terça-feira, setembro 29, 2009

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

ELIANE CANTANHÊDE

A ponte ruiu

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/09/09



BRASÍLIA - O Brasil perdeu totalmente as condições de exercer uma de suas especialidades na solução da crise em Honduras: a capacidade de liderança e de mediação.
Ao meter os pés, as mãos e a embaixada em Tegucigalpa na defesa apaixonada de um dos lados, o do presidente deposto, Manuel Zelaya, o governo Lula se colocou num duelo com o presidente golpista, Roberto Micheletti -que, ao mesmo tempo, recusa sistematicamente a participação da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Chegou-se assim ao pior dos mundos: Micheletti radicaliza de um lado, Zelaya radicaliza de outro.
Um decreta estado de sítio, põe as tropas na rua, determina a invasão a uma TV e a uma rádio, insiste numa eleição ilegítima desde a origem. O outro usa a embaixada brasileira como "bunker" para instigar a desobediência civil no país. O que cheira a sangue.
Não há, à vista, nenhum escudo ou ponte entre esses dois malucos perigosos. O Brasil se inviabilizou. A OEA é rechaçada por Micheletti.
A ONU limitou-se à de defesa da "extraterritorialidade" e, portanto, da embaixada do Brasil. Os EUA, dúbios estavam, dúbios continuam. Chávez gosta de botar fogo, não de apagar incêndios.
Enfim, a situação é dramática, com o risco real, nada fictício, de que Micheletti continue se deslumbrando no papel de típico golpista bananeiro e acabe por invadir a embaixada brasileira. E que leve o país a uma guerra civil. Isso tudo é improvável, mas não impossível.
Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula, tem razão ao dizer que: 1) o Brasil não se meteu, mas sim foi metido nessa enrascada; 2) não havia alternativa se não acolher Zelaya na embaixada.
Mas o Brasil cometeu um grande erro: entrar na linha de frente contra Micheletti. Antes, hospedava um presidente deposto por um golpe militar. Agora, hospeda uma bomba pronta a explodir.

ARI CUNHA

Cerrado e deserto

CORREIO BRAZILIENSE - 29/09/09


Quando Brasília começou, as fazendas de cerrado eram alugadas aos carvoeiros. Todos os dias, no caminho das metalúrgicas de Sete Lagoas, os caminhões faziam fila. Cargas de carvão atingiam alturas enormes. O tempo passa. Essas fazendas já não produzem carvão. São alugadas aos plantadores de soja. Não mais existe cerrado nelas. Plantações infindas expulsam os passarinhos com os venenos que fazem a planta crescer. Não se ouve mais o cantar dos pássaros. Progresso danado, esse. O subsolo é aquoso. Cacimbas fornecem água para desenvolver as plantas. Natureza não aguenta desaforo. Sobre o assunto, hoje, pela manhã, no Interlegis do Senado, pesquisadores serão recebidos para o seminário O cerrado é a nossa casa.


A frase que não foi pronunciada

“O céu que nos cobre é o mesmo. A diferença está no horizonte.”
- Fernando Henrique Cardoso, pensando nos partidos.


Desobediência civil

» A Embaixada do Brasil em Tegucigalpa perde a razão. Zelaya não é refugiado. Com 63 patrícios, sugere que hondurenhos adotem desobediência civil. Governo de Honduras reage e o Brasil cruza os braços. Leva o assunto à ONU, a quem não cabe decidir. Já não temos o poder de extraterritorialidade, e Celso Amorim dá as costas para o problema.

Invasão

» Limeira foi diretor de posto de gasolina. Pioneiro, resolve invadir áreas na região das mansões do Lago. Do trecho 8 ao 9, cerca ilegal. Até endereço novo foi criado, “Sming”, onde fica a chácara Asas de Águia. Ali, criam-se cavalos, puxa-se água e se destroem matas. O córrego que passa ao lado do que foram as mansões de Juscelino vai desaparecer com a destruição das matas.

Centro de Atividades

» Região próxima aos shoppings centers do Lago Norte vai virar burburinho. Inauguração prevista para o final do ano. Não se conhecem providências em favor dos moradores. Fazem falta pontes ligando à Universidade e à DF-5, do outro lado. Em caso de acidente, o que é fácil, sufoco total.

Caixa Econômica

» Publicidade bem feita. Música popular bem explorada. “Você não vale nada”, mas o resultado é de popularidade a todo custo. O banco entra na publicidade em favor dos contribuintes, que aumentam em número e em vantagens de financiamento.

Dengue

» O ministro José Gomes Temporão passa dia e noite olhando a saúde do Brasil. As vacinas contra dengue estão em pesquisas no Instituto Oswaldo Cruz. Os resultados demorarão
pelo menos cinco anos.

Acidentes

» Estradas de Minas vivem drama com o aumento do número de vítimas em acidentes. Morre mais gente do que na guerra. E muitos ficam inutilizados por conta do governo. Caminhões velhos, ônibus impróprios. Motoristas com obrigação de horário para entrega da carga tomam coca-cola com arrebites e perdem o juízo. Outro dia, às 10h, um com lanterna verificava pneus.

MST

» O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras ocupam pequenas propriedades do Rio Grande do Sul. Dizimam produções em nome da revolução da reforma agrária. Roubam, destroem e saqueiam. O governo sustenta esses movimentos, que confiscam áreas produtivas pelo prazer de ser a favor da reforma agrária à sua moda. Não usam enxadas. Usam canetas. Não plantam um pé de couve. Compram tudo.

Tradição

» Faz muitos anos que presidentes norte-americanos se reúnem com judeus e árabes tentando união. Todos se cumprimentam. Voltando às suas terras, árabes insultam judeus e prometem destruição do Estado de Israel. Anos atrás, Abi Eban disse a grupo de jornalistas brasileiros que o Brasil não é a terra dos milagres. Em Israel as crianças aprendem a ler e a escrever em documentos com mais 5 mil anos.

Pré-sal

» O Brasil avança no pré-sal. Outros países ficam observando. Despesas são altas, e os resultados podem ser desfavoráveis a um país que invista nessas pesquisas. É que, à margem, se desenvolvem outros caminhos para o combustível. O consumo aumenta a cada instante e polui o universo.


História de Brasília

Quatro anos depois de criada a Cidade Livre, pela primeira vez aparecem os garis fazendo a limpeza. O pessoal ali residente, dr. Paulo de Tarso, ficou tão alegre que ninguém acredita, mesmo vendo, no que está acontecendo. (Publicado em 10/2/1961)

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ARNALDO JABOR

Psicanálise de um corrupto em crise

O GLOBO - 29/09/09

"Doutora, eu procurei a psicanálise porque ando com um estranho sintoma: às vezes tenho o que vocês chamam de ‘sentimento de culpa...’ Sinto-me como o chefão da família Soprano, com aquela psicanalista gostosa, com pernas lindas - as psicanalistas falam pelas pernas...

