domingo, junho 13, 2010

ELIO GASPARI

Deserto no Brasil, vendaval na Califórnia
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/06/10


Em nove Estados, os candidatos a governador oferecem à patuleia um replay de eleições passadas



A LISTA DE CANDIDATOS competitivos aos 26 governos de Estados traz um sinal de esclerosamento do sistema partidário e eleitoral do país. Em pelo menos nove deles, a disputa envolve candidatos derrotados em pleitos anteriores.
Alguns exemplos: em São Paulo, a escolha ficará entre Geraldo Alckmin (derrotado em 2008 na disputa pela prefeitura da capital e, em 2006, pela Presidência) e Aloizio Mercadante (batido em 2006 quando disputou o governo do Estado). Em Minas Gerais, Hélio Costa é um derrotado da turma de 2002.
No Paraná, Osmar Dias perdeu em 2006 para Roberto Requião. O mesmo aconteceu na Bahia com Paulo Souto. Na Paraíba, José Maranhão perdeu em 2006, seu adversário foi cassado e agora ele pretende a reeleição. Em Santa Catarina, Esperidião Amin perdeu em 2006 e agora sua mulher, Angela, disputa o governo.
No Maranhão, Roseana Sarney foi derrotada por Jackson Lago, ele perdeu o cargo na Justiça, ela foi para o Palácio dos Leões e agora disputa a reeleição. Contra quem? Jackson Lago. Caso ele sobreviva à lei do Ficha Limpa, aos maranhenses restará uma triste escolha, entre uma candidata que não quiseram e outro que a Justiça julgou inapto para o cargo.
Esse monótono bafo de velharia reflete a falta de interesse das caciquias partidárias pela renovação de quadros. Bem à democracia, isso não faz.
Por coincidência, enquanto no Brasil caminha-se para replays, o eleitorado da Califórnia aprovou na semana passada uma emenda constitucional de iniciativa popular que virou pelo avesso o sistema eleitoral do Estado.
Atualmente, cada partido realiza primárias e todo o eleitorado pode participar da votação. Escolhidos pelos partidos, os candidatos vão ao pleito. Com a Proposta 14, realiza-se apenas uma grande prévia, com um panelão que misturará todos os candidatos que decidam se inscrever. Os dois mais votados sobem para a eleição. Pode haver uma eleição com dois republicanos, ou dois democratas. Pode até haver disputa sem republicanos nem democratas.
Tem gente que vê na Proposta 14 uma forma de democracia pura e há quem veja nela uma ingenuidade que fortalecerá os piores cambalachos. Para ilustrar a confusão, a emenda prevaleceu em 56 dos 58 distritos eleitorais e só foi derrotada nos berços do conservadorismo (Orange) e do liberalismo (San Francisco).
A reforma não vigorará na eleição deste ano.
Como os californianos são considerados excêntricos, vale lembrar que, antes da Proposta 14, em 1978 eles aprovaram a 13. Essa emenda constitucional reduziu e congelou os impostos sobre o patrimônio imobiliário e determinou que só se poderiam aumentar tributos com o voto de dois terços do Legislativo.
Parecia excentricidade de californiano, mas era o prenúncio de uma maré conservadora que dominou o mundo por mais de 20 anos.
Em 1979, Margaret Thatcher tornou-se primeira-ministra da Inglaterra e, no ano seguinte, Ronald Reagan elegeu-se presidente dos Estados Unidos. Quando foi aprovada a Proposta 13, o ministro da Fazenda brasileiro, Mário Henrique Simonsen, queixava-se de que, para autorizar as obras do estágio 3 da siderúrgica Usiminas, foram necessárias 238 assinaturas de ministros. A Usiminas foi privatizada em 1991.

VOTO DILMIN
Brotou um novo derivativo na campanha de José Serra. Depois do voto Dilmasia em Minas Gerais, prefeitos do interior de São Paulo namoram o voto Dilmin. Dilma para presidente e Alckmin para governador. Geraldo Alckmin pode se sentir mais confortável no Palácio do Bandeirantes com Dilma Rousseff no Planalto. Não seria a primeira vez que deixa Serra na chuva.

9%, MAS...
Diante da informação de que o Brasil cresceu 9% no segundo trimestre, dezenas de sábios saudaram a boa-nova temperando-a com conjunções adversativas.
Coisas assim: Cresceu... mas há gargalos na infraestrutura, ... esse vigor não é sustentável, ... aumenta o perigo da inflação. Tudo isso pode ser verdade, mas (e aí vai outra adversativa) os sábios precisam se lembrar de uma tirada do ex-presidente George Bush, o Velho: "Se eu andar sobre as águas, dirão que não sei nadar"."

VOLTA POR CIMA
A casa de leilões Christie's leiloará nas próximas semanas uma "Silver Liz", de Andy Warhol. Espera-se que o quadro chegue a US$ 12 milhões. Outro, maior, valeu US$ 18 milhões em maio passado. Conhece-se uma carta do diretor do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York, datada de 1959, rejeitando uma obra de Warhol, oferecida como presente. Existiria outra, de 1956, pedindo-lhe que fosse buscar uma pintura mandada ao museu, pois não tinham interesse no seu trabalho.

BALANÇO
A política externa de Nosso Guia mostrou sua extensão. Meteu-se num conflito do outro lado do mundo enquanto seu chanceler dava bolo numa reunião da Organização dos Estados Americanos.

O HIZBOLLAH QUER DOMINAR A USP
Os mascarados que ocuparam a reitoria da Universidade de São Paulo não militaram por causa alguma. Quem reivindica, mesmo ocupando um prédio, mostra a cara. Ademais, quando o sindicato dos funcionários-grevistas-invasores disse que liberaria o prédio se a universidade pagasse os dias parados, o que seria um ato de protesto passou a ser um sequestro. Eremildo, o Idiota insiste na validade de seu grito de guerra: "Greve geral até a vitória final, com o pagamento dos dias parados".
Se os funcionários da USP querem fazer uma greve, faltam ao trabalho, paralisam as escolas e pressionam a reitoria. Se um sindicato grita "greve", a categoria não para e a universidade continua funcionando, o movimento fracassou. Uma greve não se fortalece quando, por falta de adesões, resulta numa escalada do conflito, colocando em trabalhadores máscaras de bandidos.
Apanhar da polícia e ocupar faculdades sempre fizeram parte das atividades extracurriculares de muitos estudantes universitários. Como o primeiro sutiã, inesquecíveis e motivo para doces nostalgias. Políticos como José Serra, Antonio Carlos Magalhães e Roberto de Abreu Sodré que, na maturidade, comandaram polícias, lembraram com orgulho do tempo em que eram chamados de baderneiros. Até os generais Arthur da Costa e Silva e Ernesto Geisel orgulhavam-se das encrencas em que se meteram quando estavam na Escola Militar.
Na USP repete-se o conflito dos antropófagos com os canibais: de um lado, invasores mascarados, de outro, um reitor que, como diretor da Faculdade de Direito do largo São Francisco, chamou a tropa de choque da PM para desocupar um diretório acadêmico invadido.

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