Eminência na Receita
Correio Braziliense - 28/08/2009 | ||||||||||||
Resistência
Estrada
Herege
Cinema
Porteira
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Correio Braziliense - 28/08/2009 | ||||||||||||
Resistência
Estrada
Herege
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O Globo - 28/08/2009 |
Nas ruas de grandes cidades americanas e europeias sempre me admiro com o respeito, e o temor, dos motoristas pelas leis de trânsito. Não há horário ou pretexto para que algum carro avance com o sinal amarelo. Pode até ranger freios e pneus, dar um susto no passageiro, até mesmo levar uma encostada na traseira, mas ninguém cruza a faixa de pedestres no amarelo. Não só a multa é pesadíssima, como o infrator tem que comparecer ao tribunal, perde pontos na carteira, tem uma grossa chateação. É um comportamento profundamente arraigado nos motoristas e um símbolo de convívio urbano civilizado. Entre nós é justamente o contrário. Porque no Brasil em geral, e no Rio de Janeiro em particular, a regra é aproveitar até o último restinho de amarelo antes do vermelho e ser mais esperto do que os outros. Pelo menos até o próximo sinal. Em cidades mais violentas e inseguras como Rio, Recife, Belo Horizonte e Vitória, nem o sinal vermelho é respeitado, por motivos óbvios: para não ser assaltado, hoje um clássico urbano brasileiro. O Estado é incapaz de dar segurança ao cidadão e não pode puni-lo por proteger sua própria vida. Mas mesmo em nossas cidades mais civilizadas o amarelo é como um extra, um bônus, um “chorinho” do verde. Não é preciso ser nenhum professor DaMatta para perceber que, mais do que um mau hábito perigoso, é uma metáfora do nosso jeito brasileiro de ser. A pressa que leva ao atraso. Acostumado a atravessar as ruas do Rio de Janeiro depressa, mesmo com a luz verde, e depois de olhar para os dois lados, até em vias de mão única, tive um choque de civilização em Roma quando descobri, incrédulo, que onde não havia sinal bastava colocar o pé na faixa para que todos os carros parassem imediatamente, em qualquer lugar ou horário, por mais movimentados que fossem. Mas nós amamos tanto o amarelo, símbolo do ouro na nossa bandeira e na camisa da seleção, que o usamos até para mostrar desprezo. Se falta coragem a alguém em um momento decisivo, diz-se que amarelou. Como o senador Mercadante, que para não ficar vermelho por cinco minutos vai ficar amarelo o resto da vida |
Folha de S. Paulo - 28/08/2009 |
Passo a coluna para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), porque o que ele narra consegue ser estarrecedor mesmo em um país em que parecia esgotado o estoque de estarrecimentos. |
O Estado de S. Paulo - 28/08/2009 |
O PT salvou Sarney. E isso, para os crédulos militantes petistas, é um desastre. Para entender o que significa ser petista e por que os militantes do partido acreditam ser moralmente superiores é preciso voltar no tempo. Mais precisamente, ao início da década de 1980, quando o PT foi fundado. Nas universidades e na intelectualidade em geral, o pensamento marxista prevalecia. Eu, então, era estudante. E naquela época quem não abraçava a causa de Marx era automaticamente tachado de simpatizante da ditadura. O regime militar bem que alimentava essa dicotomia. Para seus defensores, quem não era favorável ao sistema era imediatamente identificado como comunista. E assim fluía o pensamento: marxistas de um lado e militaristas de outro, não havia lugar para liberais e democratas. E o que é o marxismo ou, como proclamam os seus seguidores, a "causa"? A "causa" é a mais nobre das aspirações que um humano possa ter. Ela defende o comunismo como etapa necessária para se chegar ao socialismo. E tanto o comunismo como o socialismo requerem de seus seguidores que abandonem todo o apego aos bens materiais. A lógica é perversa: a propriedade privada é a causa de todos os males que assolam a humanidade. É por causa de sua existência que os homens, em vez de colaborarem entre si, preferem disputar a posse de todo e qualquer bem, usando da violência se preciso for. Uma vez abolida a propriedade privada e investindo pesadamente na educação, a geração seguinte necessariamente será solidária, preocupar-se-á com o bem comum e colocará as aspirações coletivas acima das suas próprias, individuais. Bem, isso vale para as próximas gerações. E para esta, a atual? Para esta geração, na qual se dará a grande transformação, impõe-se como condição básica que seus defensores tenham um rígido autocontrole. Todos nós fomos criados e condicionados a alimentar ambições materiais