Na primeira coluna que publiquei aqui, em 9 de setembro de 2012, defendi que o debate sobre a economia deveria ultrapassar os muros do governo e dos círculos especializados, uma vez que as decisões econômicas impactam direta e intensamente a vida de todos. Nada mais natural e necessário, portanto, que todos entendam as medidas que são tomadas, seus custos, seus benefícios e suas consequências.
Naquela época, já era possível vislumbrar sinais da crise que vivemos hoje. Mas, apesar de alguns esforços, o debate econômico seguiu em boa parte intramuros, o que certamente contribuiu para a evolução negativa da situação.
Se o debate fosse mais abrangente e eficiente, talvez a população pudesse ter sido mais incisiva na defesa do equilíbrio fiscal e da inflação controlada, fundamentos que os brasileiros aprenderam a valorizar, mas não conseguiram defender, interditados, entre outras coisas, pelo debate hermético ou diversionista.
Por mais presente que seja o passado, mais importante é falar do futuro. A retomada do crescimento sustentável, que pode e deve unir o país neste momento, virá da adoção de medidas críveis e exequíveis para equilibrar as contas públicas, restaurar a confiança, garantir previsibilidade e destravar investimentos. E com eles voltarão emprego, renda, consumo e inclusão social, criando um ciclo virtuoso na economia.
As soluções não são fáceis, mas são possíveis e conhecidas. Os últimos anos trouxeram lições importantes. O fracasso de teses históricas caras a partes do pensamento econômico e político brasileiro deve servir para aperfeiçoar e estimular o entendimento sobre as causas do crescimento e da recessão.
Para promover as mudanças necessárias, será fundamental um debate honesto e construtivo e uma comunicação clara e contundente, para que todos entendam os custos e os benefícios das medidas econômicas.
Como escrevi na estreia em 2012, enquanto a distribuição dos recursos públicos é objeto de intenso debate político e ideológico, a distribuição dos custos das medidas econômicas não é transparente. Os governos são capazes de encontrar caminhos para financiar o aumento de despesas sem que os cidadãos que pagam por elas notem, avaliem e aprovem.
Quase cinco anos depois daquela primeira coluna, me despeço deste nobre espaço para assumir o Ministério da Fazenda com a certeza de que as discussões econômicas precisam ser mais abrangentes, claras e sinceras. Assim, serão ferramentas fundamentais para retomarmos o caminho do desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo.
Muito obrigado à Folha e aos leitores pela atenção.
HENRIQUE MEIRELLES deixa de escrever nesta coluna porque assumiu o cargo de ministro da Fazenda.
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