segunda-feira, outubro 29, 2012
Terceiro turno - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 29/10
Começa agora oficialmente a campanha para a presidência da Câmara e do Senado. E quem surge como fiel da balança nesse novo tabuleiro é o PSD de Gilberto Kassab, afastado do PSDB e disposto a se aproximar mais do governo Dilma
Virada a última página das eleições municipais, abre-se o livro da campanha para presidente do Senado e da Câmara dos Deputados. Se tudo correr conforme indica o figurino, caberá ao PMDB comandar as duas casas. Mas em política nem sempre a matemática é assim tão simples. Há quem tenha um certo receio de entregar o comando das duas casas legislativas aos peemedebistas. E, como não dá para fazer muita marola no Senado, onde o PMDB tem a maior bancada e aliados com uma certa folga em termos de votos, os ventos indicam que a confusão política está mais para a Câmara, onde os resultados eleitorais têm mais influência sobre o humor dos parlamentares.
A situação de Juiz de Fora (MG) neste segundo turno pode ser vista como um exemplo. Lá, o PT disputou contra o PMDB. A candidata do PT, Margarida Salomão, obteve o apoio do PSB do deputado Júlio Delgado, que desponta no Congresso com potencial de atração daqueles insatisfeitos com o resultado das eleições municipais. O gesto obviamente não levará todos os deputados do PT de Minas Gerais a apoiar Delgado, mas, entre os socialistas, há quem acredite ser possível angariar alguns votos por ali. Além de tentar contar com todos aqueles que brigaram com o PMDB nas eleições municipais, aliados de Júlio Delgado desejam atrair todos aqueles interessados em balançar a união entre PT e PMDB para ocupar o lugar dos peemedebistas no casamento com Dilma em 2014. Nesse segmento, a intenção de Delgado é tentar buscar o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Afinal, se Delgado ficar apenas com o PSDB e o DEM se caracterizará como um candidato de oposição ao governo, coisa que ele não deseja.
Por falar em Kassab...
O prefeito paulistano considera cumprida a sua missão junto ao PSDB. Com José Serra derrotado, acaba o casamento entre os dois partidos. Livre para seguir outros caminhos, Kassab não vai fechar logo com ninguém rumo a 2014. Seu primeiro gesto nesse período pós-eleitoral será no sentido de se aproximar do governo federal. Mas não tanto que pareça adesismo puro e simples da parte dele. O sinal de aproximação virá revestido num discurso para evitar o uso da disputa pela presidência da Câmara ou do Senado como um terceiro turno. E os objetivos desse gesto, além, é claro, de fortalecer o vínculo com o governo e criar pontes com quem o novo partido tem apenas pinguelas. Para levar avante esse projeto de criar laços políticos, a ordem entre os aliados de Kassab hoje é apoiar a candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), partido com o qual os kassabistas têm um relacionamento meio distante hoje. Assim, Kassab espera deixar claro ao governo que seu partido está afastado do PSDB e não tem compromisso firmado com ninguém no futuro. Ou seja, pode apoiar a presidente Dilma Rousseff numa campanha reeleitoral ou, se for o caso, seguir com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Embora tudo indique que seja um nome a se apresentar em 2014 para a campanha presidencial, ainda não se pode afirmar com plena certeza que o socialista seguirá esse caminho.
Enquanto isso, na sala de Dilma...
Fortalecida pela vitória de Fernando Haddad em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff vai cuidar agora da política. Aceitará de bom grado a aproximação com Kassab, que já avisa de antemão que não deseja ser ministro, embora apresente sua bancada para que a presidente escolha quem desejar. Nesse sentido, de reforçar laços, não será surpresa ainda se Dilma chamar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para uma conversa "americana", ou seja, "olho no olho" para tentar desfazer qualquer rusga eleitoral. Afinal, a presidente tem dito a amigos que o PT tem que ser grande na vitória. Ela espera que todos tenham juízo para não deixar crescer o clima de terceiro turno.
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