Tenho tido pesadelos: sonho que morri assassinado por mim mesmo, que estou preso com traficantes estupradores. Não mereço isso, eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo... (não pense que é veadagem não, hein, doutora... ah, ah, ah...). Não sou um ladrão de galinhas, mas já roubei galinhas do vizinho e até hoje sinto o cheiro das penosas que eu agarrava. Ah, ah, ah... Mas hoje em dia, doutora, não roubo mais por necessidade; é prazer mesmo. Estou muito bem de vida, tenho sete fazendas reais e sete imaginárias, mando em cidades do Nordeste, tenho tudo, mas confesso que sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, vibro quando vejo os olhos covardes do empresário me pagando a propina, suas mãos trêmulas me passando o tutu, delicio-me quando o juiz me dá ganho de causa, ostentando honestidade, e finge não perceber minha piscadela marota na hora da liminar comprada (está entre US$ 30 a US$ 50 mil hoje), babo ao ver juízes sabujos diante de meu poder de parlamentar e fazendeiro rico.

Como, doutora? Se me sinto superior assim? Bem, é verdade... Adoro a sensação de me sentir acima dos otários que me ‘compram’, eles se humilhando em vez de mim.

Roubar dá tesão; liberta-me. Eu explico: roubar me tira do mundo dos ‘obedientes’ e me provoca quase um orgasmo quando embolso uma bolada. Desculpe... a senhora é mulher fina, coisa e tal, mas adoro sentir o espanto de uma prostituta, quando eu lhe arrojo US$ 1.000 entre as coxas e vejo sua gratidão acesa, fazendo-a caprichar em carícias mais perversas. É uma delícia, doutora, rolar, nu, em cima de notas de US$ 100 na cama, de madrugada, sozinho, comendo castanhas e chocolatinhos do frigobar de um hotel vagabundo, em uma cidade onde descolei um canal de esgoto superfaturado. A senhora não imagina a volúpia de ostentar seriedade em salões de caretas que te xingam pelas costas, mas que te invejam secretamente pela liberdade cínica que te habita. Suas mulheres me olham excitadas, pensando nos brilhantes que poderiam ganhar de mim, viril e sorridente - todo bom ladrão é simpático. A senhora não tem ideia aí, sentada nessa poltrona do Freud, do orgulho que sinto, até quando roubo verbas de remédios para criancinhas, ao conseguir dominar a vergonha e transformá-la na bela frieza que constrói o grande homem. E, agora, esse sentimentozinho de ‘culpa’ tão chato...

Sei muito bem os gestos e rituais dos ladrões (tenho de usar essa palavra triste): sei fazer imposturas, perfídias, tretas, burlarias, sei usar falsas virtudes, ostentar dignidade em CPIs, dou beijos de Judas, levo desaforo para casa sim, sei dar abraços de tamanduá e chorar lágrimas de crocodilo... Sou ótimo ator e especialista em amnésias políticas. Eu já declarei de testa alta na Câmara: ‘Não sei nem imagino como esses milhões de dólares apareceram em minha conta na Suíça, apesar desses extratos todos, pois não tenho nem nunca tive conta no exterior!’ Esse grau de mentira é tão íntegro que deixa de ser mentira e vira uma arte.

Doutora, no Brasil há dois tipos de ladrões de colarinho branco: há o ladrão ‘extensivo’ e o ‘intensivo’.

Não tolero os ladrões intensivos, os intempestivos sem classe... Falta-lhes elegância e ‘finesse’. Roubam por rancor, roubam o que lhes aparece na frente, acham-se no direito de se vingar de passadas humilhações, dores de corno, porradas na cara não revidadas, suspiros de mãe lavadeira.

Eu, não. Eu sou um cordial, um cavalheiro; tenho paciência e sabedoria, comecei pouco a pouco, como as galinhas que roubei na infância, que, de grão em grão, enchiam o papo... ah, ah, ah... Eu sou aquele que vai roubando ao longo da vida política e ao fim de décadas já tem ‘Renoirs’ na parede, lanchões, helicópteros, esposas infelizes (não sei por que, se dou tudo a ela), filhos estroinas e malucos... (mandei estudar na Suíça e não adiantou).

Eu adquiri uma respeitabilidade altaneira que confunde meus inimigos, que ficam na dúvida se eu tenho mesmo a grandeza acima dos homens comuns. No fundo, eu me acho mesmo especial; não sou comum.

Perto de mim, homens como PC foram meros cleptomaníacos... Sou profissional e didático... Eu me considero um Gilberto Freyre da escrotidão nacional...

Olhe para mim, doutora. Eu estou no lugar da verdade. Este país foi feito assim, na vala entre o público e o privado. Há uma grandeza insuspeitada na apropriação indébita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta não produz flores magníficas? O que vocês chamam de ‘roubalheira’ eu chamo de ‘progresso’ português, nada da frieza anglo-saxônica.

Eu sempre fui muito feliz... Sempre adorei os jantares nordestinos, cheios de moquecas e maracutaias, sempre amei as cotoveladas cúmplices quando se liberam verbas, os cálidos abraços de famílias de máfias rurais... Lembra da linda piscina verde em Canapi, no meio da caatinga, na época Collor? Adorava aquilo; era uma verdadeira instalação brasileira contemporânea - devia estar na Bienal.

A senhora me pergunta por que eu lhe procurei?

Tudo bem; vou contar.

Outro dia, fui assistir a uma execução. Mataram um neguinho no terreno baldio. Ele implorava quando lhe passaram o fio de nylon no pescoço e apertaram até ele cair, bem embaixo de uma placa de financiamento público. Na hora, até me excitei; tive uma ereção, confesso. Mas quando cheguei em casa, com meus filhos vendo ‘High School Musical’ na TV, fui tomado por esse mal-estar que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’...

Por isso, doutora, preciso que me cure logo... Tem muita verba pública pintando aí, muita emenda no Orçamento, empreiteiros me ligando... Tenho de continuar minha missão, doutora..."

JOSÉ SIMÃO

Uau! Leve desodorante pro Zelaya!

