sexta-feira, janeiro 06, 2012
O exemplo de Marcos - EDUARDO MALUF
O Estado de S.Paulo - 06/01/12
Dizer que o futebol brasileiro perde um de seus grandes goleiros em todos os tempos é cair no óbvio. Marcos, afinal, foi campeão mundial com atuação notável na seleção e vencedor da Libertadores como principal nome do Palmeiras. Quem conviveu com o camisa 1, por um período curto ou por anos, sabe que o esporte se despede não apenas de um atleta talentoso, mas de uma figura afável, autêntica e humilde, apesar das conquistas e do respeitável patrimônio acumulado.
Marcos Roberto Silveira Reis nunca foi afeito a marketing pessoal. Ao contrário. Sempre gostou de se esconder das câmeras, ficar longe dos holofotes. Jamais, porém, deixou de perder bons minutos para bater papo com repórteres ou fãs, contar e ouvir histórias.
Quem teve a oportunidade de desfrutar algum tempo de sua companhia, certamente se divertiu, deu boas risadas. Marcos chamava as pessoas pelo nome. Conhecia todos os repórteres que cobriam o dia a dia do clube e tinha curiosidade em saber como cada um vivia, quanto ganhava, quantas horas trabalhava...
Antes de embarcar para os dias mais gloriosos de sua carreira, em 2002, às vésperas da Copa da Ásia, fez confidência curiosa. "Chocolate é o que mais tenho na mala", contou, rindo. Inusitado para quem partiria em busca do título..
Estive no Japão e na Coreia para acompanhar aquela Copa pelo Estado. Uma de minhas pautas era perguntar a goleiros de outras seleções o que sabiam sobre Marcos. Fui ao treino da Itália e conversei com os três da Azzurra: Buffon, Toldo e Abbiati. Buffon declarou que nunca o tinha visto jogar, mesma resposta de Abbiati. Toldo foi mais longe e afirmou que nunca havia ouvido falar em Marcos!
De fato, o palmeirense nunca se preocupou em fazer autopropaganda. Seu marketing sempre foi o desempenho debaixo do gol. Só para refrescar a memória, na campanha do pentacampeonato, brilhou em dois jogos cruciais: contra Bélgica, nas oitavas, e Alemanha, na final.
Os italianos passaram a conhecê-lo. Ou melhor, o mundo o descobriu. Seis meses mais tarde, o Arsenal fez proposta milionária para contratá-lo. Ele chegou a viajar para Londres, mas voltou para o Brasil e esnobou os ingleses. "Não quero ficar longe de meus pais."
Sua simplicidade e sinceridade sempre foram marcantes. Até nas derrotas mais contundentes. "Se fossem mais bolas, teríamos sofrido ainda mais gols", desabafou, no dia seguinte à goleada por 7 a 2 do Vitória sobre o Palmeiras, pela Copa do Brasil de 2003, no Palestra Itália.
Marcos foi um de nossos grandes ídolos dentro e fora de campo. O Palmeiras e o futebol vão sentir demais sua falta.
Tristeza. Não poderia encerrar a coluna sem expressar minha tristeza pela perda de um craque do nosso time de Boleiros e companheiro nas coberturas da Copa da Alemanha e da Olimpíada de Pequim. Daniel Piza pendurou as chuteiras precocemente. Que descanse em paz.
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