O ESTADO DE S.PAULO - 28/10
Fracasso de ponta a ponta em seu primeiro mandato, a política econômica foi assunto secundário no primeiro discurso da presidente Dilma Rousseff logo depois de confirmada a reeleição. Numa rápida menção ao tema, ela prometeu "dar impulso às atividades econômicas", em especial à indústria. Terá de ser um impulso e tanto para desatolar a produção. A economia crescerá este ano 0,9%, se estiver correta, pelo menos desta vez, uma previsão do ministro da Fazenda, Guido Mantega (ele citou esse número na semana passada). Confirmada a projeção, terá sido um desempenho humilhante, se comparado com o de outros emergentes e até com o de alguns países avançados, como os Estados Unidos.
Nesse caso, a presidente Dilma só poderá exibir, depois dos primeiros quatro anos de mandato, um crescimento acumulado de 7,28%, com ritmo anual médio de 1,77%, um dos mais baixos em mais de um século de República.
Mas poucos são bastante otimistas para apostar nesse resultado. Na sexta-feira, dois dias antes da votação do segundo turno, a mediana das projeções do mercado financeiro estava em 0,27%. No começo do mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) havia anunciado sua nova estimativa de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de 0,3%. Na América do Sul, só Argentina e Venezuela, em recessão, devem exibir números piores neste ano.
Não haverá crescimento maior que o dos últimos quatro anos sem expansão dos investimentos produtivos. Mas o setor privado continua investindo pouco, assim como o governo, e neste ano encolheram tanto a produção quanto a importação de máquinas e equipamentos. Condição essencial para o empresário investir é a confiança nas instituições e na condução da política econômica.
Essa confiança, no caso brasileiro, é tão baixa quanto aquela evidenciada pela evolução dos números do mercado de capitais. Ontem de manhã, o Ibovespa, da bolsa paulista, chegou a cair 6%, enquanto ações da Petrobrás despencavam quase 14%. Mas o impacto da reeleição pode até ser moderado, nestes primeiros dias, porque as consequências da vitória petista já estavam em parte incorporadas nos preços dos papéis.
No caso da Petrobrás, a desconfiança continua refletindo os problemas associados aos controles de preços de combustíveis, as perdas derivadas de maus investimentos, os tropeços de uma administração prejudicada pelo aparelhamento e, é claro, a percepção incompleta da extensão da pilhagem ainda sob investigação.
Má administração, agravada por decisões sujeitas a conveniências pessoais e político-partidárias, também marcou a história dos bancos estatais nos 12 anos de governo petista. Só uma cuidadosa auditoria - solução rejeitada em pronunciamentos de campanha pela presidente Dilma Rousseff - mostrará a gravidade real dos danos. Parte do quadro, incluídas algumas perdas mais visíveis do BNDES, já é conhecida.
Problema especialmente importante é a promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais. Além de servir a políticas mal concebidas e mal executadas de estímulo ao investimento, essa promiscuidade prejudicou a administração do orçamento. Mas também serviu, ao mesmo tempo, à famigerada contabilidade criativa das finanças públicas, por meio de manobras com dividendos.
Não haverá recuperação de confiança nem se diminuirá o risco de rebaixamento do crédito brasileiro pelas agências de classificação, sem um esforço muito claro de correção da política orçamentária. Sem isso, também será inútil qualquer discurso a respeito de combate à inflação. Com as contas públicas em desordem, sobrará apenas um instrumento - os juros elevados - para conter a expansão dos preços e conduzir a inflação à meta de 4,5% ao ano. Para 2014, projeções de mercado apontam uma taxa de 6,45%.
O emperramento da indústria e do investimento reflete-se na piora das contas externas e na perda de qualidade dos empregos criados. Nenhum desses problemas se resolve com inflação, desordem fiscal e protecionismo. Nada, nas palavras e atitudes da presidente, indica o aprendizado desses fatos.
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