terça-feira, maio 15, 2012

O tempo fechou de novo - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 15/05


Ainda que a temporada de tumulto europeu passe logo, crise deixará mais sequelas -no Brasil também


DIAS NUBLADOS e feios como os de ontem em São Paulo são deprimentes e suscitam ideias melancólicas. A sucessão de más notícias sobre a economia mundial neste maio pode também passar a impressão de que o futuro é cinza-chumbo. Será?

A esta altura do ano, sabemos tão pouco do que será da crise mundial quanto do tempo em São Paulo na semana que vem. Mas alguns estragos econômicos já estão feitos, como se tivesse havido uma seca. Pode chover, mas já houve prejuízo, no Brasil também.

Talvez o Brasil cresça em 2012 tanto quanto no sofrível 2011: 2,7%.

Sim, trata-se outra vez do tumulto europeu e da indecisão chinesa. Depois de mais de três anos de crise aberta, talvez já tenha ficado claro que a agonia europeia, afora incertezas sino-americanas, afeta a sua poupança, leitor, suas aplicações, o valor da sua aposentadoria e, talvez, em breve, o tamanho da sua renda e da oferta de empregos.

Exagero? Veja o que ocorre na Bolsa -fuga de estrangeiros, do risco e, claro, os resultados ruins das empresas brasileiras derrubam o Ibovespa, estagnado neste ano. Os juros estão baixos também, principalmente devido à crise -lentidão aqui, risco de colapso lá fora. Quem der uma olhada no rendimento real de suas aplicações ou, talvez pior, de sua previdência privada vai levar um susto ruim. Não há rendimento bom em quase lugar algum.

Além do ritmo ainda mais decepcionante do crescimento europeu, que já seria levemente recessivo em 2012, o tumulto político recomeçou, o que vai deixar sequelas nos mercados financeiro e de crédito. Vai se espalhar o medo ou no mínimo cautela nos empresários do mundo inteiro.

Empresários menos confiantes contratam menos, investem menos. A gente viu isso no ano passado, aqui no Brasil também. Além das medidas do governo para conter o crédito e a crise de final de ano na Europa, a desacelerada americana de meados de 2011 ajudou a aguar o crescimento brasileiro.

Nem se mencionem os problemas contínuos causados pelo marasmo mundial, como a supervalorização do real (que encarece nossos produtos industriais) e a sobra global de produtos industriais num mundo em que se consome pouco (o que derruba ainda mais as vendas da nossa indústria, o que, por tabela, afeta investimentos no setor).

Mesmo que não termine em colapso, o tumulto europeu vai demorar uns dois meses para passar, na melhor das hipóteses. Quanto mais durar, mais estrago, podendo atrapalhar mesmo a já medíocre retomada americana.

Para piorar, há números esquisitos na China. Os especialistas se entendem ainda menos sobre a China, uma economia difícil de acompanhar. Mas está mais difícil ver sinais de recuperação (quando não se veem de deterioração) para onde quer que se olhe na economia chinesa: imóveis, crédito, exportações, importações e até investimentos, o motor da economia deles.

Faz dois meses, em março ainda, fazia-se festa nos mercados e na mídia econômica, tal e qual ocorre no início de todos os anos desde 2009, no pós-crise. Espera-se que desta vez a queda de meio de ano é que seja o alarme falso, não a recuperação.

No mínimo, está tudo tão difícil de prever quanto o tempo em São Paulo.

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