terça-feira, agosto 21, 2012

Sem planos - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE S.PAULO - 21/08


Segundo uma pesquisa da Mercer, São Paúlo é, atualmente, a 12ª cidade mais cara do mundo. Há alguns dias, a revista inglesa "The Economist" apresentou um estudo no qual São Paulo aparecia como a 92ª cidade do mundo no quesito qualidade de vida.
Ficava atrás de cidades como Buenos Aires, Santiago e Lima. A discrepância entre o que se gasta e o que se tem deveria servir de motor para uma profunda reflexão sobre o modelo falimentar de desenvolvimento e planejamento que impera em nossa maior cidade.
Com isso em vista, era de esperar que a campanha para a prefeitura estivesse embalada pela discussão de programas abrangentes e ousados de governo. No entanto isso não aconteceu.
O fato é que São Paulo não precisa de um prefeito com mentalidade de síndico de prédio, com propostas totalmente desconectadas da escala monumental de seus problemas. Como se algumas ações cotidianas mínimas pudessem mudar radicalmente a cidade.
Também não precisa de alguém que gosta de participar de eleições sem nunca apresentar um programa crível, já que acredita que sua simples presença no embate sirva como garantia para a solução de problemas.
Em momentos críticos de seu desenvolvimento, metrópoles que hoje são sinônimo de qualidade de vida, como Paris, apelaram para grandes intervenções urbanas para modificar seu destino. Certamente, São Paulo precisa de algo parecido.
Nesse sentido, vale lembrar que um dos únicos candidatos a apresentar um verdadeiro programa de remodelagem da estrutura urbana de São Paulo foi Fernando Haddad com seu "Arco do Futuro": projeto que visa descentralizar a cidade por meio de um corredor circular de grandes avenidas capaz de expandir o centro.
Em qualquer lugar do mundo, os cidadãos teriam o direito de ouvir análises de outros candidatos a respeito de ideias dessa natureza, seja combatendo, seja defendendo. Os cidadãos poderiam comparar projetos, seus custos, resultados e viabilidade. Mas em São Paulo, ao que parece, quem tem menos ideias e quem tem o discurso mais genérico sai na frente.
Mesmo ideias importantes como a extinção do Tribunal de Contas do Município a fim de liberar seu custo (R$ 260 milhões) para ações sociais, como quer Carlos Gianazzi tendem a passar em branco.
Há de perguntar até onde irá essa espécie de consenso mudo em favor do esvaziamento programático do debate sobre o destino de nossa maior metrópole. São Paulo merece deixar de aparecer em artigos mundiais sobre urbanismo apenas como sinônimo de fracasso.

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