domingo, setembro 26, 2010

ELIO GASPARI

Trem-Bala do PT irá do Oiapoque ao Chuí
ELIO GASPARI

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/09/10

O projeto Rio-SP ainda não saiu do papel e custará o dobro, mas prometem triplicar a malha


O PROJETO DO TREM-BALA tornou-se um monumento à empulhação. Tratando-se de uma obra que desde o primeiro momento foi acompanhada pela ministra Dilma Rousseff, ela permite viajar num tópico de sua qualificação técnica e administrativa.
Em 2007 o trem faria a rota Rio-São Paulo, ficaria pronto antes da Copa de 2014, custaria R$ 18 bilhões, cobraria R$ 80 pela viagem e nada custaria à Viúva. Seria bancado pelos concessionários. O bólide não pararia no caminho, mas ninguém sabia dizer por quê.
Felizmente o Tribunal de Contas travou a proposta, apontando inconsistências na estimativa da demanda. O TCU encontrou uma tabela com números absurdos. Feita a denúncia, o consórcio italiano que encaminhou o estudo disse que aquela planilha não tinha sido posta lá por ele.
Em 2008 decidiu-se que o governo entraria no negócio e o Trem-Bala tornou-se uma das joias da coroa do PAC. A essa altura o preço foi estimado em mais R$ 18 bilhões, com diversas paradas, estendendo-se até Campinas, uma decisão que deveria ter sido tomada no primeiro momento. A ministra Dilma Rousseff defendia o projeto italiano mas ele foi moído no BNDES. Em maio daquele ano a comissária confirmava o custo previsto na literatura do PAC. O BNDES trabalhava com uma conta de R$ 22 bilhões.
Em 2009, aquilo que seria um projeto privado ainda não atarraxara um só parafuso, mas começou-se a falar na criação de uma empresa estatal para a obra. Quando ao custo, pulou para R$ 33 bilhões e as paradas seriam oito. O velho e bom BNDES deveria pingar R$ 20 bilhões.
Todos os prazos e custos do projeto estouraram. A tarifa Rio-São Paulo de R$ 80 já está estimada em R$ 200. Ofereceram-se isenções tributárias de ICMS, PIS/Pasep e Cofins aos interessados. (Coisa de R$ 500 milhões.) Os consórcios internacionais querem que o governo garanta a demanda e tudo indica que serão atendidos, apesar de um deles já ter dito que não precisa disso. (Com garantia de demanda, Eremildo, o Idiota, inaugura uma linha de ônibus para a Lua.)
Com a proximidade da eleição, o embuste ganhou uma nova dimensão. Em maio renasceu uma ideia de 2008 para estender o percurso do Trem-Bala a Belo Horizonte e Curitiba. No traçado Rio-Campinas ele percorreria 518 quilômetros. Com essa duas linhas, seriam mais 895 quilômetros.
Em julho o senador Aloizio Mercadante prometeu trabalhar para levar o trem a Bauru, Sorocaba e Ribeirão Preto. Mais 400 quilômetros, pelo menos. Os 518 km iniciais ainda estão no papel e já prometeram mais 1.300 km. Se o dia 3 de outubro demorar mais um pouco, os candidatos do governo oferecerão o Expresso Oiapoque-Chuí.

DILMÔMETRO
Um curioso percebeu que Dilma Rousseff tem uma característica indicativa que está disposta a fechar o tempo durante uma discussão. Basta ficar de olho na veia que passa na altura de sua têmpora esquerda.
Quando ela se dilata, aí vem chumbo.

CINTURA REAL
O ex-presidente americano Jimmy Carter publicou o diário que manteve durante seu governo (1977-1981). No seu estilo, evita fofocas e maledicências. Mesmo assim, conta que a rainha Elizabeth cuida de seu chassis porque, se engordar, terá que fazer sete novos uniformes militares para vesti-los em diferentes paradas. Segundo ela, custam caro.

BOM SINAL
Dois candidatos a deputado, do Rio e de São Paulo, surpreenderam-se com uma novidade. A patuleia não gosta de receber santinhos com sugestões de votos para candidatos a senador, governador e presidente.
A chamada "marmita" tornou-se ofensiva, pois o cidadão se vê tratado como um ignorante, incapaz de escolher seus candidatos. Ele quer compor o próprio voto, como bem entender.

ESTILO-TÉDIO
Alguém precisa avisar ao ministro Cezar Peluso, presidente do STF, que, com as câmeras ligadas, seu estilo de professor entediado prejudica a qualidade de seus argumentos.
Contrapondo-se ao desempenho gestual e verbal de Ricardo Lewandovski e à serenidade de Carlos Ayres Britto, Peluso teria dificuldade até para defender a lei da gravidade.



EM FIM DE GOVERNO, RESSURGE O CARTÃO SUS 
Depois de oito anos de inépcias, irregularidades e empulhações, o Ministério da Saúde acelerou o que seria uma reformulação do Cartão SUS, um plástico que guardaria a história das relações de um cidadão com a rede médica pública.
O Cartão SUS é um projeto do tucanato e se promessa de governo tivesse algum valor, desde o final de 2001 ele já estaria no bolso de 100 milhões de pessoas. Por pouco suas maracutaias não acabaram em CPI. Agora, no melhor estilo triunfalista, o ministério começou a rodar uma marquetagem e lançou o "Projeto Revitalização do Cartão SUS". Em nenhum momento informam o que aconteceu com essa iniciativa a ponto de ser necessário "revitalizá-la". Ela torrou R$ 400 milhões e deu em nada.
O Ministério da Saúde quer começar tudo de novo, com um projeto que, pela lei da gravidade, cairá no colo de duas ou três grandes empresas de softwares e equipamentos. A burocracia do doutor José Gomes Temporão nunca botou a cara na vitrine para explicar o fracasso do projeto.
Faltando três meses para o fim do governo, querem recriar o universo sem explicar por que a máquina do DataSus ficará de fora. Ao contrário das grandes empresas, ele trabalha com softwares livres. Se o DataSus não serve para nada, deveriam fechá-lo. O que acontecerá com o que já foi feito? A escassa coordenação que existe baseia-se num cadastro trabalhado pelo DataSus.
Num governo que defende o uso de softwares livres na máquina federal, o SUS quer se juntar à Polícia Federal e ao Detran, contratando programas fechados. Pode até ser o melhor caminho, mas a experiência mostra que, desde o início, o Ministério da Saúde fez uma opção preferencial pelas encomendas.
Compraram milhares de modems numa época em que a rede bancária começava a operar as contas de seus clientes pela internet. Nessa área, tudo o que podia dar errado errado deu. Querem apressar o negócio porque, se o dinheiro não for gasto logo, cairá em exercício findo. Nesse caso, a pressa destina-se a torrar logo o dinheiro da Boa Senhora.
O doutor Temporão e Nosso Guia deveriam tomar a mais simples das decisões: O que não fizemos em oito anos não devemos tentar fazer em dois meses. Sobretudo se "fazer" significa fechar contratos milionários.

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