terça-feira, junho 19, 2012

Europa cansa de apanhar no G20 - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 19/06


Durão Barroso diz que os europeus não vieram para receber lições, mas elas continuam


LOS CABOS, MÉXICO - A explosão de José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, durante entrevista coletiva, foi eloquente: "Não viemos aqui para receber lições de ninguém", disparou o usualmente suave político português.

Era uma resposta a um jornalista canadense que transmitira a Barroso a opinião de Stephen Harper, primeiro-ministro do Canadá, para quem a Europa não deveria pedir dinheiro a ninguém, como está fazendo, porque é uma área rica (de fato, é a mais rica do mundo, se tomada em conjunto) e, portanto, em condições de resolver sozinha seus problemas.

Barroso ainda teve a paciência de lembrar que a Europa é a maior contribuinte para o FMI, ao qual se destinam os recursos que estão sendo coletados para criar um "firewall" anticrise. Lembrou ainda que nem todos os países do G20 são democráticos, ao contrário dos 27 europeus, e que democracia é sempre um mecanismo complexo para chegar a consensos.

Ao terminar, explodiu, em uma evidência de que a Europa está se cansando de ser o saco de pancadas do planeta.

Vai continuar sendo. Horas depois da explosão, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, bateu: "Os mercados e a população perderam a confiança nas soluções para a zona do euro".

Não deixa de ser verdade: que os mercados não acreditam nos programas de austeridade, está evidente pelo que estão cobrando para rolar, por exemplo, a dívida da Espanha. Trata-se do país que faz o maior esforço fiscal da zona do euro, na imponente altura de 7% de seu Produto Interno Bruto. Nem assim, escapa da maldição dos juros.

Que a sociedade também não confia, fica claro pelo resultado grego. A maioria dos votos foi para partidos que são contra o programa de austeridade imposto pela União Europeia. A Nova Democracia, que apoia o programa, assim mesmo com reservas e pedindo uma renegociação, só ficou com a maioria das cadeiras pelo truquinho de o partido com maior porcentagem de votos receber um bônus de 50 cadeiras.

É como diz Mantega: "O resultado da Grécia ajuda, mas não resolve o problema, tanto que os mercados continuaram nervosos".

O problema dos diagnósticos sobre a Europa é que, corretos ou não, não vêm acompanhados de uma receita acabada sobre o que fazer, além da retórica que manda acoplar crescimento à austeridade. Mas entre falar e fazer vai uma distância ainda não vencida.

A lacuna não impede que os europeus continuem a receber as lições que irritaram Barroso. Mantega conta que, no encontro que a presidente Dilma Rousseff teve ontem com o presidente do Conselho de Ministros da Itália, Mario Monti, foi-lhe dito que é preciso "mudar a estratégia econômica" adotada até agora.

O comando europeu reage com uma fleuma que não combina com a gravidade da crise. Tanta fleuma que Herman van Rompuy, o presidente do Conselho, avisa que a cúpula do dia 28, da qual se esperava um "big bang", parirá apenas "trabalhos preparatórios, não decisões definitivas".

Um convite a que os sermões dos parceiros continuem.

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