O Estado de S.Paulo - 01/10
As informações da Pnad-2012 sobre emprego e renda reforçaram os dados apresentados pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Embora com diferenças na forma de apuração - a Pnad, por exemplo, tem abrangência nacional e a PME se restringe às seis principais regiões metropolitanas -, nos dois levantamentos a taxa de desemprego resiste em níveis historicamente baixos, apesar do ambiente econômico adverso e do modesto crescimento do PIB. A Pnad, portanto, reforçou o já conhecido "enigma" do desemprego baixo na economia brasileira.
Mas o "enigma" do baixo desemprego combinado com baixo crescimento tem um outro lado. Esse outro lado do "enigma" pode ser resumido na seguinte charada: como é possível a economia crescer tão pouco com desemprego tão baixo? Afinal, se mais gente trabalha, maior deveria ser a produção de bens e serviços. Esse argumento intuitivo, porém, nem sempre confere com a realidade. É possível encontrar situações em que a economia cresce em ritmo mais forte com menos gente empregada e o inverso, como no caso brasileiro atual, também pode ser verdadeiro.
Por trás desses movimentos, aparentemente "enigmáticos", dá para perceber que opera o fenômeno da produtividade. Mas desse achado em diante as explicações se complicam. É tão fácil entender que, quanto mais eficiente for o uso dos recursos disponíveis para a produção, maior será a produtividade, quanto é difícil calculá-la e separar os elementos que a determinam e influenciam. Fatores demográficos, educacionais, tecnológicos, financeiros e de infraestrutura são apenas alguns dos mais relevantes.
Embora seja possível encontrar dezenas - talvez centenas - de resultados diferentes em exercícios de cálculo da evolução da produtividade na economia brasileira, uma coisa é certa: nas duas últimas décadas, os valores encontrados são baixos e se concentram em torno de uma média anual não muito superior a 1%.
Aumentos de produtividade costumam dar o ar da graça em fases de expansão econômica mais forte e mais rápida, mas nem sempre tem de ser necessariamente assim. O crescimento econômico mais acelerado entre 2003 a 2010, por exemplo, foi um acontecimento pouco relacionado com a trajetória da produtividade, que se manteve quase imóvel nesse intervalo de tempo. Estudos calculam que metade da expansão da economia nesse período se deveu à ampliação do mercado de trabalho, com a incorporação de grande contingente de trabalhadores ao estoque de mão de obra.
Como já se começou a ver a partir de 2011, a absorção de novas ondas de trabalhadores não tem sido suficiente para empurrar a economia ladeira acima. Será menos ainda daqui para a frente. Embora a População em Idade Ativa (PIA) ainda tenha um espaço para crescer, sua tendência é começar a se estabilizar em pouco mais de cinco anos. Mesmo o previsto aumento da participação da mão de obra feminina no total da População Economicamente Ativa (PEA) e a também previsível melhora da escolarização geral do pessoal ocupado terão condições de assegurar apenas por si não mais do que soluços de crescimento.
É nesse contexto que a elevação da produtividade, depois de duas décadas de estagnação em níveis muito baixos, assume importância crítica. Isso só será possível se houver efetiva criação de ambiente propício ao investimento eficiente em capital físico - infraestrutura, difusão tecnológica de produtos e processos - e humano, com seus efeitos multiplicadores.
Estimativas recentes indicam que a produtividade geral da economia brasileira, depois de um pico de 66% no longínquo ano de 1976, mal chega hoje a 40% da produtividade americana. Se não deixa de expressar um desastre de política econômica, também não deixa de indicar a existência de um largo espaço para avançar.
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