A afundação do PSDB continua
Vinícius Torres Freire
Folha de S.Paulo 03/12/2010
FINDA A eleição, ouviu-se no PSDB uma conversa sobre "refundação" do partido. Como de costume, os tucanos logo trocaram bicadas por meio dos jornais, pois não haviam conversado a respeito da tal "refundação". Quase imediatamente depois, o partido caiu na sua modorra, no torpor da preguiça política característico do tucanato desde o início do governo de Fernando Henrique Cardoso, lá se vão 16 anos. Para dar um exemplo de agrado dos tucanos, mesmo o decadente, desengonçado e desorientado Partido Socialista francês tem mais sentido de urgência. Ao menos se reúne para discutir os motivos das vergonhosas surras eleitorais que vem tomando da direita e até da extrema direita, já faz década. Decerto o PS, como os partidos da social-democracia europeia, não consegue articular ideia ou prática política novas. O PSDB, pior que isso. Nem tenta.
Houve alguma grande reunião do partido para discutir o que fazer depois de mais uma derrota inglória? Inglória, pois da campanha não restou nem organização, nem programa, nem novas lideranças. Alguma discussão sobre o desastre no Rio Grande do Sul? Sobre a inexistência do partido em Estados grandes como Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia? Sobre seus governadores cassados ou quase "impichados"? Sobre a desconexão quase total do partido com organizações e demandas da sociedade?
Mais simples e de interesse mais imediato, o partido tem algum programa alternativo ou orientação crítica ao governo que está para começar? Não se trata de pergunta de interesse exclusivamente tucano. Em tese, o PSDB é a oposição restante.
Como sói acontecer depois de grandes períodos de vadiagem, o Congresso está aprovando leis importantes, mas às baciadas, na xepa legislativa que precede o período Natal-Carnaval. Por exemplo, aprovou o restante das novas leis do petróleo. Cadê o PSDB, que, aliás, dizia-se contra a mudança das leis?
Uma das leis aprovadas não é disparate pequeno. Em resumo simples, um tributo petrolífero que recebe o nome de "royalties" passará a ser distribuído segundo os critérios dos fundos de participação de Estados e municípios nas receitas arrecadadas pelo governo federal. Os Estados produtores perderão receita. Quem banca a perda? A União, o governo federal.
Em suma, acontece o seguinte: 1) parte do eventual dinheiro do pré-sal será picotado pelo país; 2) dinheiro picotado some, em vez de ser concentrado em grandes projetos de interesse nacional e geral; 3) o "fundo social" composto de recursos do pré-sal será reduzido e dispersado.
Cadê a oposição? Na praia; caçando empregos nos governos de Geraldo Alckmin (SP) e de Antonio Anastasia (MG); negociando miudezas no Parlamento. Outro projeto temerário, o do trem-bala, caiu por obra das empresas interessadas no negócio, que querem mais concessões e clareza nesse projeto mal-amanhado. Cadê a oposição, que criticou o trem na campanha?
Cadê o projeto de responsabilidade fiscal do PSDB (que, aliás, na campanha propôs doido reajuste do salário mínimo)? O governo Dilma começa em menos de um mês. Cadê o "ministério paralelo" ("shadow cabinet") do PSDB, os expoentes de cada área técnica, capazes de fazer críticas fundamentadas e acompanhar a ação do governo? Cadê?
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