segunda-feira, junho 02, 2014

Crédito e credibilidade - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/06

A reticência e o pessimismo de consumidores e empresas têm aparecido nas pesquisas de confiança com especial intensidade neste bimestre. O desempenho do crédito bancário em abril evidenciou sinais concretos desse desânimo.

Parou de crescer o total de dinheiro emprestado nas modalidades chamadas de "livres" nas estatísticas oficiais. Isto é, de empréstimos concedidos nos termos, prazos e taxas do mercado com fundos obtidos no mercado, aqueles que não são regulados por diretrizes estatais ou financiados de algum modo pelo governo.

Descontada a inflação, o total do crédito "livre" para pessoas físicas ou jurídicas era, no mês passado, idêntico ao de abril de 2013.

O bolo como um todo ainda cresce devido ao desempenho das modalidades "direcionadas" (financiamento imobiliário com recursos oriundos da caderneta de poupança, empréstimos do BNDES e crédito rural, por exemplo). São concedidos devido ao desejo do governo de estimular uma economia apática faz mais de três anos, estatizando em parte o mercado de crédito.

Mesmo assim, há uma desaceleração. Em termos reais, o total de empréstimos aumentou 6,7% no ano decorrido até abril deste 2014. Em 2013, crescia ao ritmo de mais de 9%. Em 2011, a mais de 13,6%.

A estagnação do estoque de crédito "livre" resulta decerto da relutância dos bancos comercias, que temem o risco de inadimplência. Mas a procura de crédito por parte dos clientes também diminui.

É compreensível. O número de pessoas empregadas nas grandes cidades deixou de crescer no último semestre, assim como o total dos salários no bimestre passado. O ambiente de protestos nas ruas não contribui para a restauração da confiança no futuro próximo.

As estatísticas, contudo, não indicam degradação das condições financeiras. A inadimplência diminuiu desde o ano passado e estabilizou-se, assim como o nível de endividamento das famílias.

Embora perca velocidade, o crédito imobiliário para pessoas físicas ainda cresce a quase 23% ao ano. O brasileiro consome menos, como no caso de veículos, mas ainda investe em moradia.

No conjunto, porém, tornou-se claro que, desta vez, a concessão de empréstimos não vai compensar o desânimo e a baixa da atividade, como ocorreu em 2008 e 2009. Crédito, renda e confiança estão em ritmo de declínio, e assim vão marcar o passo da economia.

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