quinta-feira, outubro 11, 2012

‘O novo papel de Barbosa’ - JOAQUIM FALCÃO

O GLOBO - 11/10


Como presidente do Supremo, Joaquim Barbosa exercerá centralidade na vida brasileira. Jurídica, política e cultural. Será também presidente do Conselho Nacional de Justiça. Terá sido o implacável relator do mensalão. É o Batman das redes sociais, o que vigia a cidade e combate bandidos. Presidiará o Judiciário nas decisivas eleições para Presidência da República de 2014. Como exercerá tanto poder e influência?

É negro, num país mestiço, de elite branca. Como Lula e Eliana Calmon comunica-se diretamente com o povo. Às vezes por palavras, quase sempre por sintonia de sentimentos e atitudes. Assim ultrapassa as críticas a seu temperamento.

Acusam-no de se irritar com opiniões contrárias. O ministro Marco Aurélio chegou a afirmar que ele não teria condições de comandar o STF. Vai ter, com o voto do próprio Marco Aurélio. Não leva insinuações para casa, que digam os ministros Gilmar, Peluso e Lewandowski. Não provoca, mas reage. Às vezes exagera na reação.

Será o primeiro presidente a conhecer por dentro o sistema jurídico americano, o modelo de Corte que nos inspirou. Sabe o valor da democracia. Foi visiting scholar em Los Angeles e na Universidade de Columbia, em Nova York.

A presidenta simboliza a necessidade de maior igualdade da mulher. Joaquim Barbosa, que não hesita em explicitar situações de discriminação por que passou e ainda passa na vida, simboliza a necessidade de igualdade do negro em nossa sociedade. Conquistada não por assistencialismos, filantropismo ou cordialidades. Mas por mérito. É assim sua experiência de vida.

Conquistou a imensa maioria dos votos de seus colegas ministros por sua competente estratégia indutiva de denúncia. Optou por um julgamento segmentado, passo a passo, estabelecendo os fatos, de tal modo que a força dos fatos conduzisse as teorias. E não vice versa. A defesa percebeu e temeu a estratégia. Não foi por menos que, na primeira sessão, a defesa tudo fez para evitar o desmembramento. Perdeu.

O desempenho de Barbosa no mensalão consolida o valor do mérito pessoal, muito além das raças, e mesmo assim simboliza a injustiça da discriminação do negro. Moldará sua presidência.

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