CORREIO BRAZILIENSE - 10/10/09
Protesto saudita em reunião sobre o clima indica riscos para o petróleo. E para o pré-sal também
A enxurrada de informações e indícios nas últimas semanas sobre o início da decadência do petróleo como o principal insumo da matriz energética mundial por razões geológicas, econômicas e climáticas reúne, desta vez, elementos de convicção para o Congresso atrasar a discussão sobre o marco regulatório do pré-sal. Começam a surgir questões novas que atropelam a conveniência eleitoral do governo.
Não é a primeira vez que se anuncia, prematuramente, o enterro da mais valiosa e cobiçada commodity global, por conta da qual muitos países foram à guerra, uma continua em curso, no Iraque, diversas outras menores estão ativas, governos foram e são derrubados, os EUA patrulham os mares com uma frota de porta-aviões e submarinos maior que a soma de todas as forças navais. Mas agora é diferente.
Se até a Arábia Saudita, maior produtor, exportador e detentor da maior reserva de petróleo do mundo, já escancara preocupação com o futuro de sua única riqueza, não se pode ignorar o debate sobre o tal do “peak oil”. Não devido ao risco de esgotamento, a hipótese central dessa tese polêmica. Outras considerações a motivam.
O que ganha momento é o avanço de energias rivais ao petróleo, a disposição de vários governos de conter as emissões resultantes da queima de materiais fósseis e o interesse da indústria automotiva de se reinventar para ocupar a imensa capacidade ociosa no setor. E o faz anunciando lançamentos em escala de motores híbridos, meio elétrico, meio a gasolina ou diesel, ou 100% elétricos para 2011.
Ao Brasil, empenhado na bem-sucedida matriz energética do álcool, portanto, na vanguarda do fórum das Nações Unidas que vai discutir em dezembro, em Copenhague, com 190 países, um novo tratado global sobre clima, os riscos para o negócio do petróleo são imensos.
A descoberta do pré-sal é solução ou problema, dependendo do rumo que as contingências que hoje assaltam a atividade no mundo vierem a tomar. O governo levou ao Congresso um novo modelo de exploração que projeta investimentos de US$ 117 bilhões apenas pela Petrobras até 2020, além de US$ 400 bilhões para capacitar a indústria local como fornecedora de embarcações e equipamentos. É dinheiro demais para um negócio sujeito a tantas incertezas.
Opep quer compensação
O maior risco depende de quanta seriedade se atribui ao propósito das negociações para reforçar, prorrogar ou substituir o Protocolo de Kyoto, sobre a redução das emissões de carbono, que expira em 2012. O chefe da delegação saudita à reunião realizada esta semana em Bangcoc, Tailândia, a penúltima antes da cúpula de Copenhague, Mohammad al Sabban, não deu sinal de que seu governo tem dúvidas.
Al Sabban condicionou o apoio da Arábia Saudita ao pacto global sobre o clima ao pagamento de um tipo de compensação aos países produtores pela provável redução do consumo de petróleo de 2012 a 2030 — o período de vigência do novo acordo. Não o faria se fosse fantasiosa a redução estimada do consumo de petróleo no mundo.
EUA começam a ceder
As discussões no âmbito da conferência organizada pela ONU tomam como ponto de partida a necessidade de evitar que a temperatura da Terra aumente dois graus Celsius nas próximas décadas. Isso exigiria o corte de 25% a 40% das emissões de carbono em dez anos sobre os níveis de 1990. Os países ricos propõem até 23%. Nos EUA, o único que não ratificou o protocolo de Kyoto, o Senado discute projeto, apoiado pelo presidente Barack Obama, que reduz os gases-estufa em 20% até 2020 e 80% até 2050. E a Câmara aprovou outra versão, que prevê o corte de 17% em relação aos níveis de 2005. O grosso dessa economia seria em cima da queima de petróleo e carvão mineral.
“Peak Oil” até 2030
Estudo revelado em Bangcoc pela Agência Internacional de Energia, IEA, na sigla em inglês, estima que a aprovação de novas metas de emissões implicará ao cartel da Opep ainda um adicional de US$ 23 trilhões de receitas entre 2008 e 2030 em relação a 1985-2007. O saudita Al Sabban contestou. O estudo da IEA, disse à agência Associated Press, seria “tendencioso”. Cálculos próprios da Opep dariam apenas à Arábia Saudita uma perda anual de US$ 19 bilhões a partir de 2012. “Nós estamos entre os países mais vulneráveis’, Al Sabban se queixou. “Isto é muito sério. Estamos num processo de diversificar nossa economia, mas levará tempo.” A questão é essa, e domingo voltaremos ao tema: se o maior produtor de petróleo do mundo investe para cortar até 2030 a sua dependência, seria o caso de o Brasil se jogar de cabeça no pré-sal? E com dinheiro público?
Lobby das petroleiras
Estranho é que o estudo da Agência Internacional de Energia sobre o impacto da redução das emissões de gases-estufa sobre a economia do petróleo e os protestos do chefe da delegação saudita à cúpula climática das Nações Unidas, marcada para 7 a 18 de dezembro, não tiveram repercussão. Nos EUA se entende: lá, é intenso o lobby das petroleiras para barrar no Congresso as iniciativas mais radicais, como uma tributação punitiva da gasolina para custear os programas de substituição do petróleo importado. Mas também foram mínimas as repercussões aqui. O Congresso deveria ir fundo nessa questão.
