O Estado de S.Paulo - 08/10
A novidade política terá ou não influência sobre a economia? É provável que tenha alguma.
Até sábado, era preciso dedicação ao exercício "Onde está Wally?" para encontrar a cara da oposição no Brasil. A partir do anúncio do acordo político entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, essa busca parece ter ficado mais fácil na medida em que pode mudar a paisagem eleitoral para 2014. Mais ainda, trata-se de uma oposição de qualidade diferente, pelo fato de que se forma a partir de dissidências da base do governo.
Em princípio, uma oposição mais forte não teria, por si só, condições de mudar o jogo. Mas a simples perspectiva de mais cobrança, pode, sim, exigir novas posturas de governança na área econômica.
Até aqui a presidente Dilma acumulou um alentado passivo econômico. O crescimento da atividade produtiva tem sido e vai continuar medíocre; a inflação saltou para o teto da meta (acima dos 6% em 12 meses) e está dificultando a administração orçamentária das famílias de classe média; o consumidor tomou gosto no crédito, mas já se encontra excessivamente endividado. A assim proclamada Nova Matriz Macroeconômica, baseada na prioridade ao consumo e nos juros baixos, não deu certo; submetida a mágicas contábeis, a administração das contas públicas perdeu credibilidade; o rombo externo (déficit em Conta Corrente) está crescendo para a altura dos 4% do PIB; a indústria carregada de custos vai sendo desidratada; o setor do etanol enfrenta esvaziamento pelo achatamento dos preços dos combustíveis; a opção por mais investimento chegou tarde; as primeiras concessões vêm demorando demais e estão sendo conduzidas um tanto amadoristicamente... E por aí vai.
O próprio governo Dilma vem reconhecendo que não basta patrocinar a emergência das novas classes médias, mas que é preciso garantir as expectativas dessa gente, tarefa que a atual política econômica não vem cumprindo.
Esses e outros tropeços e omissões deverão ser escrachados pela oposição agora reforçada. Não estão claras as posições programáticas dessa nova aliança. Presume-se que se encaminhe para uma espécie de choque de capitalismo com uma postura social-democrata. Até mesmo a revista The Economist já apontou Eduardo Campos como candidato mais "business-friendly", ou seja, mais chegado à ortodoxia do que a personalista presidente Dilma. É fator que também pode mobilizar mais os empresários e as classes médias em direção a certa correção de rumos da política econômica.
Isso não significa ainda que, sob maior pressão, o governo Dilma esteja disposto a mudar alguma coisa, porque em apenas 12 meses não haverá tempo suficiente para colher resultados eleitorais. O mais provável é que seguirá na atual toada, pouco disposto a correr riscos. Se puder, vai gastar ainda mais para arrancar aprovação do eleitorado. No mais, continuará a empurrar com a barriga o que já vem fazendo e isso inclui enfatizar ao máximo os acertos e esconder ao máximo os desacertos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário