quarta-feira, outubro 17, 2012

O teste de Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 17/10


É fato que a briga municipal chegará quente em Brasília dentro de duas semanas, quando terminarem as eleições. Dos partidos da base, à exceção do PT que segue uníssono, os demais estão rachados. Além do PMDB, em litígio pelo direito à vaga de vice no mercado eleitoral futuro, e o PSB ensaiando uma carreira solo, vem agora o PDT evidenciando suas divergências. Com um certo atraso, o partido anunciou o apoio a Fernando Haddad em São Paulo seis dias depois de o ex-candidato a prefeito do partido Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, fazer uma festa para se juntar ao candidato do PSDB, José Serra.

O desafio de Dilma será contornar essas divergências sem afetar seu governo ou o seu partido. A decisão de ontem do PDT foi recebida dentro do governo como um “preventivo” para que o partido não perca o Ministério do Trabalho, hoje sob o comando do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), adversário do deputado Paulinho da Força. Este é o único ponto prático da medida. Afinal, o tempo de tevê dos finalistas no segundo turno é igual. Ou seja, a distribuição dos minutos concedidos a cada candidato não está vinculada à quantidade de partidos dentro da aliança. A decisão do diretório também não influencia no fato de a Força Sindical se dedicar à campanha do tucano, uma vez que a central já está nas ruas paulistanas fazendo campanha pró-Serra.

Por falar em influência…

Com a decisão de ontem, o PDT deixa claro que fez pelo menos o gesto. São Paulo é considerado um dos municípios emblemáticos para o Partido dos Trabalhadores. Não por acaso, Marta Suplicy virou ministra da Cultura. Portanto, no raciocínio de alguns políticos, assim como houve cessão de vaga na Esplanada para ajudar Haddad, pode haver a retirada de postos, se houver algum movimento em sentido contrário.

Dentro do Planalto, há a certeza de que os pedetistas aliados ao governo não têm motivos para se preocupar. Afinal, a ordem da reforma será evitar atritos e facilitar a conciliação da base, considerado o grande teste da presidente Dilma Rousseff. Afinal, o que ela deseja de verdade é paz para trabalhar.

Para isso, a reforma ministerial não será tão grande como pensam alguns. A principal tarefa nessa seara será acomodar o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que, embora aliado de Serra em São Paulo, tem jogado ao lado do governo federal. Além disso, é esperado ainda um espaço para Gabriel Chalita (PMDB), considerado importantíssimo para a atual situação de Haddad nas pesquisas de intenção de voto. Não há outros grandes arranjos a serem feitos. O PSB de Eduardo Campos, por exemplo, tem duas pastas de peso, os ministérios da Integração Nacional e de Portos. E, até que se saiba o que deseja de verdade da vida, ficará por aí.

Por falar em PMDB…

Ministros palacianos não vão tirar espaço do PMDB de Michel Temer, considerado orgânico, para dar um lugar ao sol ao grupo do governador do Rio, Sérgio Cabral. Pelo menos, não assim, de bate pronto. Dentro do governo, sabe-se que quem tem o controle do diretório nacional do partido são o vice-presidente da República, Michel Temer; o presidente do Senado, José Sarney; e os líderes no Senado, Renan Calheiros, e na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Não constam nesse grupo nem Cabral nem o prefeito do Rio, Eduardo Paes. O recado sobre quem é PMDB de fato foi dado com a solenidade para lembrar os 20 anos da morte de Ulysses Guimarães na última segunda-feira. Em várias oportunidades, foi repetida a frase “o verdadeiro PMDB está aqui para homenagear Ulysses”. Eduardo Paes e Sérgio Cabral não compareceram.

E na sala da presidente…

Dilma está ciente do grande desafio político que será acomodar a base aliada no pós-eleitoral. Mas, apesar de todos os problemas, ela também sabe que o segredo da sua recandidatura não está nessa seara e continua onde sempre esteve: na economia. Se a população estiver satisfeita com o seu governo, todas as confusões pós-eleição vão passar como uma chuva de verão. Portanto, a avaliação no Planalto é a de que enquanto os partidos estiverem interessados em cargos em seu governo, é sinal de que ela e Lula continuam bem na fita.

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