que vem, acha que o crescimento do Brasil este ano, que ele prevê em 7,5%, vai piorar os números da balança comercial. Mas há fatores compensadores: — O minério de ferro teve um aumento de 110% e isso será importante para elevar o valor das exportações brasileiras da commodity.

O que chama a atenção nas nossas contas externas é que o déficit apareceu repentinamente.

De 2003 a 2007, conseguimos ter sempre saldo positivo, mas em 2008, a conta ficou no vermelho em US$ 28 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, o Banco Central informou que houve o pior déficit para o período na história: US$ 12,14 bilhões. A maior parte do déficit de 2010 será financiado pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED), que está projetado para US$ 38 bilhões, segundo o Boletim Focus.

Quem já viu muitas crises cambiais no passado se assusta porque sabe como o dinheiro estrangeiro some de repente. Nossa situação hoje é outra. Mas o mundo é tão volátil quanto sempre foi.