FOLHA DE SP - 08/10
SÃO PAULO - A filiação de Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos foi um golpe de mestre ou representa o embarque numa canoa furada?
Em termos puramente aritméticos, a decisão de Marina mais subtrai do que soma. Se o objetivo da oposição é derrotar Dilma Rousseff, deve antes forçar a realização de um segundo turno, para o que, quanto mais candidatos competitivos estiverem na disputa, melhor.
Obviamente, Marina e Campos sabem fazer essa conta. Se resolveram se juntar, é porque acreditam que a aliança vai alterar a dinâmica do processo eleitoral, rompendo a polarização PT-PSDB, que se repete em graus variados de magnitude desde 1994. É uma aposta interessante.
Em seu favor, a dupla tem o fato de poder apresentar-se como uma oposição à esquerda --ambos foram ministros de Lula--, o que, no Brasil, sempre faz mais sucesso do que o discurso liberal ou conservador, ainda que, no poder, nenhum governo hesite antes de ligar-se ao que há de mais atrasado na política do país.
Se a estratégia tiver sucesso parcial, o grande derrotado terá sido o PSDB, que perderia o posto de segunda força e o direito de medir popularidade com Dilma num segundo turno.
Contra o socialismo verde pesa a natureza humana. Campos e Marina não chegaram a definir com clareza quem será a cabeça de chapa em 2014. O governador de Pernambuco tem a máquina do partido, mas a ex-senadora traz consigo a preferência de mais de 20% do eleitorado. Não será, portanto, um casamento fácil.
De todo modo, só se poderá carimbar que a aliança foi mesmo um golpe de mestre se a dupla conseguir derrotar Dilma, que tem a enorme vantagem de estar no comando do governo federal. Aqui, eles precisariam de auxílio externo, que poderia vir na forma de uma sensível piora da economia --cenário pouco provável--, ou de uma nova crise de mau humor, como a de junho. Mas aí já estamos falando do imponderável.
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