FORMOU-SE uma aliança esdrúxula pelo aumento do preço da gasolina (e talvez de outros combustíveis).
Trata-se da coalizão incongruente de Petrobras, de seus acionistas, de economistas "do mercado", de produtores de cana e etanol, de empresas fornecedoras de equipamentos e serviços para o negócio do álcool, de sindicatos de trabalhadores desse complexo econômico e, ufa, do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, entre outros prefeitos.
O governo federal ora se opõe ao aumento.
A Petrobras e seus acionistas querem o reajuste porque a petroleira vende gasolina e diesel a um preço inferior ao do mercado internacional, onde de resto compra parte do combustível que vende, tendo baita prejuízo. Com menos receita, a Petrobras tem menos dinheiro para investir (tem menos caixa e se torna menos atraente para investidores).
O pessoal do complexo da cana e do álcool quer gasolina mais cara a fim de vender mais etanol e a preço maior. Sem preço melhor, não expandem a produção do biocombustível, o que é um problema econômico, ambiental e tecnológico para o país.
Haddad quer que o governo volte a cobrar um tributo (a Cide) sobre a gasolina (deve querer dizer: sobre combustíveis). A receita do imposto ficaria com os municípios (pela lei atual, fica com o governo federal, na maior parte, e com os Estados). Com o dinheiro extra, reduziria o preço do ônibus, o que faz sentido social e ambiental.
Todo mundo nessa aliança impremeditada tem bons motivos e argumentos. O governo federal a princípio parece ter suas razões: não quer o reajuste porque teme inflação extra. Mas foi o governo federal que, no fim das contas, criou o problema que deu origem à série de reivindicações pelo reajuste.
O governo (este e o de Lula) na prática tabelou o preço da gasolina por anos, a fim de controlar artificialmente a inflação, derivada em boa parte de má gestão econômica. De resto, estimulou a venda e uso de carros.
Dilma Rousseff pediu aos governos de São Paulo e Rio que adiassem o reajuste das tarifas de transporte, a fim de maquiar a inflação do início do ano. Em junho, vieram os reajustes retardados e os decorrentes protestos, os quais levaram à revogação dos aumentos e criaram problemas para o caixa e para a política dos governos de SP e Rio.
Em suma, tentativas de mágicas e milagres do governo Dilma resultaram em montes de desequilíbrios.
A frente improvável pelo aumento da gasolina, porém, tem objetivos diversos e, dado o momento político e econômico, conflitantes.
Haddad e prefeitos querem que o governo volte a cobrar a Cide (tributo temporariamente zerado a fim de enfeitar o resultado da inflação). Argumentam que o aumento do imposto e a queda do preço da passagem se anulam, tendo efeito zero na inflação. A ver. Ainda assim, a volta da Cide não resolve o proble- ma da Petrobras e do pessoal do etanol, que não levariam um tostão, ao contrário.
Voltar a cobrar a Cide e reajustar o preço dos combustíveis, porém, daria um calor na inflação. No curto prazo, parece politicamente inviável, dada a situação periclitante, em termos eleitorais e econômicos, do governo Dilma Rousseff, que agora enfrenta as consequências de ser aprendiz de feiticeiro da economia.
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