CORREIO BRAZILIENSE - 28/10
As manifestações de 2013 sinalizaram que parcela significativa dos brasileiros estava insatisfeita com a conjuntura nacional, traduzida pela qualidade sofrível dos serviços públicos, pelos gastos extraordinários na preparação da Copa do Mundo e por uma indignação difusa contra a corrupção. Ante o assombro dos políticos com a revolta popular, a presidente Dilma Rousseff anunciou cinco pactos como forma de o governo responder aos anseios da nação. Um dos pontos apresentados consistia na tal reforma política - sim, a mesma que voltou ao discurso da presidente na noite de domingo, desta vez reeleita para mais quatro anos em Brasília.
Em 2013, a iniciativa do Planalto naufragou nos meandros do Congresso. O Senado e a Câmara anunciaram uma pauta positiva, igualmente em resposta aos protestos de junho, mas guardaram na gaveta a mobilização por mudança. Nada leva a crer que os parlamentares eleitos ou a presidente reconduzida ao cargo terão reais condições ou genuíno interesse em abolir distorções como financiamento privado de campanha, fundo partidário para defender políticos na Justiça ou a trintena de legendas que fazem da política um jogo de toma lá dá cá. É altamente improvável que surja algo novo na próxima quadra.
Merece estudo e reflexão a contradição de um país que foi às ruas exigir mudança e, no ano seguinte, decide votar pelo continuísmo. Numa situação inédita desde a redemocratização, um partido permanecerá no centro do poder por quatro mandatos presidenciais consecutivos. Com o resultado das urnas, o governo recebe a chancela para prosseguir com a política econômica de juros altos, leniência com a inflação e frouxidão fiscal. Obtém igualmente o apoio a uma administração enviesada, que procura atender a parcela mais carente da população brasileira, mas sacrifica o setor produtivo e a classe média, em uma lógica esquerdista contra a chamada elite ou burguesia. Esse corte social defendido pelo PT produziu um efeito político desagregador, que nas eleições rompeu os limites do bom senso e se expressou por meio de manifestações mútuas de ódio e preconceito. Em ambiente tão deflagrado, não restava alternativa à presidente reeleita que fazer um apelo pela união nacional, a fim de curar as feridas da campanha e instaurar a normalidade civil.
Dessa eleição marcante em vários aspectos, talvez a novidade digna de registro venha da oposição. O desempenho de Aécio Neves pode inaugurar um período de relevante contestação à prática governista, tão necessária à democracia quanto ao PT.
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