A hora de dormir
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 31/12/10
O ano termina com a polícia do Estado do Rio em alta. Para quem acaba de desembarcar de outro planeta, esclareço que isso se deve à revolucionária, absolutamente inédita, ocupação do Complexo do Alemão e vizinhanças por tropas estaduais e federais. Nunca antes - não custa repetir - o crime organizado sofreu derrota parecida, aqui ou em qualquer outro estado.
Uma novidade saudável mais recente é a decisão de deixar de considerar como absolutamente positivos os episódios de pessoas mortas em confronto com policiais. A partir do ano que vem, policiais serão premiados pela redução no número desses casos. Especialistas na área, como o pessoal do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, aplaudiram a mudança, com a ressalva de que a redução prevista no número de bandidos abatidos ainda seria modesta. Como disse Julita Lemgruber, estudiosa respeitada, a meta é tímida, levando-se em conta que o Rio, com menos policiais do que São Paulo, tem duas vezes o número de mortes atribuídas à resistência de marginais a ordens de prisão.
Seja como for, importa mais prender do que matar. E o governo estadual anuncia que premiará os policiais que contribuam para diminuir esse número. Prender bandidos, em vez de matá-los, passa a ser bom negócio - literalmente, já que haverá gratificações - para os policiais fluminenses. Receberão bônus se usarem mais as algemas do que as armas de fogo. Não seria má ideia haver também punição extremamente severa para o policial que sair por aí matando ladrões de galinha e passadores de cheques sem fundos.
Só fica faltando saber se as penitenciárias do estado têm vagas para atender ao maior número de presos. Ou se eles devem permanecer encarcerados aqui. O Estado do Rio pratica há muito tempo uma política de exportação dos bandidos mais perigosos para celas federais; quanto mais longe, melhor. Isso é considerado o único remédio possível para o problema das quadrilhas controladas - via celulares e pombos-correio - de dentro do sistema penal local. Em suma, se vamos mais prender do que matar, é bom ir pensando onde ficará o superávit de presos.
Outra ideia que parece boa mas tem suas armadilhas é a decisão da prefeitura do Rio de contratar policiais militares em seus dias de folga. Por simples razão: ninguém aguenta trabalhar 24 horas e sete dias.
O policial que hoje faz "bicos" nas horas de folga, de duas, uma: ou dorme quando deveria estar a serviço do Estado, ou faz isso quando está sendo pago pelo patrão particular. Alguém acredita na segunda hipótese?
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