segunda-feira, outubro 29, 2012

Um aparente paradoxo - CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA


Uma reportagem desta edição de VEJA se detém diante de um aparente paradoxo. Apesar de o Brasil ocupar apenas a 130ª posição no ranking anual Doing Business, que classifica 185 países por seu bom ambiente de negócios — o que nos deixa nas imediações de Uganda, Etiópia e Quênia —, somos o sexto maior receptor de investimentos estrangeiros do mundo. Com 60 bilhões de dólares estimados para o fim de 2012, o país fica atrás somente de China, Estados Unidos, Hong Kong, França e Reino Unido. Como se explica a coexistência de fenômenos tão díspares no Brasil?


O primeiro impulso é concluir que os investidores estão mal informados sobre a insanidade burocrática, o labirinto fiscal, a ingerência exagerada do governo na economia e a fúria legiferante, realidades que nos equiparam aos países mais hostis à atividade produtiva. Não. Os investidores sabem muito bem as dificuldades de se estabelecerem no Brasil. A conclusão correta é que eles vêm para cá apesar de todos os obstáculos.

O Brasil tem o agronegócio exportador mais produtivo do mundo, tem minério, petróleo, mas, principalmente, tem um grande mercado interno, que agregou no decorrer da última década 40 milhões de novos e ávidos consumidores. Eles são a garantia de demanda aquecida. O governo não perde uma chance de reafirmar que, para ter acesso sem barreiras aos consumidores brasileiros, é preciso fabricar no Brasil. Por isso, mais de 40% dos dólares investidos no país miram o mercado consumidor de produtos ou serviços. Seguindo o caminho da Peugeot Citroen, Toyota, Honda e Hyundai, a alemã BMW anunciou na semana passada que vai erguer uma fábrica em Araquari, no norte de Santa Catarina. O entrevistado das Páginas Amarelas desta edição, Edson de Godoy Bueno, da Amil, é o exemplo mais recente no setor de saúde. Ele vendeu parte de sua empresa a um grupo americano por mais de 6 bilhões de reais.

Com tanta coisa a favor, é de imaginar o salto de qualidade de vida que o Brasil daria a sua população se capinasse a selva burocrática, racionalizasse a cobrança de impostos e incinerasse as resmas de leis inaplicáveis ou inúteis. Mudaria de patamar econômico. Livre desses entraves à atividade produtiva, o Brasil certamente sairia do último vagão dos países de ambiente empresarial inóspito para disputar um lugar de locomotiva.

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