terça-feira, junho 19, 2012

Embate de rejeições - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/06

Novidade na última pesquisa de intenções de voto de São Paulo seria se Haddad continuasse onde estava depois da exposição ao lado de Lula. A tendência é crescer até o teto do PT. Mas, se malufar demais, terá problemas




Os petistas comemoraram como o maior feito eleitoral do mundo a subida de cinco pontos registrada por Fernando Haddad na última pesquisa sobre a intenção de voto em São Paulo. Mas, cá entre nós, leitor, cabe a pergunta: comemorar o quê? O candidato apenas fez aquilo que o partido há tempos esperava dele: apresentar algum fôlego e começar a conquistar pontos na proporção da carteira eleitoral petista em São Paulo, algo entre 25% e 30%. Por enquanto, está em 8%. Sou capaz de apostar que, nas próximas pesquisas, se seguir a ordem natural das coisas, o candidato crescerá mais.

Haddad tem Lula, Dilma Rousseff, o PT, o PSB e o PP de Paulo Maluf. E tempo de tevê para exibi-los (embora haja controvérsias no PT sobre desfiles públicos ao lado de Maluf). Na proporção em que o eleitor identificar o ex-ministro com o PT, o candidato coletará mais votos entre os paulistanos. O problema é essa identificação, que não se dará ao lado de Maluf. Luiza Erundina (PSB), a candidata a vice, está com um pé fora da chapa, para lá de insatisfeita com a "malufada" de seu parceiro. Erundina passou a vida criticando Maluf e seus aliados têm dúvidas da quantidade de votos que ele agrega. Isso porque, da mesma forma que os petistas torcem o nariz para o aliado recém-chegado, os eleitores malufistas fazem cara de enfado para o PT. É ao longo da campanha que veremos se haverá alguma novidade nesse comportamento.

Por falar em comportamento...

Em São Paulo, chama a atenção também a forma como os políticos tradicionais desprezam os demais candidatos, que não o líder nas pesquisas, o ex-governador José Serra, e o ex-ministro Fernando Haddad, que aparece empatado com Soninha Francine (PPS). Fala-se muito pouco, por exemplo, do segundo colocado, o deputado Celso Russomano (PRB-SP), que se mantém meio que... em "carreira solo", digamos assim. Russomano não tem nada do que embala Haddad ou Serra. E corre o risco de viver uma trajetória inversa àquela prevista para o petista.

O PRB não tem um tempo de tevê suficiente para fazer frente aos adversários, tampouco um grande partido. Mantida a lógica de quanto maior o tempo de tevê, maior o número de votos, a tendência é Russomano minguar a partir de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito. E, certamente, esses eleitores de Russomano serão os mais disputados no primeiro turno. E, se a mola desses 21% for a empatia na tevê, é bom os analistas não desprezarem o peemedebista Gabriel Chalita.

Chalita é hoje um ex-tucano espremido entre duas máquinas — a local, fechada com Serra, e a federal, seguidora de Haddad, ao ponto de trocar o secretário de Saneamento do Ministério das Cidades para conquistar Maluf. Mas não dá para deixar de lado que foi o segundo deputado federal mais votado em São Paulo. A campanha dele, por sinal, nem começou, enquanto a de Haddad já está nos programas populares de tevê junto com Lula.

Por falar em começo...
Confirmadas as projeções dos petistas e tucanos que torcem por um segundo turno entre os dois partidos, a eleição paulistana caminhará para o que dá título a esta coluna: um embate de rejeições. A de Serra está na casa dos 30%. Embora a de Fernando Haddad seja baixíssima, é de se supor que crescerá no momento em que o eleitor começar a identificá-lo com o PT. Ou seja, da mesma forma que ele conquistará votos de um grupo, perderá de outro.

Não dá para deixar de lembrar, por exemplo, que o processo do mensalão estará em julgamento no Supremo Tribunal Federal na temporada eleitoral e será mais um ingrediente capaz de mexer com a cabeça dos eleitores paulistanos. Ou seja, mais um fator capaz de puxar o candidato para baixo ao longo da campanha. Nessa batida, se Haddad angariar a rejeição do PT, a disputa será mesmo entre qual dos dois o eleitor paulistano rejeitará menos. Mas esse é um capítulo ainda distante da novela. O novelista, o eleitor paulistano, ainda não escreveu nem os primeiros capítulos. Quanto mais o fim desse enredo. Vamos aguardar.

Por falar em Supremo Tribunal Federal...
Enquanto muitos, inclusive eu, focam suas atenções principais à Rio+20 a partir de hoje, a turma do PSD não tira os olhos das sessões do STF. É que estará em pauta esta semana a ação sobre o tempo de tevê e fundo partidário do partido de Gilberto Kassab. Seu secretário-geral, Saulo Queiroz, de aniversário na próxima sexta-feira, tem dito a amigos que, "é difícil ganhar um presente do STF, mas o que ele mais gostaria era uma decisão favorável ao tempo de tevê do PSD". Esse será um dos assuntos quentes em Brasília. Vamos acompanhar.

Nenhum comentário: