Correio Braziliense - 23/09
Assim como o PT custou a cortejar o PSB, os tucanos ainda não fizeram qualquer gesto de grande apreço a José Serra e, a 12 dias do prazo fatal, as apostas são as de que esse galanteio dificilmente ocorrerá
O verbo cortejar é quase que sinônimo de política. Afinal, conquistar aliados nesse ramo é fundamental e requer a arte de atrair o outro para o seu projeto, de forma a que ele se sinta parte. A 12 dias do prazo de filiação partidária para os candidatos de 2014, a temporada é de exercitar essa capacidade.
Vejamos o que foi feito até aqui nesse quesito pelos principais atores. O PT, por exemplo, parece ter chegado tarde demais no que se refere a honras e galanteios políticos em torno do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Por mais que Lula se reúna com o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, o ex-presidente sabe que essa fase de manter o PSB no governo passou.
Ficar no governo depois de todo o carnaval em torno da saída soaria apenas jogo de cena por parte de Eduardo. E se tem uma coisa que o governador não faz é beicinho para ganhar um cargo. Afinal, todas as atitudes dele têm sido no sentido de mostrar que seu partido tem posições e é diferente dos demais aliados do governo Dilma.
O único discurso que poderia servir para manter Eduardo Campos ao lado do PT agora é o de não servir de escada para candidatos da direita ou que não tenham um projeto de modernização do país, com mais qualidade de vida, busca de educação e saúde públicas de excelência. Até aqui, nenhum dos adversários de Dilma tem esse perfil, ou se mostra disposto a comprometer programas sociais consolidados, caso do Bolsa Família.
A ex-ministra senadora Marina Silva, segunda colocada em todas as pesquisas, saiu do PT e tem um projeto de economia sustentável. Aécio Neves esteve, desde sempre, ao lado daqueles que trabalharam a redemocratização do Brasil. Hoje, representa o partido que implantou o Plano Real. Embora muitos discordem, o Plano Real promoveu a ascensão de muitos na escala social brasileira e deu a largada dos programas sociais. Para completar, em várias oportunidades recentes, Aécio deixou claro que o Bolsa Família e outros programas em curso vieram para ficar. Em suma, a agenda agora requer outros pré-requisitos, em especial, na economia.
Por falar em PSDB...
Da mesma forma que o cortejo do PT ao PSB chegou tarde, não se percebeu, até o momento, nenhum forte movimento do PSDB no sentido de cortejar José Serra. Se, nesta semana, nada for feito, o mais provável é que Serra deixe o ninho tucano. Afinal, parece que, pela primeira vez, o incômodo de Serra com os tucanos é grande e vice-versa.
Se Serra ficar no partido e for candidato a deputado federal, certamente tirará votos de vários tucanos em todo o estado. Se concorrer ao Senado, disputará uma campanha difícil, talvez contra Eduardo Suplicy, que, embora desgastado dentro do PT, jamais perdeu uma eleição para senador.
A alternativa de aguardar para ver se o PSDB faz dele candidato a presidente da Republica lá na frente é inviável, basta ver as entrevistas de Fernando Henrique Cardoso sobre a necessidade de renovação. Ou seja, se nada for feito esta semana, talvez Serra saia mesmo do PSDB para, quem sabe, no futuro próximo, ser cortejado por seu antigo partido.
Enquanto isso, no QG da Rede...
Parece ironia. A Rede é um partido que, oficialmente, ainda não existe, mas, a curto prazo, ninguém deixa de falar dele. Isso, para integrantes do futuro partido, significa que Marina Silva foi bem no cortejo a seus apoiadores, na manutenção de simpatizantes entre os eleitores, teve forte presença na mídia e tudo mais. Faltou a Justiça Eleitoral. Agora, vai tentar via Supremo Tribunal Federal. Pode apostar.
E no Planalto...
Com Dilma fora nos próximos dias — ela participará da abertura da Assembleia Geral da Nações Unidas —, o vice-presidente, Michel Temer, assume com a missão de apaziguar o PMDB na briga pelo Ministério da Integração Nacional. O problema é que, em se tratando de cortejo, os peemedebistas sempre passam a impressão de não ter agrado, não há discurso que dê jeito. Sempre querem mais. A ordem no governo é atender a ala em que o estrago da insatisfação seja menor. Mas essa é outra história.
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