e aspirar a toda e qualquer propriedade. Os adeptos da "causa" têm de ter consciência de que essa transição não é fácil. Luta-se contra aquilo que os burgueses chamam de "natureza humana". Querem estes que sejam timbradas como naturais ao homem as ambições materiais, quando elas, na verdade, não passam de um condicionamento proveniente da existência da propriedade privada. Mas, uma vez feita a transição - e não se descarta o uso da violência e da luta armada para tanto -, o "homem socialista" que advirá será em tudo superior ao atual. Esta é a grande "causa": promover a transição da geração atual para a futura, muito melhor. Os raciocínios que presidem a "causa" são mais sofisticados do que isso e não vale a pena descrevê-los. O importante é ter ciência de que os adeptos da "causa" se sentem agentes da grande mudança. Não é à toa que se sentem, individualmente, moralmente superiores ao restante da humanidade. A "causa" exige muito, mas acaba sendo gratificante. Os seus adeptos não alimentam mais nenhuma dúvida sobre nada. Para todas as manifestações da natureza humana existem explicações plausíveis. E toda mesquinhez, todo egoísmo e toda ganância desaparecerão, uma vez abolida a propriedade privada. Em especial a propriedade privada dos meios de produção. Pois bem, foi com esse espírito de entrega, renúncia e dedicação à "causa" que nasceu o Partido dos Trabalhadores, em 1980. Era um partido que se proclamava diferente e superior a todos os outros partidos porque não estava ingressando na política para satisfazer vontades e aspirações individuais, mas sim para implementar uma ideia. O PT seria um partido com um norte definido. E esse objetivo era nada menos do que a "causa". Poucos se recordam agora, mas antes de entrar na fase ética e moralista os intelectuais petistas torciam o nariz quando se lhes propunha que desfraldassem a bandeira do combate à corrupção. Esse era um tema secundário, argumentavam eles. Que importância tem expurgar os corruptos da sociedade quando o grande roubo que existe nela é o perpetrado pelos burgueses sobre os proletários? A classe trabalhadora, diziam, era explorada pelos patrões, que estavam cada vez mais ricos, enquanto os pobres ficavam cada vez mais pobres. Bem, esse era o clima que perdurou por toda a década de 80. Na década seguinte o PT abraçou de corpo e alma a imagem de um partido ético, que, na esfera pública, não rouba nem deixa roubar. Foi com essa silhueta que o partido cresceu e finalmente alcançou o poder maior, em 2002, com a eleição de Lula para presidente da República. Tudo isso está sendo relembrado para demonstrar que a ética e a moralidade na área pública são bandeiras estranhas à "causa". Não estão impressas em seu DNA. Isso ficou claro em 2005, quando ocorreu o escândalo do "mensalão". Os petistas, ficou demonstrado, não se incomodam em recorrer a expedientes antiéticos, desde que o façam para facilitar a implementação da "causa". Nos dias que correm, já há intelectuais petistas que voltam a demonstrar o seu menosprezo original pelas bandeiras éticas. Alegam que ficar clamando pelo combate à corrupção é uma manifestação de moralismo "pequeno-burguês" e de "udenismo tardio". É, no mínimo, curioso ouvir tais argumentos da boca de empertigados intelectuais petistas que, antes da chegada ao poder, eram os paladinos da caça aos corruptos e da introdução da ética na esfera pública. Nós, os execráveis "pequenos burgueses", ao menos estamos onde sempre estivemos. Entendemos que aqueles que se vendem não merecem ser comprados. E que os que entendem não ser possível ser políticos honestos que tratem de ser honestos sem ser políticos. |
Fator institucional
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO
Mais do que a convicção sobre a inexistência de indícios contra Antonio Palocci, o que determinou o placar de ontem no Supremo Tribunal Federal foram fatores institucionais. Vice-presidente da Corte, Carlos Peluso elogiou a denúncia do Ministério Público e o inquérito da Polícia Federal, reconheceu que houve delito, mas, na última hora, acompanhou o voto do presidente e relator Gilmar Mendes. O voto de Peluso definiu o resultado a favor do ex-ministro da Fazenda.
No entender de quem acompanha as relações internas do STF, Peluso não quis ser responsável por cravar em Mendes derrota de tamanha envergadura.
Lembrete - Advogados presentes no plenário avaliam que a presença de Francenildo ajudou a consolidar votos contra Palocci, em especial o de Carlos Ayres de Britto, que fez longa reflexão sobre a origem humilde do caseiro.
