quinta-feira, setembro 27, 2012

A China no centro - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 27/09


O mundo inteiro está revendo para baixo as projeções de crescimento do PIB. Mas nada causa mais apreensão do que os dados que vêm da China. O país crescerá este ano praticamente a metade do que cresceu em 2007. Há dúvidas sobre a confiabilidade dos indicadores chineses, e o país vive uma crise política de contornos desconhecidos. Tudo na China é opaco.

Em 2007, a China cresceu 14,2%. No segundo trimestre de 2012, cresceu 7,6%. A taxa é alta, mas a tendência tem sido de desaceleração. Os principais parceiros comerciais da China são países que não fazem outra coisa a não ser combater a crise: Estados Unidos, Japão, Alemanha. Cerca de 70% da receita de exportação chinesa vêm de países desenvolvidos. Somente os americanos são 17%, mais precisamente US$ 325 bilhões. Os emergentes têm um peso muito menor. O Brasil representa 1,7% da exportação chinesa, mas nós dependemos muito deles.

O baixo crescimento de EUA, Europa e Japão afeta a China porque os principais produtos exportados pelos chineses são máquinas elétricas e mecânicas. Produtos com valor agregado. Se um país está em crise, os empresários adiam investimentos e as famílias pensam duas vezes antes de comprar itens mais caros.

A RC Consultores calcula que a China crescerá 7,5% este ano e 6,5% no ano que vem. A consultoria inglesa Capital Economics acha que este ano será de crescimento de 7,5%, mas que em 2013 haverá alta de 8%, seguida de um PIB de 7,5%, em 2014. De qualquer maneira, os números mostram que o período de crescimento de dois dígitos ficou para trás.

Se a disputa diplomática entre Japão e China virar embate comercial será ruim para os dois. Ontem a bolsa de Tóquio abriu em baixa exatamente por esse temor. O Japão é o país do qual a China mais importa. E é o segundo principal destino das exportações chinesas. A relação comercial entre os dois é intensa. Toyota e Honda paralisaram a produção em fábricas na China devido a protestos contra os japoneses.

Na semana passada, a bolsa de Xangai foi para o nível mais baixo dos últimos três anos. Voltou a subir esta semana, com a expectativa de que o governo chinês adotará novas medidas de estímulo. Em março, o governo chinês reduziu de 8% para 7,5% a meta de PIB que seria perseguida. Não que a redução tenha sido grande, até porque o país sempre superou os 8%. O número continua sendo impactante, mas esse é mais um sinal de que a estratégia de contornar a crise externa, incentivando o consumo interno, não está atingindo seus objetivos.

O índice PMI, do banco HSBC, que serve de termômetro da produção industrial, permaneceu abaixo dos 50 pontos, em setembro, pelo 11º mês seguido. Números abaixo de 50 mostram pessimismo dos gestores e indicam desaceleração.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, avisou que o Fundo vai rever para baixo, no mês que vem, as projeções para o crescimento do mundo deste ano. A dúvida é se vai reduzir também a previsão da China, já que há sinais de desaceleração da demanda doméstica. Há rumores também de que o governo se esforça para encobrir o encalhe de imóveis residenciais.

Na frente política, o país vive uma sucessão muito mais complexa do que parecia ser. O desaparecimento por duas semanas do presidente escolhido Xi Ji Ping provocou uma sucessão de rumores. Ele reapareceu, mas o episódio ilustra uma situação muito desconfortável. A economia mundial depende de um governo que, por ser uma ditadura, manipula índices, adota políticas econômicas sem transparência e vive uma transição política conturbada e imprevisível.

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