quinta-feira, abril 26, 2012

Juntos, só por Lula - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 26/04/12


A chegada de Lula a Brasília soou como uma lufada de ar político para os petistas que andam com muita saudade dessa brisa. Foi tanta conversa que o lançamento do filme Pela primeira vez, do jornalista e fotógrafo Ricardo Stuckert, terminou em segundo plano. Foi esse lançamento que levou Lula à capital da República. Afinal, Stuckert acompanhou todo o período de governo do ex-presidente e, agora, retrata a eleição da primeira mulher eleita para comandar o país. Lula, invariavelmente leal ao amigos, não faria desfeita a ele.

O assunto principal da viagem, entretanto, foi bem outro. Primeiro, o almoço com Dilma Rousseff, onde discutiram a CPI do Cachoeira, a economia, a eleição municipal, a popularidade da presidente criada por Lula ao longo de seu segundo mandato presidencial. É fato que Dilma e Lula têm visões diferentes sobre vários pontos da administração pública e ela está mais popular do que seu próprio criador. Mas errará feio quem apostar num rompimento ou numa relação de desconfiança ou de profundo mal-estar entre os dois. Dilma e Lula vão muito bem, obrigado. Com mais alegrias do que dissabores na convivência.

O que "pega" nesse bolo é o PT. Ontem mesmo, Lula nem tinha desembarcado em Brasília, mas os petistas já estavam em festa à sua espera. Ficaram frustrados ao saber que o programado almoço com a bancada tinha sido cancelado em nome de um encontro restrito a poucos convidados, no Palácio da Alvorada. Em conversas reservadas, muitos no PT dizem que Dilma precisa tirar "a carranca". Comentam que, ao lançar o programa no Nordeste, ela não deixou de lado a expressão de impaciência. O mesmo ocorreu no Palácio do Planalto, quando do anúncio do PAC da Mobilidade Urbana, na última terça-feira.

Por falar em PT...

Diante de tanta expressão de mau humor, associada à falta de convites para aquela conversa mais descontraída, mas nem por isso menos importante, os petistas não negam a saudade que sentem de Lula e do seu jeito leve de se relacionar com os políticos. E, diante disso, eles chegam a confessar que hoje só estão ao lado de Dilma por causa de Lula. E por Lula. E, também porque é melhor alguém do PT, ainda que seja de mau humor, do que um governo de oposição.

De olho na permanência no poder, os petistas não negam fôlego na hora de defender o governo Dilma no plenário. Ontem, por exemplo, nos bastidores da sessão que tratou da votação do Código Florestal, muitos comentavam à boca pequena que estava cada vez mais clara a existência de uma disputa entre PT e PMDB. Enquanto os petistas cerravam fileiras em prol do texto aprovado no Senado, defendido pelo governo, Henrique Eduardo Alves, o líder do PMDB, bradava a plenos pulmões o voto em favor do texto do deputado Paulo Piau (PMDB-MG).

Por falar em PMDB...

A defesa do texto de Piau coloca Alves em sintonia com a expressiva bancada ruralista da Casa, que contará votos na hora de escolher o sucessor de Marco Maia (PT-RS) no papel de comandante. Mas o afasta de parte do PT e da presidente Dilma. Não por acaso, ontem no plenário da Câmara, houve quem avaliasse a votação do Código como um embate entre Dilma e o vice-presidente Michel Temer. Não vamos chegar a tanto, mas a distância entre PT e PMDB está cada dia maior.

De olho no esfriamento da relação, os peemedebistas vão marcar um jantar das duas bancadas para a semana seguinte ao feriado de 1º de maio. É hora de "amarrar os bigodes". Os peemedebistas também têm saudade dos tempos em que ocupavam melhores espaços na Esplanada: o governo Lula. Nesse sentido, PT e PMDB têm muito em comum: gostam do poder e estão com saudade de Lula. Não é à toa que a festa no Museu da República ontem à noite reuniu tanta gente. É saudade dos tempos em que a política cantava no Palácio da Alvorada. Agora, para os políticos, resta a CPI instalada ontem, um colegiado que ninguém ainda é capaz de dizer para onde irá.

Por falar em CPI...

Uma excelência comentava dia desses que iria dizer à "dona da pensão", no caso, Dilma, que a CPI seria um tiro no pé do PT. A resposta dela, depois da conversa foi: "E eu com isso?" O assunto CPI na sala presidencial terminou ali.

Os petistas não negam a saudade que sentem do ex-presidente e do seu jeito leve de se relacionar com os políticos. Alguns confessam que só estão ao lado de Dilma por Lula e por pragmatismo: melhor um presidente da República petista, ainda que seja de mau humor, do que um governo de oposição

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