Na beca - Francenildo, que nada falou durante a longa sessão, foi vestido da cabeça até quase os pés por seu advogado. As meias esportivas contrastavam com o terno.
Surpresa! - Os advogados dos denunciados se assustaram quando viram o representante de Francenildo com uma beca usada para sustentação oral. Só então souberam que ele tentaria atuar como assistente de acusação.
Vai que é tua - José Roberto Batochio, advogado de Palocci, pediu que o colega Alberto Toron fizesse no microfone a objeção a que o advogado de Nildo entrasse como assistente da acusação. Não queria associar o nome do ex-ministro, de novo, a tentativa de se sobrepor ao caseiro.
Plantão médico - Com um quorum de dois ministros a menos, Eros Grau parecia estar ali na base do sacrifício. Chegou atrasado e contou com o apoio de dois assessores, além de sua bengala.
Velocidade da luz - Em agosto de 2007, quando o STF decidiu pela abertura de ação contra os 40 do mensalão, o auge da comunicação era o MSN. Agora, na era do Twitter, os ministros preferiram ficar fora da rede social.
Protesto - A decisão pró-Palocci revoltou a procuradora da República Janice Ascari, que, no Twitter, protestou: ‘No momento da denúncia, o in dubio é pro societate, não pro reo!!! A dúvida é interpretada em favor da sociedade’.
Bônus - Vladimir Poleto, ex-assessor de Palocci em Ribeirão Preto e um dos personagens do caso do caseiro, ganhou há dois meses da Comissão de Anistia indenização de R$ 15 mil. Alega ter sido perseguido pela direção do Banco do Brasil na década de 80.
Prévia - Lula convidou José Serra (PSDB-SP), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Paulo Hartung (PMDB-ES) para papo no Alvorada domingo à noite, véspera do lançamento do marco regulatório do pré-sal.
Veja bem - O presidente disse aos governadores, insatisfeitos com a questão dos royalties, que o grupo de trabalho do pré-sal se reunirá hoje. Deixou em aberto a possibilidade de compensação. Integrantes do grupo, porém, dizem que a reunião de hoje será apenas um ‘ensaio geral’ para o evento de segunda.
No vermelho - Dados da Confederação Nacional de Municípios apontam que a terceira remessa de agosto do FPM, a ser depositada hoje no caixa das prefeituras, encolheu 15% em relação ao ano passado. O valor é 5% inferior ao previsto pelo Tesouro.
Água fria - A decisão da juíza federal Simone Barbisan Fortes, desqualificando parte da denúncia do Ministério Público contra Yeda Crusius (PSDB-RS), atrapalhou o plano da oposição de focar a CPI da Corrupção na governadora e na assessora Walna Vilarins.
Tiroteio
O GSI espera que acreditemos que a segurança de qualquer prédio público da Esplanada é mais criteriosa que a do Palácio do Planalto.
Do deputado RAUL JUNGMANN (PPS-PE), sobre a alegação do Gabinete de Segurança Institucional de que o circuito de câmeras não armazenaria imagens por mais de 30 dias.
Contraponto
Futurologia
No intervalo da sessão do Supremo para julgar o pedido de abertura de ação penal contra Antonio Palocci, Jorge Mattoso e Marcelo Netto conversavam os advogados José Roberto Batochio, defensor do ex-ministro, e Alberto Toron, que representa o ex-presidente da CEF. Jornalistas tentavam extrair da dupla uma previsão do resultado.
- Já perguntei ao Toron, que é grego, se ele tem linha direta com a Pitonisa ou com o Oráculo de Delfos para saber, mas até agora nada - gracejou Batochio.
O colega emendou:
- Eu já consultei o oráculo, os búzios, a cartomante, apelei para todos os santos, mas nada de resposta.
E seguiram trocando figurinhas até a volta da sessão.
- Globo: STF livra Palocci e processa apenas ex-presidente da CEF
- Folha: Palocci vence caseiro no Supremo
- Estadão: Livre no STF, Palocci tem apoio de Lula para eleição
- JB: Mais R$ 100 milhões para segurança no Rio
- Correio: Cartão vermelho à gastança do Senado
- Valor: Perdas de usinas com derivativos atingem R$ 4 bi
- Estado de Minas: O Velho Chico cobra a conta: R$ 20 milhões
- Jornal do Commercio: Igarassu recusa lixo do Recife