quinta-feira, fevereiro 21, 2013

O recado interno - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 21/02

Muito se dirá hoje a respeito do diagnóstico das mazelas do governo petista apresentado ontem no plenário do Senado pelo pré-candidato do PSDB à Presidência da República e futuro presidente do partido, senador Aécio Neves. Especialmente, sobre a ausência de propostas para corrigir os descaminhos apontados. Mas a principal mensagem do momento não estava no discurso, e sim nos gestos. Afinal, como diz o livro de Pierre Weil, o corpo fala. Ontem, muitos corpos falaram.

Vale registrar a presença maciça de deputados do PSDB de São Paulo, Wanderlei Macris, Duarte Nogueira, entre outros, e de grãos-tucanos, caso do ex-presidente do partido Pimenta da Veiga. A cordialidade de Aloysio Nunes Ferreira, o líder da legenda no Senado, aliado de primeira hora de José Serra, deixou clara a sua acolhida a Aécio como pré-candidato. Ou seja, do ponto de vista da economia tucana, sempre problemática no que se refere à soma e craque em divisão, ficou a impressão de que a soma está em curso.

O silêncio do plenário enquanto Aécio discursava falou mais alto aos atentos observadores da política. Sinal de que o parlamento não só respeita o pré-candidato, como tem todo o interesse em ouvir o que ele tem a dizer. Mesma sorte não teve o líder do PT, Wellington Dias, que saiu de sua cadeira para fazer o contraponto assim que Aécio foi obrigado a terminar o pronunciamento por conta do tempo destinado aos oradores. Enquanto o petista falava, a maioria dos presentes se dirigia ao orador, que acabara de deixar a tribuna.

A posição das excelências no plenário merece registro. Numa das primeiras filas — não na primeira, para que não parecesse provocação à chefe do Executivo, Dilma Rousseff —, sentou-se o ex-presidente da Senado José Sarney (PMDB-AP). Ele, que sempre lê os olhares e trejeitos de seus pares, fez questão de chegar cedo num gesto de apreço ao orador. No passado recente, Sarney foi um dos entusiastas da candidatura de Aécio Neves ao Planalto. Em 2008, antes de Lula apresentar Dilma Rousseff, o PMDB tentou levar Aécio, considerado por muitos numericamente mais viável do que Serra.

Por falar em matemática…

Em 2010, José Serra projetava tirar de São Paulo uma vantagem de 4 milhões de votos sobre Dilma Rousseff. Obteve metade disso no segundo turno, em que os tucanos conquistaram 45% dos votos nacionais. Os cálculos agora são de que Aécio tem chances de fazer 10 milhões dos 14 milhões de votos de Minas Gerais. Tem ainda grandes possibilidades de se sair bem no Rio de Janeiro. Especialmente, se Dilma Rousseff fechar apoio à candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) — o primeiro a defender Dilma ontem durante o discurso de Aécio. Nesse caso, ela perderá, além do PMDB, o PR de Anthony Garotinho.

Recentemente, em encontro com Dilma, Garotinho avisou que será candidato ao governo do Rio. Cobrou neutralidade. Dilma, entretanto, limitou-se a olhar para a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e comentar que Garotinho “não era mole, não”. A conversa fluiu bem, Dilma relembrou os tempos em que era do PDT, com Garotinho. “Ele pegou minha filha no colo”, rememorou a presidente. Mas, sabe como é, na hora da eleição, a boa conversa de agora arrisca virar uma doce lembrança.

Enquanto isso, em São Paulo…

No evento que marcou ontem os 10 anos de governo do PT e os 33 anos do partido, o PR fez juras de amor a Lula e a Dilma. Seu presidente, o senador Alfredo Nascimento, ex-ministro, foi o primeiro a falar na festa. O PR planeja reconquistar um espaço de poder.

Ao mesmo tempo em que segura os aliados com a perspectiva da reforma ministerial, os petistas trabalham para colar a imagem positiva de Dilma e das ações sociais ao PT como um todo. Da festa de ontem, saiu o jingle “meu PT, meu PT, uma história de amor ao povo”, enfatizando as conquistas do período Lula-Dilma. Talvez por isso, o senador Lindbergh Farias, em sua fala ontem no plenário do Senado, tenha dito que Aécio não citou a palavra “povo” no discurso. Em seguida, o senador Cássio Cunha Lima lembrou que o povo está presente em todas as mazelas citadas pelo mineiro, caso da seca que assola o Nordeste, sem ações rápidas por parte do governo federal. O próprio Aécio foi direto ao dizer que o PT não tem o monopólio do povo. A guerra pelo tal “povo” começou ontem e só termina em outubro do ano que vem. Haja fôlego!

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