sábado, outubro 06, 2012

Mais inflação - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 06/10


A inflação de setembro foi mais ou menos o que se esperava: avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,57% em relação ao de agosto. A acumulada no ano (até setembro) é de 3,77% e em 12 meses, de 5,28%.

Dizer que esse número está dentro do que já era esperado não significa que seja bom. Mostra somente que a economia começa a trabalhar com mais tolerância em relação aos preços.

A inflação vai embicando para alguma coisa acima de 5,5% neste ano, descolando-se do centro da meta (4,5%). Isso tem o seu lado ruim, porque vai gerando também comportamentos defensivos, mais ou menos nas mesmas proporções por parte dos reajustadores de preços.

Os analistas criticam alguns dados negativos da economia brasileira quando os comparam aos padrões internacionais. Um deles é o nível dos juros. O Brasil se mantém como economia que está entre as que pagam os juros mais elevados do mundo.

E, no entanto, o Brasil também é uma das economias que ostentam um dos índices de inflação mais altos do planeta (veja tabela no Confira). O Banco Central gosta de lembrar que a crise internacional concorre para aumentar certas distorções na economia brasileira. Por exemplo, reduz exportações e tende a trazer mais moeda estrangeira, o que pressiona o câmbio interno.

Mas a crise global também tem lá seu lado bom - digamos assim. Um deles é que achata a inflação nos países avançados. Esse aspecto positivo deveria contribuir para que também a economia brasileira apresentasse números mais civilizados de inflação. Mas não é o que acontece e o Banco Central não lamenta isso.

A inflação brasileira está sendo acelerada e deverá fechar o ano mais próxima do teto do que do centro da meta, mesmo numa conjuntura de redução internacional dos preços. Significa que os fatores locais estão sobrepujando os globais na formação da inflação no Brasil.

São as despesas públicas que vêm se expandido bem acima do pretendido, fato que começa a ser reconhecido pelo Banco Central. É o câmbio, agora mais rígido, a R$ 2 por dólar, que não parece capaz de amortecer a alta internacional dos alimentos. É a correção dos salários acima do índice de produtividade da mão de obra - como vem apontando o Banco Central. E é, ainda, na prática, a flexibilização do regime de metas de inflação que leva o governo Dilma a tolerar índices bem mais altos.

Em outras palavras, a aceleração da inflação no Brasil resulta das escolhas na política macroeconômica feitas pela equipe econômica e é dessa maneira que tem de ser entendida.

Houvesse o mesmo grau de comprometimento de há alguns anos com o combate à inflação, podia-se esperar que o Banco Central, na próxima reunião do Copom, agendada para esta quarta-feira, estivesse propenso a puxar os juros para cima. Mas os tempos são outros. Na execução da política monetária, a meta dos juros ficou mais forte do que a de inflação e não é mais descabida a hipótese de que a opção seja por mais um corte, desta vez de 0,25% ao ano - o mesmo que já foi admitido pelo Banco Central como sendo de "máxima parcimônia".

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