Protesto saudita em reunião sobre o clima indica riscos para o petróleo. E para o pré-sal também
A enxurrada de informações e indícios nas últimas semanas sobre o início da decadência do petróleo como o principal insumo da matriz energética mundial por razões geológicas, econômicas e climáticas reúne, desta vez, elementos de convicção para o Congresso atrasar a discussão sobre o marco regulatório do pré-sal. Começam a surgir questões novas que atropelam a conveniência eleitoral do governo.
Não é a primeira vez que se anuncia, prematuramente, o enterro da mais valiosa e cobiçada commodity global, por conta da qual muitos países foram à guerra, uma continua em curso, no Iraque, diversas outras menores estão ativas, governos foram e são derrubados, os EUA patrulham os mares com uma frota de porta-aviões e submarinos maior que a soma de todas as forças navais. Mas agora é diferente.
Se até a Arábia Saudita, maior produtor, exportador e detentor da maior reserva de petróleo do mundo, já escancara preocupação com o futuro de sua única riqueza, não se pode ignorar o debate sobre o tal do “peak oil”. Não devido ao risco de esgotamento, a hipótese central dessa tese polêmica. Outras considerações a motivam.
O que ganha momento é o avanço de energias rivais ao petróleo, a disposição de vários governos de conter as emissões resultantes da queima de materiais fósseis e o interesse da indústria automotiva de se reinventar para ocupar a imensa capacidade ociosa no setor. E o faz anunciando lançamentos em escala de motores híbridos, meio elétrico, meio a gasolina ou diesel, ou 100% elétricos para 2011.
Ao Brasil, empenhado na bem-sucedida matriz energética do álcool, portanto, na vanguarda do fórum das Nações Unidas que vai discutir em dezembro, em Copenhague, com 190 países, um novo tratado global sobre clima, os riscos para o negócio do petróleo são imensos.
A descoberta do pré-sal é solução ou problema, dependendo do rumo que as contingências que hoje assaltam a atividade no mundo vierem a tomar. O governo levou ao Congresso um novo modelo de exploração que projeta investimentos de US$ 117 bilhões apenas pela Petrobras até 2020, além de US$ 400 bilhões para capacitar a indústria local como fornecedora de embarcações e equipamentos. É dinheiro demais para um negócio sujeito a tantas incertezas.
Opep quer compensação
O maior risco depende de quanta seriedade se atribui ao propósito das negociações para reforçar, prorrogar ou substituir o Protocolo de Kyoto, sobre a redução das emissões de carbono, que expira em 2012. O chefe da delegação saudita à reunião realizada esta semana em Bangcoc, Tailândia, a penúltima antes da cúpula de Copenhague, Mohammad al Sabban, não deu sinal de que seu governo tem dúvidas.
Al Sabban condicionou o apoio da Arábia Saudita ao pacto global sobre o clima ao pagamento de um tipo de compensação aos países produtores pela provável redução do consumo de petróleo de 2012 a 2030 — o período de vigência do novo acordo. Não o faria se fosse fantasiosa a redução estimada do consumo de petróleo no mundo.
EUA começam a ceder
As discussões no âmbito da conferência organizada pela ONU tomam como ponto de partida a necessidade de evitar que a temperatura da Terra aumente dois graus Celsius nas próximas décadas. Isso exigiria o corte de 25% a 40% das emissões de carbono em dez anos sobre os níveis de 1990. Os países ricos propõem até 23%. Nos EUA, o único que não ratificou o protocolo de Kyoto, o Senado discute projeto, apoiado pelo presidente Barack Obama, que reduz os gases-estufa em 20% até 2020 e 80% até 2050. E a Câmara aprovou outra versão, que prevê o corte de 17% em relação aos níveis de 2005. O grosso dessa economia seria em cima da queima de petróleo e carvão mineral.
“Peak Oil” até 2030
Estudo revelado em Bangcoc pela Agência Internacional de Energia, IEA, na sigla em inglês, estima que a aprovação de novas metas de emissões implicará ao cartel da Opep ainda um adicional de US$ 23 trilhões de receitas entre 2008 e 2030 em relação a 1985-2007. O saudita Al Sabban contestou. O estudo da IEA, disse à agência Associated Press, seria “tendencioso”. Cálculos próprios da Opep dariam apenas à Arábia Saudita uma perda anual de US$ 19 bilhões a partir de 2012. “Nós estamos entre os países mais vulneráveis’, Al Sabban se queixou. “Isto é muito sério. Estamos num processo de diversificar nossa economia, mas levará tempo.” A questão é essa, e domingo voltaremos ao tema: se o maior produtor de petróleo do mundo investe para cortar até 2030 a sua dependência, seria o caso de o Brasil se jogar de cabeça no pré-sal? E com dinheiro público?
Lobby das petroleiras
Estranho é que o estudo da Agência Internacional de Energia sobre o impacto da redução das emissões de gases-estufa sobre a economia do petróleo e os protestos do chefe da delegação saudita à cúpula climática das Nações Unidas, marcada para 7 a 18 de dezembro, não tiveram repercussão. Nos EUA se entende: lá, é intenso o lobby das petroleiras para barrar no Congresso as iniciativas mais radicais, como uma tributação punitiva da gasolina para custear os programas de substituição do petróleo importado. Mas também foram mínimas as repercussões aqui. O Congresso deveria ir fundo nessa questão.
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