Investimento, só externo
ALBERTO TAMER
O ESTADÃO - 27/10/11
Os investimentos diretos no Brasil bateram novo recorde, US$ 50,4 bilhões,este ano, superando de longe os US$ 48 bilhões de todo o ano passado. Um ótimo resultado, sim, mas revela um fato que deveria preocupar.
Os investimentos externos não financeiro aumentam,mas os internos, privados ou do governo, recuam este ano e não dão sinais de melhora. Em 2010, eles representavam 66% do total e no primeiro semestre deste ano - últimos dados disponíveis no Ministério do Desenvolvimento - apenas 32,2%; a participação dos recursos de origem estritamente estrangeira passou de 23% para 56% no primeiro trimestre.Ou seja, a grande verdade é que não fossem os investimentos diretos, que não param de aumentar, a formação de capital no Brasil teria caído para bem abaixo de 18%.
A Confederação Nacional da Indústria afirma que esse baixo resultado dos investimentos internos se deve à alta taxa de juros, ao câmbio e às incertezas externas. É uma explicação parcial porque o mercado interno mantém os mesmos níveis de crescimento do ano anterior e a produção agroindustrial continua crescendo.
Eles salvam. A verdade é que os investimentos externos no setor produtivo estão salvando a formação de capital fixo no Brasil. Uma participação consistente, que vem crescendo mês a mês.
Segundo dados do Banco Central, ela passou de US$ 2,9 bilhões em janeiro para US$ 7 bilhões em fevereiro e se manteve em torno de US$ 6 bilhões em agosto.
Para o governo, a estabilidade da economia brasileira, que, mesmo com sinais de acomodação, deve crescer 3% nos próximos anos é a causa principal dessa atração. O Brasil, mais prudente, não foi atingido pelo clima de depressão mundial, até se beneficiou porque continua crescendo em um clima de estabilidade econômica, financeira e fiscal.
Mas há outra explicação: a maior parte dos investimentos externos que aumentou este ano se concentra em alguns setores como petróleo e gás, telecomunicação, indústria automobilística e, agora, informática, com a chegada do capital asiático.
"Os investimentos na indústria automobilística devem totalizar US$ 21 bilhões até 2014", informou esta semana o presidente da Anfavea,Cledorvino Belini.
Entre 2007 e 2010, foram apenas US$11 bilhões.Há novos incentivos e as empresas estrangeiras estão sendo atraídas para produzirem no País. Tendo em vista os investimentos já anunciados em todas as áreas, o Ministério do Desenvolvimento não esconde otimismo.
Devem passar de US$ 165 bilhões.
Estão sendo liderados pelos Estados Unidos,com US$ 32 bilhões divulgados no primeiro semestre, Grã-Bretanha - mais de US 30 bilhões na área de petróleo e gás - e Taiwan, US$ 12 bilhões, da Foxconn na fabrica de tablets.
O governo tem se mostrado receptivo ao forte estímulo tributário se as empresas estrangeiras atendem a maior participação nacional. A questão em aberto é saber se a indústria brasileira terá capacidade de expandir para atender ao aumento decorrente da demanda.
E, muito mais ainda, se além dos incentivos tributários, o governo está mesmo decidido a desburocratizar os processos e enfrentar as barreiras ambientais.
Mas são apenas projetos. Das 364 intenções de investimento externos, mais de 60%já estão em fase avançada.
Para Eduardo Celino, coordenador da Rede Nacional de Informações sobre Investimento, do Ministério do Desenvolvimento, o interesse das empresas estrangeiras no Brasil é crescente porque há mais ovas oportunidades, como confirmam os dados do primeiras e mestre, bem superiores aos do ano passado. As previsões para os próximos meses podem se confirmar pois haverá ainda a atração da Copa e Olimpíada. "A queda de atividade econômica nos Estados Unidos e na Europa canaliza investimentos e fez aumentar o interesse pelo país em que há expectativa de bom desempenho da economia." Mesmo assim,os economistas não acreditam que os investimos totais no Brasil cheguem a 18% do PIB este ano. Os indicadores atuais apontam para 16% ou menos. O Brasil precisa de no mínimo 25%. Está longe disso.
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