sexta-feira, novembro 25, 2011

Quem é a oposição a Obama e Chávez? - MOISÉS NAÍM



FOLHA DE SP - 25/11/11


Os republicanos dos EUA poderiam aprender muito com os venezuelanos que se atrevem a enfrentar Chávez

APESAR DO desencanto com os políticos e a política, dois acontecimentos motivam até os mais cínicos. Um é votar no dia das eleições. A porcentagem real de abstenções costuma ser menor que a de pessoas que, antes do pleito, afirmam que não vão participar. Mas, chegado o dia, alguma coisa lhes acontece e muitos desses relutantes vão para a fila e votam. O outro evento que motiva até os menos interessados é o debate entre candidatos.
Nos últimos dias, houve dois debates que não tiveram repercussão internacional ampla. Um foi entre os pré-candidatos presidenciais do Partido Republicano dos EUA. O outro, entre os candidatos a representar um dos grupos políticos mais frágeis e ameaçados do planeta: a oposição a Hugo Chávez. Ambos têm implicações além do que se passa nos EUA ou na Venezuela.
Os republicanos sentem que podem derrotar Barack Obama. Mas têm um problema com os oito candidatos à indicação presidencial. Debates entre eles têm servido para que se conheçam os candidatos.
E o que eles vêm mostrando é preocupante: obscurantismo ("a homossexualidade é uma doença que se cura rezando"), o desprezo pela ciência ("as teorias de Darwin não são comprovadas"), propostas econômicas inverossímeis ("é possível reduzir o deficit fiscal sem elevar impostos"), populismo ("vou abolir dois -não, três!- ministérios"), hipocrisia ("o casamento e a fidelidade são valores sagrados"), ignorância ("os talebans estão na Líbia") ou mentiras ("Obama é muçulmano"). O fato de esse grande partido não ter candidatos melhores a oferecer dá muito o que pensar.
Enquanto isso, na Venezuela... uma oposição com fama de inepta e golpista se transformou em um dos movimentos políticos mais democráticos e inspiradores da América Latina. Planeja eleições primárias abertas a todos os venezuelanos para escolher o candidato que enfrentará Hugo Chávez no pleito de 2012.
Pouco tempo atrás, os pré-candidatos encenaram um evento que a grande maioria do país, a população com menos de 30 anos, nunca tinha visto: um debate televisionado entre políticos rivais (o último foi em 1983). Tampouco tinha visto políticos que não tratam seus competidores como inimigos mortais, nem os viu trocar os piores insultos.
As pessoas descobriram que a disputa política não exige o uso das táticas brutais às quais o presidente Chávez recorre comumente. Comparados com os pré-candidatos republicanos, os opositores venezuelanos se mostraram mais sérios e preparados. E, em um duro contraste com os americanos, quem ganhar as primárias não terá que enfrentar o presidente dentro de um contexto institucional democrático -terá que enfrentar Hugo Chávez no contexto institucional que convier a este e que ele definirá de modo unilateral.
Muitos acharão impossível acreditar nisso, mas os candidatos republicanos poderiam aprender muito com os líderes venezuelanos que se atrevem a enfrentar Chávez.
As crises mundiais não deixam muito espaço noticioso para a crise venezuelana. Mas o que aconteceu na Venezuela há pouco é uma notícia que merece mais atenção. E o que não acontece entre os republicanos também.

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