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/09/09



E uma amiga minha disse que não daria asilo ao Zelaya, mas daria asilo ao Zé Mayer!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
CVM multa Pinto Rôla! Por atentado ao pudor? Rarará! É verdade.
O cara que foi multado se chama Alexandre Pinto Rôla! Multado por atentado ao pudor?! Por abuso! E a última do Egito: entrei num hotel no Egito, e sabe aqueles saquinhos de chá que eles deixam em cima do frigobar? Sabe qual a marca do chá?
DILMAH! Perseguição! Dilma em saquinho! Mas é Dilma com H: Dilmah. Aliás, tá aí um bom slogan pra ela: "Pra 2010, Dilma com H!".
E eu já disse que não é o Zelaya que tá refugiado na embaixada brasileira. É o Ratinho. Mas um leitor me disse que não é nem o Zelaya nem o Ratinho, é o Professor Girafales. Rarará! O Zelaya parece o Professor Girafales. Do seriado "Chaves". "Chaves" do SBT. E não Chávez da Chavezuela! E o chargista Frank diz que essa crise em Honduras teve o seu lado positivo: o Lula aprendeu a falar Tegucigalpa! E uma amiga minha disse que não daria asilo ao Zelaya, mas daria asilo ao Zé Mayer!
E diz que até o Fluminense vai pedir asilo na embaixada brasileira! E já imaginou aquela penca sem poder tomar banho? Campanha Leve um Desodorante pro Zelaya! Rarará! Leve uma quentinha pro Zelaya! E o chargista Marco Aurélio revela o que o Lula gritou pro Zelaya: "Seguuuuuu-ra, peeãããão!".
Aprovado! Gago paga meia! Deputado do Mato Grosso do Sul apresenta projeto: gago paga metade da conta telefônica. E foi aprovado.
Gago paga meia! Gago devia pagar meia em motel! Já imaginou gago gozando?! Totototô quaquaquase gogogozando, pepepéraí. Duas horas no mínimo! Telefonema pra Bahia devia pagar meia também. Aí eu liguei pra Bahia: "A Elenice tá?". "Táááááá siiiiiiim, meu fiiiiiilho. Eleeeeeeenice, miiiiiiiiinha filha, telefooooone!
Peraí que ela já veeeem!". Aí já foram cinco minutos! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como diz o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Tocantins tem uma pousada chamada Pousada do Lico Garrucha de Ouro! Parece Dias Gomes! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Honduras": o contrário de ondas moles! Honduras, Ondas Médias e Ondas Moles. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis.
Nóis sofre, mas nóis goza.
E eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

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MERVAL PEREIRA

Nas mãos de Lula

O GLOBO - 29/09/09

A conversa que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pretende ter com o presidente Lula antes de decidir seu destino político tem como pano de fundo o futuro da economia brasileira e pode se realizar, por falta de agenda do presidente, até em Copenhague, onde os dois estarão na defesa do Rio para sediar a Olimpíada de 2016. Mesmo que o presidente Lula já tenha se pronunciado contra a saída de Meirelles do Banco Central para participar da política partidária, o presidente do BC está tendendo a “comprar uma opção” partidária e aguardar até março para tomar uma decisão definitiva com o passaporte que lhe permitirá continuar nesse jogo político. Mas não quer tomar nenhuma decisão sem falar com o dono da bola.

Ele não se interessa em continuar no mercado financeiro na iniciativa privada, onde fez sua carreira. Mas também não pretende entrar na política em oposição ao presidente Lula e, portanto, não está levando em conta a oferta do PTB para que saia candidato à Presidência da República.

O partido, embora ainda da base governamental, tem apresentado na televisão programas bastante agressivos contra o governo, aparentemente desembarcando do apoio. A não ser, o que parece improvável, que o próprio Lula o aconselhe a isso, situação em que terá mudado de opinião quanto às vantagens de ter apenas um candidato da base do governo.

Se se filiar a algum partido, p r o v a v e l m e n t e s e r á a o PMDB, mas a disputa do governo de Goiás está praticamente descartada, por uma questão de timing. Meirelles considera arriscado sair imediatamente do Banco Central, despertando as especulações e incertezas naturais para uma substituição desse nível num momento em que, na sua visão, a recuperação da economia ainda está frágil.

Ao contrário do otimismo exagerado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, Meirelles vê risco de retomada de inflação com o desequilíbrio das contas públicas. A própria agência de avaliação de risco Moody’s, que acaba de dar o grau de investimento ao Brasil depois da crise, chamou a atenção para o desequilíbrio fiscal, embora não o considere grande o suficiente para ser controlado pelo governo.

O mercado financeiro, de maneira geral, aceita que o governo atual não controle o gasto público, certo de que um futuro governo vai fazer as “maldades” necessárias.

Embora os gastos tenham sido atribuídos na sua totalidade a políticas anticíclicas do governo para combater a crise, não há dúvidas de que parte do descontrole fiscal teve motivação eleitoral, a crise tendo sido um pretexto a posteriori para o descontrole que já havia sido contratado.

De olho nessa situação ainda incerta, Meirelles não pretende deixar o BC pelo menos antes de março, mas os peemedebistas de Goiás lhe dizem que, para disputar o governo, teria que sair agora, para começar as negociações políticas regionais.

Os políticos necessitam de uma sinalização segura para formar as alianças que organizarão o palanque estadual para apoiar a chapa de presidente, e o partido precisa montar sua chapa de senadores e deputados federais e estaduais desde já, não querem esperar por março, último prazo para a desincompatibilização de quem está em governos.

Nesse caso, Meirelles desistiria do projeto e resumiria suas opções a uma das duas vagas do Senado ou a vicepresidente na chapa oficial, desde que o PMDB oficialize sua adesão à candidatura de Dilma Rousseff. Como essa decisão só será sacramentada pela convenção partidária, a ser realizada em junho do próximo ano, e não há nenhuma garantia de que ela seja realmente tomada, o projeto político de Meirelles parece reduzido à disputa pelo Senado.

Além do mais, o presidente da Câmara, Michel Temer, é candidato declarado à vaga de vice pelo PMDB. Somente com uma intervenção, no devido tempo, do próprio presidente Lula, seria possível reverter essa situação que parece consolidada.

Na conversa com Lula, certamente entrará no jogo a possibilidade de Meirelles vir a ser convidado para a equipe da candidata Dilma Rousseff, mesmo que não seja para a Vice-Presidência.

Um acordo implícito, que sinalize a possibilidade de Meirelles ser o próximo ministro da Fazenda em caso de vitória, seria também um recado para o mercado de que o equilíbrio fiscal continuaria a ser uma prioridade.

Assim como a presença de Antonio Palocci na coordenação da campanha.

Em ambos os casos, porém, a ministra teria que mudar seu pensamento econômico, pois, em fins de 2005, pouco antes de ter que sair do governo devido à acusação de violação do sigilo do caseiro, Palocci entrou em rota de colisão com Dilma sobre uma proposta de ajuste fiscal de longo prazo apresentada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o seu apoio.

A chefe da Casa Civil classificou publicamente a proposta de “rudimentar”, explicitando um racha dentro do governo com relação ao gasto público.

Ele continua defendendo sua “proposta rudimentar” de reduzir os gastos gradativamente para que, num período de dez anos, fiquem abaixo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que daria uma sinalização de equilíbrio de longo prazo para a economia.

Mas o descontrole pode ser tal que o futuro governo não conseguirá contê-lo tão facilmente. Quanto mais tempo durar o descontrole, e estamos ainda a 15 meses do novo governo, maior será a “maldade” a ser feita, e a oposição não aceitará. É possível ver o próprio PT fazendo oposição a Dilma Rousseff, e ainda mais se o presidente for do PSDB.

Na questão fiscal, o governador de São Paulo, José Serra, tem um histórico mais favorável que Dilma, é reconhecido como bom gestor e cortador de custos. Suas desavenças com o governo federal e com os próprios parceiros tucanos têm mais a ver com a autonomia do Banco Central e a política cambial, o que torna o presidente do Banco Central um alvo preferencial.

