Mãe: ser ou não ser
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/10
Certas mulheres dariam a vida para poder ver um filme na sessão da tarde, no lugar de cuidar dos filhos
UM ASSUNTO que não passa de moda: os menores de rua que assaltam, cometem atrocidades, matam. E vêm os especialistas dar palpites: que eles não tiveram um lar, uma família em que o pai chegasse do trabalho e pacientemente perguntasse como foram as aulas e ainda brincasse um pouco com o filho -ou os filhos- antes do jantar. Na cabeça desses teóricos, as panelas estariam fumegando em cima do fogão, e a mãe, cheia de alegria, poria o jantar na mesa, tendo o cuidado de desligar a televisão enquanto comessem, para que a família pudesse conversar, trocar ideias.
Só que as coisas não costumam ser bem assim, a não ser em filmes americanos. Esse pai pode estar chegando do seu segundo emprego, depois de 45 minutos em pé num ônibus, exausto, e só querendo uma coisa na vida: tomar um chuveiro e se espichar na cama em paz, sem ter que trocar uma só palavra com ninguém, muito menos com uma criança, mesmo que seja seu filho. Quanto à mãe, mesmo que não trabalhe, teve que passar o dia inteiro passando roupa e tomando conta de uma ou duas crianças, o que não é fácil.
Criança solicita o tempo todo, corre riscos o tempo todo -de cair da janela, de derrubar a panela com água fervendo, de escorregar no chão e se machucar, e chora por qualquer coisa, até por nada. Certas mulheres dariam a vida para ver um filme na sessão da tarde, no lugar de cuidar dos filhos, e é bom que se saiba que isso não é crime nenhum.
Vamos falar a verdade: existem mulheres com uma grande vocação para a maternidade, e outras sem nenhuma. Algumas, que já são mães de dois -porque eles costumam vir um logo depois do outro-, talvez estejam sonhando com um vestido que viu numa vitrine, talvez preferissem estar numa faculdade, ou trabalhando, ganhando seu dinheiro e perseguindo sua própria vocação.
Mas não podem pensar em um vestido novo porque não têm dinheiro, em estudar, porque não têm com quem deixar as crianças, e muito menos em trabalhar. O instinto maternal existe em todas as mulheres, mas a vocação para a maternidade é outra coisa, que nem todas têm.
Hoje em dia isso é admitido, e já existem muitas mulheres que escolheram não ter filhos e assumem isso com a maior naturalidade. Há cem anos isso seria inadmissível, mas hoje é normal; apenas uma questão de escolha.
O difícil é descobrir essa falta de vocação cedo; as que se casam aos 20 anos nem pensam nisso, mas as mulheres que estão se casando mais tarde querem ter uma carreira, aproveitar a vida, e antes dos 30, 35, não têm a menor vontade de fundar um lar.
E mesmo com todas as pílulas, diafragmas e camisinhas, as crianças continuam nascendo, talvez porque ninguém pare para pensar se realmente quer ter um filho -com todas as alegrias e problemas que ele traz.
Esse é um assunto para ser muito pensado, para que as crianças não cresçam entre pessoas que prefeririam estar dançando numa discoteca -o que é direito de qualquer um- a estar acordando de noite para trocar uma fralda ou botar um termômetro.
É bom pensar antes, e muito, para que haja mais possibilidades de que todos sejam felizes -a mãe, o pai e os filhos.
Só que as coisas não costumam ser bem assim, a não ser em filmes americanos. Esse pai pode estar chegando do seu segundo emprego, depois de 45 minutos em pé num ônibus, exausto, e só querendo uma coisa na vida: tomar um chuveiro e se espichar na cama em paz, sem ter que trocar uma só palavra com ninguém, muito menos com uma criança, mesmo que seja seu filho. Quanto à mãe, mesmo que não trabalhe, teve que passar o dia inteiro passando roupa e tomando conta de uma ou duas crianças, o que não é fácil.
Criança solicita o tempo todo, corre riscos o tempo todo -de cair da janela, de derrubar a panela com água fervendo, de escorregar no chão e se machucar, e chora por qualquer coisa, até por nada. Certas mulheres dariam a vida para ver um filme na sessão da tarde, no lugar de cuidar dos filhos, e é bom que se saiba que isso não é crime nenhum.
Vamos falar a verdade: existem mulheres com uma grande vocação para a maternidade, e outras sem nenhuma. Algumas, que já são mães de dois -porque eles costumam vir um logo depois do outro-, talvez estejam sonhando com um vestido que viu numa vitrine, talvez preferissem estar numa faculdade, ou trabalhando, ganhando seu dinheiro e perseguindo sua própria vocação.
Mas não podem pensar em um vestido novo porque não têm dinheiro, em estudar, porque não têm com quem deixar as crianças, e muito menos em trabalhar. O instinto maternal existe em todas as mulheres, mas a vocação para a maternidade é outra coisa, que nem todas têm.
Hoje em dia isso é admitido, e já existem muitas mulheres que escolheram não ter filhos e assumem isso com a maior naturalidade. Há cem anos isso seria inadmissível, mas hoje é normal; apenas uma questão de escolha.
O difícil é descobrir essa falta de vocação cedo; as que se casam aos 20 anos nem pensam nisso, mas as mulheres que estão se casando mais tarde querem ter uma carreira, aproveitar a vida, e antes dos 30, 35, não têm a menor vontade de fundar um lar.
E mesmo com todas as pílulas, diafragmas e camisinhas, as crianças continuam nascendo, talvez porque ninguém pare para pensar se realmente quer ter um filho -com todas as alegrias e problemas que ele traz.
Esse é um assunto para ser muito pensado, para que as crianças não cresçam entre pessoas que prefeririam estar dançando numa discoteca -o que é direito de qualquer um- a estar acordando de noite para trocar uma fralda ou botar um termômetro.
É bom pensar antes, e muito, para que haja mais possibilidades de que todos sejam felizes -a mãe, o pai e os filhos.
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