quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Indústria deprimida - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 02/02/12


A produção da indústria brasileira quase não aumentou em 2011. A manufatura de bens duráveis (veículos e eletrodomésticos, por exemplo) chegou a encolher em relação a 2010, fenômeno verificado na última década apenas nos anos 2001 e 2009, de crise doméstica e mundial.

O desempenho deprimido das fábricas se deve em parte relevante a freios transitórios impostos à atividade econômica. O ano passado foi de redução de crédito e prazos de financiamento, de impostos maiores sobre compras a prazo e de altas nos juros, além de desaceleração devida ao ritmo menor de aumento de gasto público.

A modorra industrial deve-se também às forças contrárias liberadas pela crise mundial, de quase meia década. O maciço relaxamento monetário nos EUA, e agora mesmo na zona do euro, acelerou a valorização do real, o que encareceu os produtos brasileiros.

Tal vetor veio somar-se ao da artificialmente desvalorizada moeda chinesa. O sucesso das exportações brasileiras de produtos primários e a onda de investimentos estrangeiros à procura de um mercado crescente reforçam o caudal de divisas para o Brasil e realimentam a pressão sobre o câmbio.

O crescimento brasileiro contribui para aumentar ainda mais os custos domésticos. Preços industriais não sobem, premidos pela concorrência estrangeira. Mas há custos crescentes no setor de serviços, além de uma inflação geral alta. A oferta de trabalho qualificado é escassa, e os salários sobem.

Na contramão, a superoferta de produtos nos centros industriais derruba os preços da manufatura no comércio internacional. E, por fim, há custos excessivos de longa duração, como os dos impostos e os da logística cara e escassa.

A resultante dessas forças que operam no curto, no médio e no longo prazos não afeta de modo idêntico toda a indústria. Têxteis, madeiras, calçados e couros decerto encolheram na década passada.

O país recebe, no entanto, investimentos vultosos em diversos setores industriais -vários deles subsidiados ou protegidos por tarifas, como o de automóveis. Sem controle e metas, tais proteções podem reduzir a eficiência da economia.

Não há remédio de curto prazo. Lidar com custos e câmbio depende de um projeto de reorganização de gastos públicos. Isso significa contenção de despesas, redução acelerada da dívida, da taxa de juros e da despesa com eles, aumento do investimento em infraestrutura e um programa de emergência na educação para o trabalho.

Nada de novo.

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