sexta-feira, janeiro 29, 2010

GILLES LAPOUGE

A deterioração dos países da União Europeia

O Estado de S. Paulo - 29/01/2010


Cinco países estão provocando suor frio na Europa. Esses cinco países são Portugal, Grécia, Itália, Irlanda e Espanha. Por que tanta inquietação? Eles estão num tal estado de deterioração econômica e financeira que o temor é que declarem falência e fiquem insolventes, colocando em perigo a União Europeia (UE).

Toda manhã, os ministros do Tesouro de outros países se reclinam sobre o leito de dor em que esses cinco se debatem. Examinam sua temperatura, olham a língua, os fazem tossir e lhes dão alguns fortificantes e antibióticos.

É principalmente em torno do leito da Grécia que os especialistas estão reunidos porque esse país está nas últimas, arruinado, abalado por ameaças sociais e que dificilmente poderá fazer face às suas obrigações. Foi obrigado a fazer seu primeiro empréstimo do ano. Todas praças financeiras europeias ficaram em estado de alerta. A Grécia conseguiria se safar, ou capotaria, afundaria? Ela conseguiu. Divina surpresa.

As coisas correram tão bem que o Estado grego conseguiu levantar 8 bilhões, embora esperasse, no melhor dos casos, 5 bilhões. Foi portanto um "balão de oxigênio" para Atenas. Mas que custou caro.

Com efeito, para tomar esse empréstimo, a Grécia vê-se obrigada a pagar juros a uma taxa exorbitante de 6,2%, enquanto a Alemanha, por exemplo, consegue facilmente tomar emprestado pagando apenas 3% de juros.

O pagamento desse empréstimo será ruinoso para a Grécia e vai se acrescentar à montanha de outros pagamentos de dívidas precedentes.

Mas, pelo menos, o espectro da falência do país e de uma ruptura da zona do euro, com o desaparecimento de um dos seus membros, se não desapareceu pelo menos foi afastado no momento.

A Espanha não está tão mal como a Grécia, mas sua aparência não é boa.

Os salários e o preço de custo na Espanha são terrivelmente altos, o que encarece os produtos espanhóis. As exportações estão paralisadas por causa disso. Nesse caso a solução clássica seria a desvalorização.

Mas como desvalorizar se a moeda espanhola faz parte da zona do euro e, portanto, é intocável? A única saída é esta: no lugar de uma desvalorização impossível, será preciso reduzir os salários e os preços, para reencontrar uma competitividade internacional. É o que se chama "desvalorização interna" que obriga o doente a engolir uma famosa dose de "austeridade".

Já se esboçou algum movimento. Algumas pequenas empresas conseguiram adotar algumas medidas, mas as resistências são ainda mais fortes porque na Espanha os salários aumentam conforme a inflação. Ora, a inflação nesse país é mais alta do que na média da União Europeia, o que contribui para manter os salários num patamar muito elevado.

O único método para baixar os salários é demitir os assalariados e recontratá-los por uma remuneração menor. Mas os efeitos dessa medida serão nocivos. Os jovens espanhóis se verão tentados a ir para outros países. Os imigrantes que fazem rodar a máquina espanhola e fizeram a prosperidade do país nestes últimos anos, deixarão a Espanha. Será o início do que os economistas espanhóis chamam de "a espiral do declínio".

No momento, tanto a Grécia, como a Espanha, estão muito enfermas, mas ainda estão com a cabeça fora d" água.

E os outros pacientes? A Irlanda? Ou Portugal? E a Itália? A União Europeia e o euro, não param de tremer.

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