O GLOBO - 12/03/12
A recente ultrapassagem do PIB inglês guindou a economia brasileira para o 6, lugar no ranking mundial, fato que repercutiu internacionalmente.
Sem dúvida, uma conquista importante, digna de comemoração.
Convém relembrar, que nos anos do "milagre", chegamos a alcançar a 8+ posição, um feito também significativo para uma época de grandes avanços na economia mundial, subitamente freada pelos dois choques do petróleo e pela crise da dívida externa com a forte elevação dos juros. Despencamos, então, para a 12+ ou 13+ posição.
Hoje, o mundo desenvolvido, especialmente a Europa (Zona do Euro), atravessa forte crise de endividamento de governos, bancos e famílias, que não se resolverá apenas com o aumento da liquidez a exemplo do que ocorreu com a crise da subprime, em 2008, nos Estados Unidos.
Esta levará tempo, pois, como afirmou a chairman do FMI, Christine Lagarde, "não há uma só economia no mundo que esteja imune à crise, que inclusive está se intensificando". Parece não haver dúvidas de que um novo tempo de baixo crescimento mundial ou mesmo recessão à vista está em andamento. De fato, a subida do Brasil para o 6, lugar não se deveu apenas a méritos próprios, a partir de taxas de crescimento elevadas, como a China, que em duas décadas se transformou na segunda economia do globo, mas, no baixo crescimento da ultrapassada Inglaterra, pois, enquanto a economia brasileira, no período 2007-2011, cresceu 23%, o PIB inglês cresceu apenas 5%.
O desafio agora é manter esta posição e mesmo ultrapassar a França e a Alemanha nos próximos anos. Para tanto, potencial de crescimento da produção e mercado interno não nos faltam. Faltamnos infraestrutura e reformas microeconômicas necessárias ao aumento da poupança interna, da produtividade e, consequentemente, da competitividade da economia brasileira; e, naturalmente, uma educação de qualidade. As nossas carências são de geração e distribuição de energia, rodovias, saneamento básico, portos e aeroportos. Somem-se a isto as relações de trabalho ultrapassadas, sistemas previdenciários deficitários, carga tributária exorbitante, setor público ineficiente; além de outras conhecidas deficiências no campo político- institucional.
Enfim, há uma extensa agenda a ser cumprida nos anos vindouros a fim de que trilhemos os caminhos do desenvolvimento sustentável exibindo altas taxas de crescimento. Em curto prazo, urge redirecionar o modelo de crescimento, baseado na expansão do consumo, que já dá nítidos sinais de esgotamento em face do elevado endividamento das famílias, cuja inadimplência de 2010 a 2011 aumentou 21,5%; e, também, pela rigidez da oferta de uma economia bem próxima do pleno emprego e com inflação em alta, tendo, em 2011, atingido 6,5%, o topo da meta estabelecida pelo Banco Central.
Essas informações indicam que para crescer 5% ao ano, sem pressões inflacionárias, o Brasil vai ter que elevar as importações de bens de consumo, o que irá intensificar ainda mais o processo de desindustrialização e aumentar o déficit da balança comercial. Seria uma forma insensata de crescimento e sem nenhuma sustentabilidade. Por outro lado, seria uma imprudência crescer com afrouxamento fiscal e monetário, já que o resultado seria mais inflação.
Resta, pois, priorizar o investimento, na perspectiva de a economia brasileira crescer com maior robustez, de maneira prolongada e sustentável nos anos vindouros. Sem dívida externa a ser resgatada e com confortável lastro de reservas, o país hoje, diferentemente dos anos pós "milagre", enfeixa todas as condições de pontificar na linha de frente das quatro maiores economias do mundo. Para tanto, seria imprescindível elevar a taxa de investimento, atualmente na pálida percentagem de 20% do PIB.
Nesse sentido, alguns sinais positivos foram dados pela presidente e também economista Dilma Rousseff ao decidir cortar gastos, especialmente de custeio, no montante de R$ 55 bilhões este ano e destinar mais recursos para obras de infraestrutura e também prosseguir com a política de redução da taxa básica de juros, desonerar a importação de máquinas e equipamentos e retomar as privatizações com a realização dos leilões dos aeroportos de Brasília-DF, Guarulhos- SP e Viracopos-SP. Que outras medidas como estas venham a ser adotadas como a total desoneração dos investimentos.
E, finalmente, com as mudanças ministeriais e a casa arrumada, a presidente Dilma poderia avançar, retomando as reformas microeconômicas, tão necessárias à modernização da economia brasileira.
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