A prole do Conde Dracula
O GLOBO - 17/12/09
A origem histórica de Drácula, o protótipo de todos os vampiros, é o Conde Dracul, um senhor feudal da Transilvânia conhecido pela sua crueldade (seu apelido era “O empalador”, manja só). O primeiro vampiro literário foi criado pelo médico John Polidori, que passava o verão de 1816 à beira do lago de Genebra junto com os poetas Lord Byron e Percy Shelley e a namorada deste, Mary Shelley. No mesmo verão famoso Mary Shelley inventou outro monstro, a criatura do dr. Frankenstein. A invenção da Mary Shelley foi um sucesso, mas o vampiro de Polidori foi esquecido, até Bram Stoker criar o seu Drácula. Para o critico marxista italiano Franco Moretti, os dois monstros nascidos em Genebra simbolizam horrores opostos. Um, a criatura do dr. Frankenstein, feito de partes de camponeses mortos, dos dejetos do feudalismo, representa uma nova forma de vida. Uma classe sem precedentes, com um poder desconhecido, que chega para aterrorizar a burguesia. Drácula representa a classe senhorial, uma aristocracia feudal em decomposição na qual só restaram os vícios – e o gosto por sugar o sangue dos aldeões. Os dois resumem os temores que dominavam o século dezenove, e de um jeito ou de outro ainda dominam o mundo. Existem monstros do dr. Frankenstein mais ameaçadores do que os milhões de miseráveis sem perspectiva da Terra à espera de uma faísca que os levante? Existem sugadores de sangue mais renitentes do que os do capital financeiro internacional?
Claro que nada disto tem a ver com os vampiros na moda, hoje. Ouvi dizer que a próxima tendência entre os jovens será a de dentes caninos postiços. Em algum lugar o Conde Dracul deve estar sorrindo, satisfeito com a sua prole.
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