ZERO HORA - 14/08
Quem acompanha meus textos sabe que arrasto um trem pelos Beatles, ainda que os Rolling Stones tenham igualmente sonorizado minha adolescência. Na hora de responder à pergunta clássica – Beatles ou Stones? –, eu cravava Beatles sem meio segundo de vacilação.
As coisas mudaram. Hoje, se me fizessem de novo a mesma pergunta, desconversaria, pois a comparação não procede. Apesar de serem bandas contemporâneas e conterrâneas, a guitarra de um não bate com a guitarra do outro. Isso só ficou evidente pra mim quando, no último dia 13 de julho – Dia do Rock! – tive a sorte e o privilégio de assistir a um show dos Stones em pleno Hyde Park, em Londres, num início de noite ainda com céu claro e calor intenso.
Eles entraram no palco às 20h30min e o meu queixo tremeu, o olho marejou, e mesmo me conscientizando ali de que estava diante de quatro pessoas de extrema importância na minha vida, coloquei a culpa do meu faniquito na idade – a deles, claro. Me emociono com os perseverantes.
O fato é que durante as duas horas exatas em que a banda apresentou seus hits mais contagiantes com uma qualidade de som que eu nunca tinha escutado ao vivo e um pique que jamais caiu, me dei conta de que a matéria-prima do rock é a testosterona – e nada menos sexual do que os Beatles.
Mick Jagger seduz com todos os instrumentos de que dispõe: voz, corpo, guitarra, gaita de boca, e a boca, ela própria. Perdoe a vulgaridade do termo, mas não encontro jeito mais suave de expressar: cada música é como se fosse uma trepada com a plateia. Sai-se esgotado da experiência, eles ainda mais do que nós. Se depois de um show assim vigoroso dá vontade de acabar a noite acendendo um cigarro e tomando um uísque, não tenho dúvida de que para eles a noite acaba no hospital tomando soro. Mas com a missão cumprida.
Já os Beatles passam longe do obsceno. Fundadores de um estilo único, experimental, poético e sofisticado, conquistaram o pódio com sua extraordinária inventividade – nunca um disco igual ao outro. O que eles fizeram em apenas 10 anos de carreira ninguém chegou nem perto. Não era rock. Eles criaram um gênero musical chamado... Beatles.
Rolling Stones são definitivamente roqueiros. Há 50 anos oferecem mais do mesmo, e nenhum problema em não mudar. O mundo em volta é que mudou. Em 1969, quando tocaram no Hyde Park pela primeira vez, a plateia era formada por simpatizantes do flower power, todos curtindo paz e amor, muitos em viagem de ácido.
Em julho de 2013, a plateia era formada por simpatizantes do Steve Jobs, todos assistindo ao show pelo monitor do seu iPad, iPhone e tuitando com uma obsessão de viciado. Milhares de cinegrafistas amadores reunidos a fim de documentar o que estavam – estavam? – vendo.
Só o meu queixo tremido é que ninguém viu nem filmou. Ficou sem registro digital. Minha emoção segue totalmente analógica.
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