PAINEL DA FOLHA

No shopping

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/09/09


O périplo de Paulo Skaf em busca de um partido que lhe permita concorrer ao governo paulista deverá terminar nesta semana com seu ingresso no PR. O presidente da Fiesp ainda teve um encontro ontem com o presidente do PMDB, mas Michel Temer deixou claro que não poderia lhe garantir a candidatura, dada a oposição de Orestes Quércia à ideia.
Temer, que já enfrenta a resistência de Quércia ao projeto de fechar pré-aliança com Dilma Rousseff (PT), segura outra batata quente: o Planalto gostaria de ver no PMDB o prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT), mas também a ele Quércia se opõe. Um potencial candidato ao governo afetaria seu plano de disputar o Senado com o apoio do consórcio DEM-PSDB.

Por exclusão - Antes de se fixar no PR, Skaf tentou, além do PMDB, PSB e PV.

Com quem será? - Em rota oposta à do primo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que negocia o noivado Dilma-Temer, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) foi cortejado pelos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) durante evento tucano no fim de semana em Natal. “Eu me sinto uma perfeita noiva!”, comentou, todo animado.

Guru - Fornecedor de pesquisas para candidatos ‘demos’ e tucanos, o cientista político Antonio Lavareda filiou-se ao PSDB. Duas opções estão em estudo: a) o partido indicá-lo para o Parlamento do Mercosul, a ser instalado em 2012; b) ser primeiro suplente do presidente da sigla, Sérgio Guerra (PE), que tentará se reeleger senador.

Memória - A mais recente aparição de Lavareda no noticiário se deu com a pesquisa usada pelo PV para impulsionar a candidatura presidencial de Marina Silva (AC).

Na tela - O ex-senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que ganhou fama de incendiário na CPI dos Bingos, estreou programa na TV Cuiabá, afiliada da Rede TV. Seu primeiro convidado foi o presidenciável Ciro Gomes (PSB-CE). A produção diz já ter entrevistas gravadas com Marina e José Serra.

Contramão - A Procuradoria da República em Rondônia entrou com ação contra a pavimentação da BR-429, rodovia que liga o Brasil à Bolívia e tem recursos do PAC. Alega que a obra não cumpriu etapas do licenciamento ambiental e que favorecerá o acesso clandestino a garimpeiros e madeireiros.

Varal - De Lula, discursando ontem durante rápida passagem por Brasília: “Vou falar mais um pouco para esperar a roupa secar, porque amanhã eu já vou viajar outra vez”.

Pano rápido - Lula contraiu o rosto na cerimônia de posse de seu novo ministro, Alexandre Padilha, todas as vezes em que este citou os “momentos difíceis” do governo. Depois, deu uma bronca meio brincando, meio a sério, por Padilha não ter citado Dilma Rousseff no discurso.

Citações - Em seu longo discurso, Padilha fez um elogio a Antonio Palocci, mas não citou José Dirceu, a quem é muito ligado na lógica das correntes internas do PT.

Missão - Se havia dúvida sobre a intenção de Lula ao nomear alguém da cozinha do governo para o TCU, o presidente foi explícito ao dizer a José Múcio que é preciso fazer “as coisas andarem lá”.

Resgate - A comissão governamental que busca ossadas de integrantes da guerrilha do Araguaia espera encontrar, no domingo, os restos mortais de Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão, um dos principais líderes do foco criado no sul do Pará para combater a ditadura. A dica partiu de um ex-guerrilheiro que diz ter enterrado o colega. Os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) chegam à região na sexta.

Tiroteio

No Brasil, critica-se Chávez quando ele veta algum meio de comunicação. Agora os golpistas de Honduras fecham rádio e televisão, e o que se vê por aqui é um completo silêncio.

Do deputado DOUTOR ROSINHA (PT-PR), sobre o fechamento da rádio Globo de Tegucigalpa.

Contraponto

Seca ou a vapor?

Em seu discurso de posse ontem como ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha brincou com o colega Paulo Bernardo, presente na plateia:
- Vejo muita gente com o celular. Você que é o ministro do Twitter, acho que eles estão ‘tuitando’...
De fato, o próprio Paulo Bernardo registrou em seu microblog, ao sair do calor do auditório:
- De volta ao Ministério do Planejamento. A posse do Padilha valeu por uma sauna!
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, que também prestigiara o evento, emendou em seu Twitter:
- Você gostou porque a sauna foi grátis, não entrou no Orçamento Geral da União...

DOIS IDIOTAS

DORA KRAMER

Chávez em foco


O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/09/09


A interferência explícita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na crise institucional que se abate sobre Honduras, pode influir na decisão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado que, nesta quinta-feira, examina o convite feito pelo Brasil para a Venezuela entrar no Mercosul.
O relatório do senador Tasso Jereissati está previsto para ser entregue hoje à Comissão de Relações Exteriores. Se a crise em Honduras já tinha tudo para se misturar com a questão do Mercosul - dada a posição de tutor do presidente deposto, Manuel Zelaya, assumida por Chávez -, essa hipótese torna-se agora mais provável porque o presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo, resolveu fazer uma reunião extraordinária para discutir os acontecimentos em Tegucigalpa, em especial a situação do Brasil como hospedeiro de Zelaya.
“Tranquilo” até a semana passada, confiante na condução do Itamaraty, o senador Eduardo Azeredo mudou de posição.
Por causa do agravamento da situação em si - ameaças de invasão da embaixada brasileira, ultimato por parte do governo de facto, decretação de estado de sítio por 45 dias, posição dos EUA considerando a volta do deposto um ato de irresponsabilidade, transformação da representação do Brasil em “bunker” sob administração de Zelaya - e das conversas que vem tendo nos últimos dias com especialistas no tema e embaixadores veteranos.
“Inicialmente, a comunidade internacional condenou a deposição de Manuel Zelaya e se solidarizou com ele. Pouco a pouco, porém, a história foi ficando mais clara e agora já não permite alinhamentos automáticos, pois há erros graves dos dois lados: se a expulsão do país foi uma quartelada, a ação anterior do presidente quebrou a regra constitucional e desrespeitou decisões do Judiciário e do Legislativo. Agora, um problema que caberia à OEA resolver está nas mãos do Brasil”, diz Azeredo.
Nesse quadro, reconhece, não há como o Congresso ficar omisso. Ele não aprova integralmente a decisão da Câmara de mandar uma comissão de deputados a Honduras. Acha que cabe ao Senado um papel preponderante, mas equidistante.
Hoje ele chega a Brasília já com a missão de convocar os líderes partidários e tentar construir um consenso sobre a forma de atuação do Parlamento. “Não podemos ficar só na base do ataque, na oposição, e da defesa, por parte da base de apoio governista, é preciso abordar o assunto com independência e competência.”
Grosso modo, o quadro, a contar pelas posições da semana passada, seria o seguinte: o DEM absolutamente contrário à ação do governo, o PT completamente a favor e o PSDB nem lá nem cá.

