É o terrorismo, estúpido!
PAULO GUEDES
REVISTA ÉPOCA
As últimas pesquisas de opinião da agência Reuters nos Estados Unidos sugerem que apenas 34% dos americanos aprovam a maneira como o presidente Barack Obama conduz a economia do país. Na dimensão política, as mais recentes pesquisas da Associated Press após a morte do líder terrorista Osama bin Laden por forças especiais da Marinha americana indicam a aprovação do governo Obama por 60% dos entrevistados, o maior índice registrado nos últimos dois anos.
Ainda de acordo com a Associated Press, 73% dos entrevistados confiam na capacidade do presidente de enfrentar a ameaça do terrorismo com bons resultados. E 53% acreditam que ele deverá ser reeleito em 2012. É a primeira vez que Obama alcança maioria nessa questão, após um salto de 13 pontos em sua popularidade nas pesquisas desde que atingiu seu ponto mais baixo, no segundo semestre de 2010.
Tenho enorme simpatia por Obama. Ele fez uma belíssima campanha presidencial, que culminou em uma celebração quase universal da democracia. Mas meu sentimento carregava também uma boa dose de compaixão por sua figura humana, pois eu sempre soube de suas poucas chances de sobreviver politicamente ao abismo em que mergulharia a economia americana durante seu mandato.
Esperança e mudança? Sim, podemos? Não no front econômico interno. Como promover mudanças se Obama foi imediatamente capturado pelos mesmos financistas e autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, que ampliam as dimensões dessa crise há uma década? E como ter esperança quando expectativas de uma inflação ascendente ameaçam derrubar o poder de compra dos salários e permanece extraordinariamente elevada a taxa de desemprego? A verdade é que o desempenho da economia americana era praticamente uma condenação a Obama, tornando bastante improvável sua reeleição.
Tudo parecia ir também de mal a pior no front político externo. A desordem política e os distúrbios sociais do norte da África ao Oriente Médio são um desdobramento inevitável da explosão dos preços da comida e dos combustíveis. As novas tecnologias e a mobilização popular derrubam ditadores em série. Khadafi luta na Líbia e Assad reprime as manifestações na Síria. Mas aqui nem tudo está perdido. Ante a ameaça de ascensão política do fundamentalismo islâmico, há uma oportunidade de avanço do mundo árabe rumo ao regime democrático.
Nos EUA, a inflação cresce e o desemprego não cai. Mas Obama pode se beneficiar da guerra ao terror
São tempos revolucionários, e a liderança de Obama em assuntos internacionais será continuamente testada. Durante a recente visita ao Brasil, ele autorizou a intervenção militar na Líbia para impedir uma carnificina anunciada. E agora permitiu pessoalmente os passos finais da caçada por Bin Laden. Age com determinação, como um comandante em chefe das Forças Armadas em mais um capítulo de uma guerra aberta e declarada contra o terrorismo.
A economia sempre jogou um papel importante nas campanhas presidenciais americanas. Quando as condições materiais não ajudam, é sempre possível recorrer a emoções como o medo, a insegurança, o patriotismo e a sede de justiça. E isso, na verdade, é o que parece estar acontecendo nas eleições mais recentes. A guerra ao terrorismo reelegeu Bush, como promete agora reeleger Obama. É claro que é ainda muito cedo para concluir se a dimensão política será decisiva em relação à dimensão econômica em 2012. E ainda é cedo para concluir que a maré política permanecerá favorável. Ameaças de “novos e terríveis ataques” partem dos mais diversos grupos terroristas e a situação do Oriente Médio permanece instável.
É interessante observar que a chave para a reeleição de Bill Clinton nos anos 1990 foi o clichê político “é a economia, estúpido”, realçando o papel decisivo das condições econômicas nas eleições presidenciais. Mas agora, para a reeleição de Obama em 2012, o clichê político que revela a surpreendente prioridade de um império econômico em declínio parece ser a segurança pública: “É o terrorismo, estúpido!”.
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