Sabemos desde Platão que o eleitorado é presa fácil para demagogos
Fica cada vez mais fundo o buraco em que o Reino Unido se meteu ao decidir pelo brexit. Com a renúncia de Theresa May, ampliam-se as chances de o país deixar a União Europeia sem nenhum tipo de acordo, o que seria desastroso para a economia.
Também fica maior a probabilidade de “remainers” encontrarem alguma brecha política ou jurídica para exigir um segundo plebiscito, que, na hipótese de produzir um resultado diferente daquele do primeiro, causaria danos para o mecanismo de consulta popular e, por extensão, para a própria democracia.
Como os britânicos puderam cair nessa armadilha? A triste verdade é que a democracia, em especial a democracia sem filtros, traz esses riscos. Nós sabemos desde Platão que o eleitorado é presa fácil para demagogos. O que a ciência política e a psicologia modernas fizeram foi descrever com minúcia os vieses pelos quais as pessoas se deixam levar, além das aporias irredutíveis de processos de decisão por maioria.
O curioso é que, apesar das possibilidades quase infinitas de a democracia dar errado, os países que a adotam estão no geral muito melhor do que os que a desprezam. Ao que tudo indica, ela funciona, mas não pelas razões que gostaríamos.
As virtudes da democracia não estão nas escolhas que ela gera, mas em efeitos secundários que vêm no pacote de produtos que costumam acompanhá-la. São itens como liberdades individuais, direito de propriedade, segurança jurídica e, também, a percepção de que a disputa pelo poder segue regras justas e que a parte derrotada não enfrentará ameaça existencial, podendo até vencer no próximo ciclo. Juntos, esses elementos costumam promover a moderação.
O problema do populismo é que, ao vender falsas soluções fáceis, ele desequilibra o jogo e pode colocar países em caminhos totalmente inadequados ou mesmo sem volta. Como os brasileiros estão descobrindo, o voto tem consequências.
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