PADRÃO
A condescendência do Brasil com países de regimes de força, cuja “soberania” para matar, torturar, cassar, fraudar e calar é plenamente aceita, anula a credibilidade dos ataques do presidente Luiz Inácio da Silva a “usurpadores do poder” e esvazia suas posições em defesa da democracia no mundo em geral, particularmente agora, em Honduras, onde Roberto Micheletti assume sua face mais autoritária.
Governo que reconhece a China como economia de mercado e pede o fim do embargo norte-americano a Cuba sem impor um reparo sequer ao fato de serem, ambos, ditaduras, abre mão das credenciais para cobrar respeito à democracia ou a opinar nos acontecimentos hondurenhos nos termos em que Lula vem fazendo.
Como chefe de governo e de Estado, o presidente dispõe de prerrogativas constitucionais para decidir. Inclusive decidir expor o Brasil ao constrangimento que achar mais conveniente aos seus projetos.
Só não pode é querer ter razão nem que os outros o vejam como ele se vê: dono da sorte e da verdade do universo. Quando Lula desafia as pessoas a cotejarem a palavra dele com a de um “golpista”, se esquece de que, como presidente, jamais tomou o cuidado de firmar compromisso pétreo com a palavra dita a respeito de qualquer assunto interno.
Donde subtraiu a si autoridade para cobrar confiabilidade na palavra do presidente.

COISA E OUTRA
A ministra Dilma Rousseff acerta quando, ao se defender da fama de mal-humorada porque assume as posições sem tergiversar, aponta a falta de assertividade na maioria dos homens públicos.
Erra, porém, quando supõe que a firmeza justifique a falta de educação. Notadamente quando se dá “para baixo”. Quem vê a ministra da Casa Civil com o presidente Lula vê outra mulher. Solícita e sorridente. Meiga, até.

FIRME E FORTE
O senador Antonio Carlos Valadares, citado domingo como alvo do lobby em prol de José Antonio Toffoli, informa que não sofre pressão para mudar seu voto, até porque é favorável à indicação do advogado-geral da União para o Supremo Tribunal Federal.

ANCELMO GÓIS

CABRAL É AÉCIO

O GLOBO - 29/09/09


Cardiologistas políticos detectaram que no fundo do peito do governador Sérgio Cabral já não bate um coração tão entusiasmado pela candidatura de Dilma Rousseff.
Se Aécio Neves conseguir se livrar da amarra tucana e for o candidato de seu partido, será difícil segurar o entusiasmo de Cabral pelo mineiro.
MAS...
O vice Pezão continua fã de Dilma e não abre.
FAMÍLIA MODERNA
O juiz da 18ª Vara de Família do Rio, André Cortes Vieira Lopes, reconheceu a união de um cabo bombeiro e um empresário inglês que brigam pela partilha de um apartamento em Botafogo.
ELE É O CARA
O pianista Nelson Freire se apresentou sexta na Salle Pleyel, em Paris. Tocou o concerto nº 2 de Brahms, sob a regência de Valery Gergeiev.
O entusiasmo foi tanto, no fim, que Freire teve de voltar 12 vezes ao palco.
NO MAIS
A coluna jura que não tem implicância com o chanceler do B Marco Aurélio Garcia. Mas, é que ele ontem disse na Rádio CBN que o governo atual de Honduras é uma ditadura que “até fechou a principal rádio do país”.
Com todo o respeito, o companheiro Chávez fechou a principal TV da Venezuela e mais um monte de rádios, e Garcia não achou nada demais, até defendeu.
Ditadura é ditadura. Ponto.
PINCEL DE ZÉLIA
Acredite. Um quadro pintado pela ex-ministra Zélia Cardoso de Mello (um vaso de flores) está sendo oferecido no site do leiloeiro Roberto Haddad.
Veja em www.robertohaddad.com.br. É o lote 0808. O lance mínimo é de miúdos R$ 200.
O BICHO PEGA
Do técnico Dunga, ao saber que o lago ao lado da nova concentração da CBF, na Barra da Tijuca, está cheio de jacarés:
– Adorei. Quero ver fugirem da concentração pelos fundos.
TEM CULPA EU?
O presidente da Associação do Futebol Argentino, Júlio Grondona, que está no Rio para a reunião da Fifa, é uma figuraça. Ontem, numa roda, comentou, meio à brinca, meio sério:
– A imprensa brasileira não gosta de Dunga. Por isso, a seleção de vocês deve ganhar a Copa. Já a imprensa argentina adora Maradona, o que é um mal sinal para o nosso futebol.
ALIÁS...
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, e seu secretário-geral, Jêróme Valcke, têm tantos seguranças que eles devem achar que o Rio é a “Gangland” descrita pela revista New Yorker e não o paraíso descrito pelo jornalão New York Times.
CARNAVAL 2011
A licitação para explorar o carnaval na Sapucaí deve ficar para o ano que vem.
O secretário Antônio Pedro Figueira de Mello corre contra o tempo para fornecer as informações que o TCM pediu. Mas, há dúvidas sobre a possibilidade de fornecê-las no prazo necessário.
CRIME DUPLO
Superbactéria hospitalar, resistente a muitos remédios, atinge duas vítimas de violência no Rio – o médico Paulo Athayde Lopes, baleado no roubo de sua moto, em Ipanema, e a professora de educação física Ciléia Cordeiro, que levou pedrada, quando passava de carro pela Linha Amarela. Além de terem sido alvo de bandidos, também são atacados pelos hospitais do Rio. Ele teria contraído a bactéria no Miguel Couto. Ela, no Salgado Filho.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

CLÓVIS ROSSI

Pede para sair, Zelaya

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/09/09



SÃO PAULO - Se eu fosse do governo brasileiro, chamaria o capitão Nascimento, o personagem desse excelente ator que é Wagner Moura em "Tropa de Elite", para dizer "pede para sair, Zelaya". É a única solução para acabar com o esculacho na missão em Tegucigalpa.
Tudo bem condenar o golpe contra Manuel Zelaya em Honduras. Tudo bem também com a concessão pela embaixada brasileira de abrigo, hospedagem ou como se queira chamar, ao presidente vítima de um golpe mal disfarçado em ato constitucional.
Mas é demais deixar que o hóspede vire dono da casa, como está demonstrado nos textos desse brilhante repórter chamado Fabiano Maisonnave. Pior ainda é deixar que Zelaya faça, de território brasileiro, convocações para a resistência, o que não viola apenas as normas que caracterizam o asilo (pode não ser tecnicamente asilo o status de Zelaya, mas equivale a ele e o seu comportamento, por extensão, também tem que ser equivalente).
Viola acima de tudo a obrigação de qualquer líder político decente de proteger os seus. É covarde e indecente convocar manifestações refugiado na embaixada brasileira, sabendo que quem ouvir o chamado corre risco até de vida. Um líder político decente tampouco se cerca de ladrões -de celulares e até de toalhas-, como os que se "hospedaram" na embaixada.
Aliás, gente decente não constrange os anfitriões levando uma penca de "convidados" para a casa que lhe abriu as portas.
Zelaya continua sendo o presidente legítimo de Honduras, até porque não consta que a Constituição hondurenha -ou qualquer outra- inclua decência entre as qualidades para ser presidente.
Mas fica a cada dia mais claro que não há no drama hondurenho, agora transformado em ópera-bufa, um só personagem que pessoas decentes gostariam de convidar para o aniversário dos filhos.

