FOLHA DE SP - 16/04
BRASÍLIA - O chavismo manteve o governo, mas a grande vencedora na Venezuela foi a oposição.
Mesmo emparedado pelo mito Chávez, pela magia da sua morte prematura e por uma campanha agressiva, o candidato Henrique Capriles perdeu por uma margem muito mais estreita do que previam todas as pesquisas: menos de dois pontos percentuais.
Isso significa que a Venezuela está dividida ao meio e que o presi- dente Nicolás Maduro terá tempos difíceis pela frente. Sem Chávez e sem a retórica do líder, capaz de desfocar erros e desviar críticas, só resta a Maduro arregaçar as mangas e apresentar resultados.
Os obstáculos são de arrepiar: inflação descontrolada, desabas- tecimento até de alimentos, câm- bio irreal, deficit galopante, violência braba, a corrupção de sempre. E há riscos políticos.
Além de enfrentar a força e a inédita união das oposições, obtidas desde o pleito de 2012, vencido por Chávez, Maduro vai se deparar com um insidioso processo de corrosão interna no chavismo. A inveja é inerente ao ser humano. A disputa de poder, mesmo entre aliados, é a força vital da política.
Reduzem-se as chances de sobrevivência do chavismo sem Chávez e aumentam as de alternância de poder daqui a seis anos, com a vitória da oposição, possivelmente do próprio Capriles.
O que preocupa, porém, é o que vai ocorrer no país até lá. Espera-se que a oposição tenha paciên- cia, livre-se da tentação de desgas- tar o governo além do limite e aguar- de sua vez nas urnas.
É aí que entra o Brasil. A ninguém interessa uma Venezuela em chamas, sob séria crise de governabilidade. Nem ao governo do PT, até pela ideologia, nem aos empresários brasileiros, que tantos inte- resses mantêm no país, e, claro, nem a nós, cidadãos solidários com todos os nossos vizinhos.
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