FOLHA DE SP - 14/08
SÃO PAULO - A dúvida é se os tucanos paulistas foram só incompetentes, ao não perceber que um cartel de empresas fraudou por anos a fio a concorrência do metrô, ou se, como é mais verossímil, tiveram papel ativo nessa história, recebendo propina que, suspeita-se, financiaria o caixa do partido em eleições. Espera-se que as investigações consigam esclarecer esse ponto.
Enquanto isso não ocorre, fica o bate-boca entre petistas e tucanos, no qual uns tentam provar que são iguais aos outros e os outros que são diferentes dos primeiros. Embora a lógica eleitoral e nossos cérebros ideológicos adorem ver o mundo como palco de um embate do bem contra o mal, esse é um erro a ser evitado.
É claro que existem diferenças consideráveis entre as principais agremiações. Se assim não fosse, a própria democracia perderia muito de seu sentido. Isso não significa que elas difiram em tudo. No que diz respeito à distribuição dos vícios e virtudes humanos, as legendas --bem como igrejas, clubes náuticos e sindicatos--, mais se parecem do que se distinguem. Em qualquer grupo que reúna mais do que duas dezenas de pessoas e que tenha acesso ao poder, é uma questão de tempo até que surjam casos de corrupção, tanto dos miúdos como dos graúdos.
Assim, considerando-se que os holofotes da mídia passaram os últimos anos voltados preferencialmente para a sujeira do PT, a notícia de que o PSDB também pode estar envolvido em esquemas mais organizados de desvios tem valor didático.
A questão central, porém, não é determinar quem se comportou pior --ainda que esse seja um exercício válido. Se desejamos aprimorar as instituições para torná-las menos vulneráveis, o primeiro passo é reconhecer que lidamos com fragilidades da natureza humana de distribuição mais ou menos uniforme e deixar de acreditar que a política se divide em anjos e demônios. Superar esse maniqueísmo já seria um belo feito.
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