CLÁUDIO HUMBERTO

“O que tirei de bom foi dar mais valor à vida”.
DILMA ROUSSEFF (CASA CIVIL), AO COMENTAR O FIM DE SEU TRATAMENTO CONTRA O CÂNCER

PLANALTO TEME QUE FALTA de QUóRUM DERROTE TOFFOLI
O Palácio do Planalto teme que a ausência de aliados coloque em risco a aprovação, no Senado, do nome de José Antonio Dias Toffoli para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Dezoito senadores faltaram à votação do indicado para o Tribunal de Contas da União, José Múcio, figura muito querida até na oposição. Como o ex-petista Toffoli é polêmico, os articuladores do governo tentam evitar surpresas.
REFORÇO
Muito embora não seja mais sua área, o ex-ministro da articulação José Múcio se juntou ao esforço do governo para garantir votos para Toffoli.
MAU COMEÇO
Foi decepcionante o discurso de posse do ministro Alexandre Padilha, substituto de José Múcio. Longo, cansativo e vazio de propostas.
PÕE NA COLEÇÃO
Mais uma derrota da nossa diplomacia: na OEA, os EUA chamaram de “irresponsável” a volta de Manuel Zelaya e o apoio de “alguns países”.
PORTA FECHADA
Antes de ingressar no PSC, o senador Mão Santa (PI) tentou assinar ficha no PSDB e no PPS. Bateu com a cara nas portas, fechadas.
OFICIAL DO EXÉRCITO BRASILEIRO NÃO VÊ ‘GOLPE’
Irmão do verdadeiro capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, o tenente-coronel Paulo Pimentel deveria ter sido ouvido, antes de o governo Lula se meter em Honduras. Trabalhava no país pelo Exército brasileiro, num acordo de cooperação, quando após a saída de Manuel Zelaya recebeu ordem para voltar. Texto atribuído a ele critica a atitude do novo governo de Honduras, mas é taxativo: não houve “golpe” no país.
ESTÁ NA CARTA
A Constituição de Honduras, diz Paulo Pimentel, veda a reeleição e destitui e considera “traidor da pátria” governante que tente instaurá-la.
GOLEADA
A destituição de Zelaya, decidida pela Corte Suprema, foi referendada pelo Congresso por uma votação acachapante: 123 x 5.
PORRA-LOUCA
Antes de cair, Zelaya liderou uma turba na invasão a instalações da Força Aérea hondurenha. Até seu ex-vice já estava contra ele.
REI VIVO, REI POSTO
No governo Lula, caem matando até quando um cargo apenas ameaça ficar vago. Licenciado para a sabatina no Senado, José Antônio Dias Toffoli passou por um constrangimento: a Advocacia-Geral da União, que ainda chefia, pediu de volta o seu celular, e que estava desligado.
PAI DOS POBRES
Além dos US$ 332 milhões para construir uma estrada, o governo Lula deu mais US$ 4 milhões nossos ao presidente cocaleiro da Bolívia, Evo Morales, para saúde e educação. Dos bolivianos, claro.
CONSULADO DO CALOTE
Em Nova York, empresas que alugam carros com motoristas correm de clientes brasileiros ligados a comitivas oficiais: reclamam que o consulado-geral do Brasil leva até 90 dias para pagar as faturas.
MAIS FURO NO CINTO
O governo “democraticamente comunista” de Cuba vai fechar “por enquanto” restaurantes de quatro estatais, para “reduzir gastos”. É a verdadeira união da fome com a vontade de comer dos cubanos.
GOSTO DE GOVERNO
A Santa Rosa Bureau Cultural, da ex-secretária de Cultura de Minas Gerais Eleonora Santa Rosa, ganhou do governo federal, sem licitação, R$ 400 mil para criar o Memorial da Anistia, em Brasília.
GRINGO NO PEDAÇO
Após uma temporada em Havard, Mangabeira Unger deve se filiar ao PMDB e percorrer o País tentando se viabilizar, creia, como candidato a presidente. Deveria, antes, fazer um intensivão de Português.
CHAPA BRANCA
Em nota, a União Nacional dos Estudantes repudiou o “golpe militar” em Honduras, mas não cita ditaduras cruéis como as de Cuba, Líbia e Zimbábue, cujos líderes posaram para fotografias ao lado de Lula.
OUTRA DO CHÁVEZ
O golpista Hugo Chávez conspira mesmo contra Lula. Plantou Zelaya na embaixada, para meter o Brasil na confusão em Honduras e agora declara apoio a Dilma Rousseff. Ela pensava ter-se livrado do câncer.
PENSANDO BEM...
...Manuel Zelaya armou literalmente o maior barraco na embaixada em Honduras.

PODER SEM PUDOR
CONTINGENCIAR É CRUEL
Quando era ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes recebeu os deputados Virgílio Guimarães (PT) e Athos Avenilo (PPS) e representes do norte mineiro. Ex-relator da reforma tributária na Câmara, Guimarães foi direto ao ponto:
– Queremos que você corte 70% da verba prevista para o Norte de Minas...
Diante de um Ciro boquiaberto, ele emendou, agora com ar de súplica:
– ...em compensação, queremos que você libere os outros 30%!
Todos caíram na gargalhada. O ministro prometeu pensar no assunto.

CANALHA

TERÇA NOS JORNAIS

- Globo: Honduras cede e promete suspender estado de sítio


- Folha: Golpista fecha rádio e TV em Honduras


- Estadão: EUA condenam Zelaya e criticam 'os que o ajudaram'


- JB: Jogos vão gerar dois milhões de empregos


- Correio: Mais uma chance para fantasmas do Senado


- Valor: Acaba a exclusividade nos cartões de crédito


- Estado de Minas: Sinal vermelho para a guarda


- Jornal do Commercio: Pernambuco avança na luta contra Aids

segunda-feira, setembro 28, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

Dilma é o Pacheco de terninho

28 de setembro de 2009

A impostura não resistiu à transcrição, sem retoques, das respostas a um punhado de perguntas não combinadas. Publicada pela Folhaem 20 de setembro, a entrevista concedida por Dilma Rousseff ao jornalista Valdo Cruz desencadeou a implosão, completada meia dúzia de declarações depois, da farsa concebida para vender uma irremediável mediocridade com a embalagem de superministra onisciente. Dilma é outra reencarnação, em forma de mulher, de um grande personagem criado por Eça de Queiroz em A correspondência de Fradique Mendes. É um Pacheco de terninho.

Depois de afirmar numa entrevista a VEJA que “Marco Aurélio Garcia é o Pacheco das relações internacionais”, o historiador Marco Antonio Villa descreveu a figura. “Era um sujeito tido como brilhante. No primeiro ano de Coimbra, as pessoas achavam estranho um estudante andar pela universidade carregando grossos volumes. No segundo ano, ele começou a ficar mais calvo e se sentava na primeira carteira. Começaram a achar que ele era muito inteligente, porque fazia uma cara muito pensativa durante as aulas e, vez por outra, folheava os tais volumes. No quarto ano, Portugal todo já sabia que havia um grande talento em Coimbra. Virou deputado, ministro e primeiro-ministro. Quando morreu, a pátria toda chorou. Os jornalistas foram estudar sua biografia e viram que ele não tinha feito nada. Era uma fraude”.

