quarta-feira, outubro 14, 2015

Salve-se quem puder - VICENTE NUNES

CORREIO BRAZILIENSE - 14/10

A crise política que está devastando a economia vai ampliar o atoleiro no qual o país se meteu. Com o governo totalmente voltado para evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o Congresso em pé de guerra em relação ao tema, são remotas as chances de o ajuste fiscal ser aprovado neste ano. Desiludida, a equipe econômica já admite que o Brasil poderá ter três anos de deficit nas contas públicas - 2014, 2015 e 2016 -, e o rebaixamento por mais uma agência de classificação de risco - provavelmente, a Moody"s - virá mais cedo do que se imaginava.

A sensação que se tem na Esplanada é de que se instalou nos gabinetes de Brasília o salve-se quem puder. Não há mais nenhuma preocupação com os rumos da economia. A prioridade, tanto no comando do Palácio do Planalto quanto no Legislativo, é garantir o mandato. O que vier depois é lucro. Para a população, no entanto, está se entrando no pior dos mundos, um tempo de incertezas que vai agravar a recessão, ampliar o desemprego, elevar a inflação e obrigar o Banco Central a manter os juros nas alturas por um prazo mais longo do que o desejado.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de intervir no rito do processo de impeachment de Dilma na Câmara deu ânimo ao governo, sobretudo por indicar um rumo que vai além das vontades do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Mas, apesar da lucidez que impôs ao caso, o STF colocou o debate sobre o afastamento da presidente da República na ordem do dia. Agora, não há mais dúvidas de que a petista pode, sim, perder o mandato. Não se trata mais apenas de um desejo da oposição ou de vingança de Cunha.

Mas, que fique claro: quanto mais demorar a decisão sobre o impeachment, maior será o estrago na economia. Entre os empresários, a ordem é suspender qualquer transação que implique riscos demasiados. A justificativa é de que, qualquer que seja o desfecho, o resultado será turbulento. Mantida no Planalto, Dilma será um fantasma, não terá condições de aprovar nada que possa resultar em um ajuste efetivo das contas públicas. No máximo, conseguirá pôr em prática remendos que vão manter a desconfiança e adiar a retomada do crescimento. Caso a presidente seja afastada do poder, não se sabe quem será o sucessor, nem se ele terá força suficiente para construir apoio no Congresso e reverter o pessimismo que maltrata a economia.


Combinação perversa

Havia a esperança dentro do governo de que as projeções para o ritmo da atividade e a inflação parariam de piorar depois da apresentação do pacote fiscal para cobrir o rombo de R$ 30,5 bilhões previsto no Orçamento de 2016 e ainda garantir superavit primário de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, passado um mês do anúncio, nada avançou. Tudo ainda é promessa. Resultado: o consenso do mercado já é de retração econômica de 3% neste ano e de 1,2% no próximo, e as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se descolaram do centro da meta, de 4,5%, até 2018.

"A cada dia, damos um passo em direção ao abismo", admite um graduado funcionário do governo. Ele ressalta que a administração Dilma se resume a encontrar caminhos que permitam à presidente encerrar o mandato. Portanto, aqueles que estavam esperando um sinal de sensatez emitido do Palácio do Planalto podem esquecer. E aos que ainda acreditam em promessas, restará o discurso do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, como se sabe, está mais fraco do que nunca, funcionando como um enfeite num governo desastroso.

Na avaliação de técnicos da equipe econômica, em meio ao caos, será preciso um milagre para que o Congresso estenda as mãos a Dilma enquanto os holofotes estiverem sobre o impeachment. Sendo assim, os R$ 32 bilhões esperados da CPMF estão praticamente fora de cogitação, assim como o ajuste fiscal de curto e médio prazos. "Chega a ser risível ouvir o ministro Levy falando em reforma da Previdência ou do ICMS. No quadro atual, isso é motivo de piada", assinala um dos técnicos, que está há quase 30 anos na Esplanada e nunca viu tanta paralisia na administração federal.

Nada do que se está vendo, porém, deve ser motivo de espanto. O empenho de Dilma e de sua equipe em destruir a economia e a governabilidade foi enorme. A combinação de arrogância, incompetência e corrupção não tinha como dar certo. A presidente transformou a gestão do país em uma lojinha de R$ 1,99, recheada de manobras contábeis, com o objetivo único de manter o poder de seu partido, o PT. Ela pode até perder o mandato, mas é a população que pagará a maior parte da conta. A cada minuto, sete pessoas estão sendo demitidas no país. Muitas já não conseguem pagar contas básicas, como água e energia elétrica. Somente por isso, Dilma já faz parte da história que o Brasil quer esquecer.


Boatos com o aval de Levy

O Banco Central já identificou a origem dos rumores de que o presidente da instituição, Alexandre Tombini, estaria demissionário. Todos os boatos saíram do Ministério do Fazenda, com o aval de Joaquim Levy.

BC ficou mais fraco

O que assessores de Tombini se perguntam é o que a Fazenda ganhou ao criar instabilidade nos mercados, pois enfraqueceu o BC num momento conturbadíssimo, de rebaixamento do país pela Standard & Poor"s.

Fazenda soberana

Levy e seus assessores também são mestres em espalhar notícias sobre as relações nada amigáveis com o Ministério do Planejamento. O objetivo é fazer prevalecer a visão do ministro da Fazenda.

Descaso da Previdência

Os servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dizem que encerraram a greve, mas o atendimento ao público continua um caos, extremamente desrespeitoso. A situação merece uma intervenção enérgica da Justiça.


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