FOLHA DE SP - 28/10
SÃO PAULO - Foi apertado, mas acabou dando Dilma. Ela até que começou bem, afirmando, em seu primeiro pronunciamento como presidente reeleita, que está disposta ao diálogo --uma sinalização de que quer evitar o discurso radicalizado que marcou a campanha. Pelo menos por ora, imaginar que o Brasil está seguindo os passos da Venezuela parece mais exercício de paranoia do que um temor fundado.
No que diz respeito ao futuro próximo, há nuvens negras tanto no horizonte econômico como no político. A armadilha do baixo crescimento com inflação alta em que o governo nos enredou exigirá, senão medidas amargas, ao menos o adiamento das muitas bondades insinuadas na propaganda. No front político, além do sinal amarelo emitido principalmente pelos eleitores das regiões de maior dinamismo econômico, a administração deverá ser assombrada por uma espécie de crise permanente, conforme avançarem as investigações sobre propinas na Petrobras.
Espremida entre as dificuldades orçamentárias e as exigências de uma base aliada fortalecida pelo escândalo, Dilma não deverá ter muito espaço de manobra. Paradoxalmente, isso pode ser uma boa notícia, já que a presidente terá de limitar sua imaginação econômica e conter seus ímpetos intervencionistas. Pelo menos no primeiro governo Lula, a forte desconfiança do mercado sobre suas intenções acabou exercendo um poder moderador que contribuiu para a gestão responsável das finanças.
Mesmo que tudo dê errado, o que é sempre uma possibilidade, o otimista inveterado pode regozijar-se com o fato de que a eleição de Dilma favorece a curva de aprendizagem do eleitorado. Na hipótese de amargarmos uma feia crise social, a responsabilidade vai estourar no colo de quem a provocou, não de terceiros. Mesmo os talentosos marqueteiros do PT teriam dificuldades para culpar o governo FHC pelo que vier a acontecer a partir de 2015.
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