Não deixou nenhum livro, discurso, anotações em agenda, nada que prestasse. Apenas um punhado de frases tolas, ocas ou óbvias, todas pronunciadas com voz grave, expressão severa e o tom solene de quem anuncia o 11º mandamento. E então ficou claro que Pacheco era de poucas palavras e muita pose não porque passava o tempo todo pensando, mas por falta do que dizer. Caprichava nos maneirismos por entender que não é preciso ser uma sumidade; basta parecer que é.

O colosso intelectual de araque começou a tomar forma na aula de Direito Natural em que se ouviu pela primeira vez um enunciado do aluno caladão: “O século XIX é um século de progresso e de luz”. Estreou no Parlamento com um aparte ao orador que discorria sobre a liberdade. ”Ao lado da liberdade deve sempre existir a autoridade”, ponderou. Alguns meses de silêncio depois, enquadrou um parlamentar da oposição que criticava a política educacional do governo chefiado por quem ensinara que “um povo sem o curso dos liceus é um povo incompleto”.

Injuriado, Pacheco foi à réplica tremenda: “Ao ilustre deputado que me censura só tenho a dizer que enquanto, sobre questões de Instrucão Pública, Sua Excelência, aí nessas bancadas, faz berreiro, eu, aqui nesta cadeira, faço luz!”. Mais três ou quatro afirmações semelhantes e Pacheco foi dispensado de falar. Bastava a contemplação da testa, “uma superfície escanteada, larga e lustrosa”, para imaginar o tamanho do cérebro que guardava.

Sem saber atirar, Dilma foi promovida a musa da luta armada. Sem ter feito nada de relevante, sem produzir nenhuma ideia original, sem consumar qualquer obra notável, virou secretária municipal exemplar, secretária estadual cinco estrelas, ministra brilhante e, desde o despejo de José Dirceu, a superchefe da Casa Civil que todo presidente Lula pediu a Deus. Transformada em candidata à presidência sem ter disputado sequer uma eleição de síndico, até que foi bem enquanto fez de conta que falava pouco porque agia muito.

Acusada de transformar a Casa Civil numa fábrica de dossiês malandros, por exemplo, replicou com uma frase que Pacheco teria subscrito: ”Isso é a espetacularização do nada!”. É ela!, deslumbrou-se a companheirada. É ela!, concordou a base alugada depois de ouvi-la resumir a fórmula mágica do programa federal de casas populares: ”Quem não puder pagar nada não pagará nada. Mas haverá um esforço para todo mundo contribuir, nem que seja simbolicamente, com a prestação”.

Convidada a confirmar a candidatura ao Planalto, saiu-se com esta: “Hoje em dia o Brasil pode ter tudo. Já teve um presidente metalúrgico, pode ter um presidente negro, pode ter uma presidenta. A sociedade brasileira é madura o suficiente para saber que a sua multiplicidade pode ser representada de todas as formas”. Mas que crânio!, ficou emocionado Lula, que já se cumprimentava pela vitória arrasadora quando veio a entrevista. E à discurseira sem nexo seguiram-se declarações indecifráveis, frases sem pé nem cabeça, afirmações interrompidas no meio. Um desastre.

Dilma esqueceu que era só um Pacheco de terninho e embarcou na fantasia. Por ter ido longe demais, não vai chegar aos palanques de 2010.

O IDIOTA

ROGÉRIO GENTILE

A escolha do ministro


Folha de S. Paulo - 28/09/2009

O Supremo Tribunal Federal já abrigou ministros que enrubesceram o Judiciário. Na história recente, Francisco Rezek e Nelson Jobim são os mais notórios: fizeram com que o princípio da separação dos Poderes parecesse ser uma questão de guarda-roupa. De toga, eram juízes. Sem ela, políticos.
Rezek largou o tribunal após presidir a eleição de 89. Foi servir o vitorioso Collor no governo. Em 92, voltou ao STF pelas mãos do próprio, para deixar o tribunal de novo cinco anos depois. Patrocinado por FHC, foi para a Corte de Haia.
O currículo de Jobim não é menos brilhante. Ministro do tucano, foi indicado para o STF. Saiu-se tão bem na função que recebeu o apelido de líder do governo no Supremo. Depois, abandonou a Casa querendo ser vice de Lula. Não foi, mas ganhou cargo na Esplanada.
Rezek e Jobim são lembrados agora em razão da indicação do antigo advogado do PT José Antonio Toffoli para o STF por Lula. Talvez a comparação não seja justa -Toffoli, quem sabe, pode se tornar um excelente ministro, independente e isento, e dignificar o Supremo-, mas o ponto não é esse.
O problema é que esse modelo de escolha é frágil na medida em que provoca um entrelaçamento demasiado entre os Poderes -e o Executivo inevitavelmente acaba influenciando o pensamento jurídico.
Alguém imagina que um presidente vá escolher um ministro cujos pontos de vista sejam completamente diferentes dos seus nas questões que lhe são essenciais?
E não é natural que o indicado, por melhor que seja, tenha algum sentimento de gratidão por quem lhe deu um cargo tão importante e garantido até a aposentadoria?
O país deveria aproveitar a ocasião para debater e mudar o sistema. Várias propostas já foram feitas. Indicações tripartites (um terço pelo Judiciário, um terço pelo Ministério Público e outro pela OAB), lista tríplice, votação entre os membros do STF etc. Mas o essencial é que a decisão não fique mais nas mãos de uma única pessoa.

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

O início do Tsunami

O Estado de S. Paulo - 28/09/2009


As mudanças climáticas estão aí, atingindo as mais variadas regiões do mundo. Agora mesmo, o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, acaba de sentir a força das primeiras chuvas que caíram no Estado. Para não ficar atrás, parte da região do Rio Mississippi, nos EUA, também acaba de ser atingida por fortes cheias. Nada que não venha se repetindo com mais frequência, dentro e fora do contexto histórico, mas causando cada vez mais danos, em função da elevação do grau de violência com que os eventos acontecem.

O problema imediato para o Brasil é que estamos nos aproximando da época das grandes tempestades de verão, que são as responsáveis pelos danos mais dramáticos que anualmente cobram seu preço da sociedade brasileira.

Existe seguro para esse tipo de evento. As grandes tempestades, furacões, tufões, tornados, vendavais, secas e outras ameaças decorrentes da ação do clima não são novidade. O que é novidade é a aleatoriedade e o aumento da frequência e da intensidade dos eventos.

Como os países desenvolvidos sempre estiveram sujeitos aos humores do clima, não apenas pelo inverno rigoroso, mas, principalmente, pelas catástrofes naturais, as seguradoras há muito tempo disponibilizam apólices destinadas a garantir o patrimônio dessas sociedades contra esses e outros tipos de danos, como os terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas que também os atingem.

