segunda-feira, novembro 05, 2012

Passando dos 90 - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 05\11

No Brasil ainda não há produtos financeiros programados para assegurar renda satisfatória aos que viverão muito


Planos de saúde, de seguros e previdência privada não tinham considerado a hipótese de um número considerável e crescente de pessoas passar dos 90 anos. Mesmo em um país não desenvolvido como o Brasil, o número de pessoas com mais de 100 anos dobra a cada censo demográfico. Para garantir uma renda vitalícia que leve em conta os muito idosos, empresas seguradoras e de previdência complementar terão de repensar seus produtos financeiros, para evitar o fenômeno conhecido informalmente no mercado como "Jorginho Guinle". Conhecido bon vivant , e de família originalmente rica, Jorginho era de uma geração cuja expectativa de vida dos homens não chegava aos 80 anos, e não havia o hábito de se preocupar com a velhice. Jorginho curtiu muito a vida, mas quando chegou aos 80, o dinheiro havia acabado...

A igreja católica chegou a criar em Copacabana, bairro carioca com maior percentagem de idosos, uma pastoral voltada para a pobreza envergonhada, para auxiliar pessoas não tão notórias que viram seu padrão financeiro despencar na velhice e não querem confessar isso a amigos e parentes.

As famílias hoje já não são mais numerosas, e os idosos urbanos não terão mais com quem se abrigar (no campo, a aposentadoria rural das pessoas mais velhas é importante para o orçamento doméstico, mas nas cidades, nem tanto). Então, cada casal ou indivíduo de classe média, com renda mensal acima do teto dos benefícios da previdência social - atualmente na faixa de R$ 3.900 - precisará fazer seu próprio pé de meia. Com a queda das taxas reais de juros e o retorno incerto no mercado de ações, a tendência é que poucos consigam acumular patrimônio financeiro suficiente para assegurar o mesmo padrão de vida durante toda a aposentadoria. Um exemplo prático: com juros reais de 6% ao ano, quem tivesse uma renda mensal da ordem de R$ 5 mil poderia chegar a um patrimônio financeiro de R$ 1 milhão, em 35 anos, poupando menos de R$ 800 por mês. Com juros reais na faixa de 2%, o esforço de poupança teria de se multiplicar por seis vezes, durante o mesmo período, para se atingir o mesmo valor, o que é inviável.

A companhia centenária Mongeral Aegon reuniu recentemente no Rio estudiosos do tema, vindos da Inglaterra e da Holanda, para debater o assunto. Eles apontaram alguns caminhos para se chegar a uma solução que assegure uma renda vitalícia capaz de atender dignamente pessoas que alcançarem idade muito avançada.

No caso da Europa, os especialistas consideram que a idade de aposentadoria teria de saltar para 71 anos. Na Inglaterra, a aposentadoria compulsória agora é aos 75 anos. Feito o ajuste para um país com o perfil demográfico brasileiro, essa idade aqui seria de 67 anos.

Os planos de previdência complementar geralmente se programam para que seus participantes formem um patrimônio financeiro que lhes assegurem renda até 80, 90 anos, no máximo. Para a hipótese de essa faixa de idade ser ultrapassada, o participante teria que "comprar" uma renda posterior vitalícia, pagando por ela, no ato da aposentadoria, o correspondente a 15% do que tiver acumulado no seu fundo de previdência complementar. É uma possibilidade que já começa a ser adotada no mercado europeu, mas que ainda não existe no Brasil.

Futebol potencialmente rico

Os clubes brasileiros de futebol faturam cerca de US$ 1 bilhão por ano, enquanto na Inglaterra a receita do esporte é o dobro, e na Alemanha, o triplo. Mas especificamente no patrocínio estampado nas camisas dos atletas os clubes brasileiros já superam os europeus. Como esse filão é importante, os patrocinadores acham que poderiam ter ainda mais retorno nos investimentos que fazem nos clubes. Uma das possibilidades está no aumento do público que frequentará os estádios modernizados para a realização da Copa do Mundo, pois a ideia é que sejam transformados em centros de entretenimento para toda a família. O Footecon, evento que tem o ex-técnico da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira como "embaixador", este ano se propõe a ouvir, nos dias 4 e 5 de dezembro, no Copacabana Palace, o que as empresas esperam do marketing no futebol.

O morro tem vez

A agência de fomento Investe Rio, do governo do Estado, espera ampliar de 300 para duas mil as operações de crédito nas favelas já pacificadas da cidade. A agência trabalha para que redes tradicionais se interessem por franquias nessas comunidades, aceitando, por exemplo, que as lojas tenham apenas 9 metros quadrados (e não o mínimo de 16) e que o capital investido se reduza de R$ 250 mil para R$ 50 mil.

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