O GLOBO - 23/09
Houve enorme alívio quando Bemanke anunciou, em reunião do Federal Reserve (Fed) na semana passada, que nada muda por enquanto em sua política de estímulo mensal à economia, uma injeção de liquidez de 85 bilhões de dólares por meio da compra de títulos públicos. Os mercados reagiram inebriados à manutenção da droga do dinheiro barato em suas doses habituais.
O século XXI se iniciou com o estouro de uma bolha de investimentos em novas tecnologias. As perdas foram colossais, mas concentradas em pouco mais de dois milhões de investidores no Vale do Silício. A queda das bolsas em 2000-2001 e o colapso dos investimentos em telecomunicações, mídia e internet trouxeram a ameaça de fulminante recuo da produção e do emprego por insuficiência de demanda, desembocando em uma Grande Depressão, como em 1929.
A instabilidade dos investimentos privados na virada do milênio fez ressurgir a extraordinária figura de Keynes. Já em sua reinterpretação da tragédia dos anos 30, Milton Friedman a atribuiu aos erros do Fed, permitindo a degeneração de uma seqüência de quebras de bancos em um buraco negro que engoliu os meios de pagamento e bloqueou o crédito. Por isso, em 2002 o pragmatismo americano apostou na síntese de Keynes e Friedman. Bush, o Senhor da Guerra, disparou os gatilho fiscal, e Greenspan, o Senhor dos Mercados, o gatilho monetário com juros exageradamente baixos por tempo demasiadamente longo. O experimento parecia bem-sucedido: a reaceleração da economia americana e a sincronização do crescimento global no período 2003-2007 em ritmo superior a 4% anuais, even to inédito no pós-guerra.
Mas "o avanço do conhecimento se dá de antigos problemas para novos problemas" dizia Karl Popper. E tivemos novos problemas em 2008-2009. O crash das bolsas, a crise imobiliária, o crunch do crédito, a quebra do sistema financeiro e a asfixia de mais de 200 milhões de consumidores americanos pelo endividamento excessivo ocorreram após doses exageradas de dinheiro barato. Sabemos agora o que teria ocorrido nos anos 30 ante o enfraquecimento dos "animal spirits" o instinto vital dos empreendedores, se o Fed, em vez da paralisia, tivesse ido ao outro extremo, o da hiperatividade. Bolhas em série pela garantia de fornecimento da droga.
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