Nem poderia ser diferente, já que a razão de ser do mercado segurador é proteger a capacidade de atuação e o patrimônio das coletividades atendidas por ele. Todavia, ao contrário do que se pensa, mesmo nos países desenvolvidos, onde contratar seguro é uma prática normal, existem riscos dessa natureza que não são seguráveis, ou porque o preço das apólices seria proibitivo, ou porque o setor de seguros não tem capacidade de retenção para assumi-los.

Um bom exemplo do primeiro caso é o terremoto que abalou a região de Áquila, na Itália. As seguradoras pagaram poucas indenizações porque a maioria dos imóveis atingidos não era segurado contra terremotos, em função do preço. Já um bom exemplo para a segunda situação é a cidade de Miami. Embora alvo fácil para um grande furacão, as seguradoras, em função da concentração do risco, não aceitam integralmente esse tipo de cobertura para os imóveis localizados na cidade. Nesses casos, a ação do governo é o único remédio para minorar o drama das vítimas.

Muito embora as apólices brasileiras tenham cobertura para a maioria dos eventos de origem climática, essas garantias não costumam ser intensamente contratadas. Se o fossem, com certeza os danos causados por um tornado, que faz alguns anos varreu a região de Indaiatuba, teriam custado bem mais caro para as seguradoras.

Seja porque o folclore diz que o Brasil não está sujeito às catástrofes naturais, seja pela falta de tradição em contratar seguros, o fato é que, com exceção dos seguros de veículos, que indenizam danos causados pelos eventos de origem climática, são poucas as apólices contratadas para garantir este tipo de sinistro.

Em várias regiões do País elas poderiam ser contratadas sem maiores problemas, já que a aleatoriedade da ocorrência dos eventos permitiria, com base na diversidade e localização da massa segurada, o rateio das perdas pelo total dos segurados, sem onerar em demasia o custo do seguro.

Mas os prejuízos suportados por regiões como o Vale do Itajaí, em função da frequência e da intensidade crescente dos eventos, não seriam transferíveis para as seguradoras, ainda que o restante do país passasse a contratar essas apólices, aumentando o mútuo, e uma cessão de resseguros baseada no limite médio do setor aproveitasse a capacidade do mercado internacional para fazer frente e diluir as perdas.

Assim, a solução ideal para fazer frente aos danos das tempestades de verão é a atuação conjunta do poder público e da atividade seguradora.

*Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio Eldorado.

GEORGE VIDOR

Quem ganha mais?


O Globo - 28/09/2009


O Tesouro Nacional detém a maioria das ações com direito a voto na companhia, mas só possui, direta e indiretamente (via BNDESPar), cerca de 40% do capital total da Petrobras. Como os demais 60% estão nas mãos de investidores, muitos dos quais estrangeiros, qualquer benefício ou privilégio concedido à empresa, no caso do pré-sal, irá também favorecê-los.

No aumento de capital da Petrobras previsto para o no ano que vem, o Tesouro integralizará sua parte com reservas de petróleo a serem identificadas em áreas contíguas às descobertas já feitas no pré-sal. O mais provável é que apenas os investidores estrangeiros tenham cacife para acompanhar a União integralmente nessa subscrição, ampliando sua participação no capital total da Petrobras.

As considerações são de Luiz Carlos Mendonça de Barros, que, como presidente do BNDES e ministro das Comunicações conduziu várias privatizações no governo Fernando Henrique.

O aporte que os acionistas estrangeiros farão para acompanhar a União no aumento de capital da Petrobras pode corresponder, em um só dia, à média de entrada de investimentos externos no país no período de um ano (aproximadamente US$35 bilhões).

Para que o país não sofra antecipadamente de "doença holandesa" (valorização excessiva da moeda nacional por conta de receitas provenientes do setor de petróleo), essa operação financeira terá de ser avaliada com muito cuidado.

Quando falta algum profissional qualificado para ocupar determinado cargo ou prestar um serviço específico nos grandes projetos em andamento no complexo industrial de Suape (Pernambuco), os executivos na região usam muitas vezes a expressão "pega lá embaixo". Isso significa buscar esse profissional no Rio ou São Paulo.

O descompasso econômico entre as regiões no Brasil acabou gerando esse distanciamento, maior que o geográfico. Mas essa situação deve se modificar dentro de poucos anos, e no caso de Pernambuco a alavanca, sem dúvida, será o complexo industrial portuário de Suape.

A conjugação de uma nova refinaria com duas fábricas petroquímicas, um estaleiro de última geração e terminais portuários bem equipados podem servir de base para o surgimento de um pólo de montagem de equipamentos para a indústria de petróleo e gás tal qual os existentes em Cingapura ou na Índia.

Buscar o profissional "lá embaixo" deixará de ser necessário porque serão formados centenas de soldadores e operários especializados nos segmentos de caldeiraria e usinagem durante a construção da Refiaria Abreu e Lima (que no pico da obra chegará a empregar 22 mil pessoas).

A Abreu e Lima será a primeira refinaria brasileira a processar somente petróleo pesado e terá uma característica: não produzirá gasolina.

Com capacidade para processar 230 mil barris diários de óleo com 16 graus API (semelhante ao proveniente de Marlim, na Bacia de Campos), a refinaria produzirá essencialmente diesel (70%), coque (18%) e GLP (gás de cozinha). O diesel será tão claro, com 5 ppm (medida do material particulado emitido na atmosfera quando o combustível é "queimado"), que a refinaria terá de pegar óleo de outras "lá embaixo" para misturar ao seu, e fornecer ao mercado um produto com 50 ppm.

Na próxima década, o Brasil adotará o padrão europeu de 10 ppm, mas antes disso será preciso preparar a frota de veículos movida a diesel. Por enquanto, a maior parte do país ainda consome diesel acima de 500 ppm.

Quando estiver em operação, provavelmente em 2011, a nova refinaria tornará o Brasil autossuficiente em óleo diesel e gás de cozinha. O coque poderá ser usado em usinas termoelétricas ou em fornos de indústrias de cerâmica.

O município de Rio das Ostras urbanizou a sua orla, o que muitas vezes é apontado como desperdício dos royalties do petróleo. Embora seja uma questão discutível, Rio das Ostras aparecerá também em breve como um dos raros municípios brasileiros com 100% do esgoto urbano coletado e tratado.

Em 2007, os serviços de saneamento básico só atendiam a 15% da população. O município fez uma parceria público-privada (PPP) com o grupo Odebrecht e a primeira fase da obra já ampliou para 40% dos moradores tais serviços (com 66 quilômetros de rede de esgoto e 10 mil ligações).

A estação de tratamento tem capacidade para 570 litros de esgotos por segundo. Está dimensionada para atender a 250 mil pessoas (a atual população do município está em 120 mil).

O investimento é de R$316 milhões, dos quais 70% financiados pelo BNDES. Por 15 anos, a prefeitura local pagará mensalmente por esses serviços, que estão garantidos pelos royalties do petróleo.

A euforia com o pré-sal tem muito a ver com os resultados preliminares de poços perfurados nos blocos já concedidos. Na área batizada como Guará, a simulação feita a partir do teste em um único poço deu uma vazão equivalente a 50 mil barris/dia. Isso terá de ser confirmado em testes de longa duração. É uma vazão por poço só encontrada hoje na Arábia Saudita.