domingo, outubro 16, 2011

MÔNICA BERGAMO - Meu Face é um Book



Meu Face é um Book
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 16/10/11

Usuários de redes sociais procuram fotógrafos profissionais para aparecerem mais bonitos em suas páginas pessoais "Beautifull!!!!", diz Juliane Soares. "Linda essa foto hein, Lari, adoreei!!!", elogia Daniel Santana. "Tá lindaaa!!!", comenta Ale Correa. Essa é a opinião de alguns dos 365 amigos virtuais de Larissa Oliveira sobre a foto de seu perfil no Facebook. Ela caprichou: gastou R$ 100 para ser clicada em um estúdio profissional.

"Vim fazer o ensaio porque quero mostrar quem sou, minha verdade interior", diz Larissa, 23, ao repórter Chico Felitti antes de entrar na sala onde fez o elogiado retrato. Para exibir na internet sua "verdade interior", usou um ventilador que deu movimento aos cabelos, olho sombreado em tons de cinza e azul com rosa. E "algum Photoshop", admite a fotógrafa Carolina Reis.

O estúdio em que ela trabalha, no Centro de SP, criou um pacote "book para redes sociais". Quinze minutos de atendimento dão direito a dez fotos profissionais, com tratamento de imagem que dá "efeito aveludado na pele e corrige 60% dos detalhes". Só que "sem parecer falso, por favor", pede Larissa.

Produção de figurino e maquiagem devem ser feitas em casa, já que o tempo em frente à câmera é curto. "É o melhor jeito de reduzir o preço", diz a dona do estúdio, Bianca Machado. Ela cobra R$ 100 em dias de semana e R$ 120 aos sábados, domingos e feriados.

"Metade das pessoas que atendo só quer foto digital", diz o fotógrafo Alexandre de Oliveira, que tem um estúdio em Belo Horizonte. "E muitas delas só para usar na rede social. Eles pegam o CD com as imagens e nem voltam para pegar o book impresso. Tenho cinco aqui, mofando num cantinho." A sessão mais básica com Oliveira custa R$ 165, e dá direito a 50 fotos armazenadas em um CD. Foi a escolha da secretária Daine Priscila dos Santos, 23. Finalista do concurso Miss Turismo, ela vê o gasto como investimento profissional. "Tudo o que eu faço de foto eu coloco na internet." Podem ir para o ar até imagens sensuais, em que ela aparece sem blusa, encobrindo os seios com os braços. "É uma divulgação que também é profissional. Afinal, meu trabalho sou eu." O público das poses de Daine é composto por 767 pessoas, seus amigos no Facebook. Só eles têm acesso irrestrito "às coisas mais pessoais que eu experimento, e a algum nu artístico".

Ela diz que não se incomoda com comentários inapropriados. "Meu intuito é esse mesmo: quanto mais comentários, melhor. Significa que estão admirando." "Das pessoas que vêm aqui, uns 85% querem fotos para redes sociais", diz a fotógrafa Kelly Oliveira, de Rio das Ostras (RJ). "É para autopromoção. A gente vive uma obsessão com a imagem, tem essa necessidade de se mostrar bonito. E eu sei fazer as pessoas parecerem bonitas. É a minha profissão." "A gente só mostra aquilo que quer", diz Larissa, de SP. Ela queria mostrar o piercing no lábio e o tênis novo, de modelo iate. Mas há quem queira revelar bem mais.

"Já tive que dizer não para uma garota de 15 anos que pediu para fazer álbum sensual para o Orkut", diz a fotógrafa paulistana Carina Fouldenber. "Mesmo com a mãe aqui, menor não pode fazer ensaio sensual. Não dá." Outra restrição dos profissionais é quanto à modificação da foto no computador.

"Aconselhamos a usar só um pouquinho de Photoshop. Quase nada, porque o ângulo e a luz já ajudam muito. Tirando que, se fizer uma pele de porcelana, não vai mais parecer a pessoa", diz Bianca Machado.

Mas há fotógrafo que admite: "Photoshop nos outros é ridículo, mas quando é na gente... Às vezes, é necessário", disse um dos entrevistados, que pediu sigilo do nome. "Fiz uma foto minha mesmo olhando no espelho para pôr no Orkut. Aí não aguentei as rugas e dei uma 'photoshopada'. Dei mesmo, porque tava precisando." "Quando a gente fala em rede social, pensa que é o jovem que vai procurar esse serviço", diz o fotógrafo Alexandre. "Mas não é. Jovem faz a foto em casa, sozinho, e fica boa. É gente mais velha que precisa de ajuda." Bianca diz que a maioria das 20 sessões para rede social que seu estúdio faz por semana é para pessoas que passaram dos 40. "Mulheres especialmente." Ela arrisca uma explicação: "Talvez elas tenham vergonha, se achem muito velhas".

Algumas procuram estúdios em turma. Tiram fotos fingindo que lutam boxe, que estão num baile de Carnaval ou brindando com champanhe. E colocam tudo no Face.

"Eu tive um pouco de vergonha, mas só no começo", conta a professora Miriam Benoti, 57. Ela usou as 30 imagens posadas, algumas delas só de calcinha e sutiã, no perfil que criou em um site para buscar namorado. "Procuro um companheiro, depois de ter sido casada por 20 anos. Penso que, mostrando o meu corpo, me liberto, mostro essa fase nova da minha vida." "Nosso trabalho vai além de tirar foto. É descontrair bastante a pessoa", diz Carina Fouldenber. "Se ela quer recuperar a autoestima, a gente explora mais a sensualidade. Se quer parecer divertida, exploramos o movimento, rindo, pulando. Dá para vender a ideia de uma vida ótima com foto de estúdio." No mês passado, uma senhora mineira procurou Alexandre de Oliveira para fazer as fotos para estampar o convite da sua festa de 60 anos. "Terminada a sessão, com vestido longo, ela perguntou: 'Posso fazer agora uma foto sensual, para usar na internet?'. Eu disse que sim. Ela levantou o vestido e mostrou o joelho".

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