A guilhotina
O GLOBO - 28/03/10
A rodada de hoje do Campeonato do Rio tem como ponto alto o confronto entre Vasco e América. Só que os dois não se enfrentam, não jogam entre si. Jogam contra adversários diferentes. Mas, se alguma coisa de relevante ainda está para ser decidida neste segundo turno, a Taça Rio, é exatamente a luta entre América e Vasco por uma das vagas nas semifinais, com o Macaé correndo por fora.
No caso dos dois primeiros, cada um tem adversário mais indigesto do que o outro. O do Vasco é o Fluminense. O do América é o Flamengo. Dois jogos que atraem as atenções.
Ainda mais que o Vasco está de técnico novo, Gaúcho, que treinava os juniores e que recomeça nos profissionais com uma interrogação, quase uma guilhotina, sobre a cabeça: não se sabe se ele é interino, se é titular; se pode ser mantido, se será substituído; se está aprovado, se está sendo testado.
A questão do técnico do Vasco é mais séria do que qualquer outra, por motivos já fartamente analisados aqui: o time não ajuda muito. E tudo isso em jogo, logo à noite, contra um time em tempo de paz, como o Fluminense.
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O Flamengo tem a dura tarefa de bater o América, que está lutando para reconquistar seu lugar no futebol do Rio de Janeiro.
Enquanto torço para ver o Diabo do América infernizando a vida dos quatro grandalhões, como fazia outrora, ando intrigado com o Flamengo, especificamente com o duelo interno entre Petkovic e Vinícius Pacheco.
Vejam só: os dois disputam palmo a palmo uma vaga no time e, no entanto, para mim, jogam em posições e funções bem diferentes. Por que um briga com o outro?
Petkovic joga como um autêntico armador, cérebro de um time. Não é homem de velocidade, nem pode, só costuma se aproximar da área na certa.
Vinicius Pacheco não é armador de time, muito menos cérebro, até por falta do discernimento que sobra em Petkovic. Vinicius Pacheco tem impressionante velocidade.
Petkovic, meus amigos, joga pelo meio, sempre jogou. Vinicius Pacheco joga pelos lados, com versatilidade, para ele tanto faz lado direito ou lado esquerdo.
Seria um esquema bastante ofensivo, sim, fato que foi lembrado por Andrade ao explicar por que não escalava os dois. O argumento de que complica o seu setor defensivo é respeitável.
Mas que, vira e mexe, um técnico do Flamengo, campeão brasileiro, deve — e pode — correr seus riscos, isso também é verdade.
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O Santos de Dorival Júnior, que não é campeão brasileiro, corre riscos. Este Santos está fazendo um bem danado ao futebol brasileiro, campeão ou não.
O craque Tostão escreveu que “nem os times da década de 60 eram tão ofensivos”. Tostão se referia à distribuição em campo e ao espírito dos jogadores. Paulo Vinícius Coelho defendeu essa mesma concepção.
Tostão é mineiro. O que mais me encanta no time do Santos é que ele está encantando também a imprensa paulista, que me dava a impressão (não toda, é claro) de estar cada vez mais enamorada do estilo pragmático, um estilo de força, força bruta até, pouquíssimo brasileiro.
Logo os paulistas, que deveriam se orgulhar dos times brilhantemente técnicos que produziram ao longo de toda a história do futebol brasileiro.
Outro dia, me encantou não apenas o Santos, mas a transmissão do jogo do Santos, feita por Milton Leite e Maurício Noriega.
Os dois botaram o estilo da garotada nas alturas. Alô, São Paulo. O futebol brasileiro está bem aí, aos olhos de todos vocês.
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